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‘INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL JÁ É REALIDADE NA CADEIA AUTOMOTIVA’

Diretor executivo e sócio no Boston Consulting Group (BCG) fala sobre as diversas possibilidades de uso dessa tecnologia e como ela já tem ajudado a acelerar os processos nesse setor

A indústria automotiva tem passado por enormes transformações nos últimos anos: mudança de matriz energética, eletrificação, aprimoramento de veículos conectados, a mobilidade compartilhada, automação, entre outras.

Soma-se a isso tudo a inteligência artificial generativa (IAG), tecnologia que já está sendo usada no segmento, com potencial de acelerar ainda mais o rumo das mudanças. “Temos estudado o tema no Boston Consulting Group (BCG), e já identificamos mais de 70 casos em que a IAG pode ser aplicada ao longo da cadeia”, diz Masao Ukon, diretor executivo e sócio do BCG.

Confira, a seguir, qual o potencial do uso dessa tecnologia nesse segmento na visão do especialista.

Dentro dessa cadeia, como a IAG tem avançado?

Esse processo está muito rápido, porque, principalmente no setor automotivo, a cadeia é longa e complexa, e o tema do software tem crescido muito em importância. Talvez os investimentos em software sejam hoje os maiores desafios e oportunidades da indústria, e isso tem sido muito beneficiado pela tecnologia da inteligência artificial.

Como a IAG beneficia esse segmento?

O exemplo mais visível é o uso da inteligência artificial generativa para a criação de imagens. Então, podemos utilizar plataformas para isso, como para o desenho de peças, de uma carroceria, por exemplo. Nesse processo, é necessário produzir um número enorme de peças, testando variáveis como resistência, peso, produção, um processo interativo e longo.

Nesse sentido, o uso da tecnologia já tem trazido a redução do tempo para que essas peças sejam feitas, além do aumento da performance, amplificando o potencial do designer e ajudando a criar uma peça melhor, processo que pode ser aplicado no carro todo.

Que empresas já tem usado esses recursos?

Diferentes montadoras de veículos e empresas do setor já anunciaram avanços na integração de seus sistemas com IAG. A Continental, em parceria com o Google, recentemente divulgou o desenvolvimento de um computador de bordo de alto desempenho que, por meio da IAG, permite ao motorista a interação com o veículo para obter as mais diversas informações ao longo de sua rota e destino, como pontos turísticos, históricos e hotéis, por exemplo.

Já a Denza, joint venture de veículos elétricos de luxo entre BYD e Mercedes Benz, está aplicando modelos de IAG para elevar a experiência de seus consumidores, que podem explorar diferentes configurações dos veículos em ambientes 3D interativos com diferentes planos de fundo de forma instantânea, aumentando o potencial de personalização.

Pensando em veículos autônomos, a Tesla, por exemplo, está potencializando seu sistema de piloto automático com modelos de IAG para uma melhor compreensão e aprendizagem com as diferentes situações de condução.

Há estimativa de redução de tempo com o uso de IAG?

Prevemos, no geral, uma diminuição do tempo em até 10 vezes na comparação ao que hoje os processos levam. Nas campanhas criativas de marketing é possível acelerar demais e eliminar as tarefas repetitivas, as que possuem menor valor agregado, e deixando as pessoas mais focadas em assegurar qualidade do trabalho, supervisionando o que está sendo feito, porque é importante lembrar que essas ferramentas não são perfeitas.

Com as mudanças nos veículos, como fica a manutenção?

Eu entendo que, como as peças são físicas, vão continuar precisando de manutenção, como acontece hoje. Aqui a eletrificação e a conectividade vão ter grande impacto, fazendo com que o PROCESSO DE pós-venda seja diferente.

Mas do lado da IAG, não sei se isso mudará tanto, mas vejo possibilidades como uso de um chatbot, ou um chatGPT específico para esse fim, que pode ajudar o profissional a diagnosticar o problema e encontrar a solução.

Os próprios manuais de uso dos veículos, por exemplo, podem ser criados de forma mais simples, mais eficientes e com as informações mais buscadas.

Leia também: Quais são os ‘gadgets’ das cidades inteligentes?

E qual o papel dos humanos nesse ‘novo mundo’?

O código em si, a tecnologia, o algoritmo, são importantes. Mas a parte principal, o que irá criar valor, é a preparação das pessoas, dos talentos nas empresas e seus processos, para trabalhar com a inteligência artificial.

Nossa experiência é tão importante quanto criar os algoritmos e ter ferramental adequado, somos fundamentais para gerenciar os riscos e maximizar os resultados.

Toda mudança tecnológica sempre traz ajustes e necessidade de adaptações. Mas acredito que para a implementação dessa tecnologia seja fundamental o trabalho das pessoas, supervisionando, assegurando qualidade e garantindo segurança. E, muito importante, esses recursos tecnológicos podem assumir tarefas repetitivas, liberando o tempo das pessoas para as estratégicas.

E essa capacitação já está acontecendo?

Sim, já vejo esse processo sendo implementado. O primeiro passo é entender quais são as oportunidades e o potencial, depois quais são as fontes de informação que podem ser usadas, depois, desenhar a fundação tecnológica, quais serão as plataformas tecnológicas, ou qual será o caminho.

Porque, de maneira geral, temos os modelos mais públicos – onde usamos apps abertos, como o ChatGPT4 – mas que tem questões de privacidade e de segurança. E temos plataformas fechadas, privados, de modelos da empresa, com potencial mais limitado por serem dados da empresa, mas também mais seguros. Definir esse caminho é o passo que muitas companhias estão dando hoje e, depois dele, é preciso partir para o treinamento das pessoas.

Fonte: Mobilidade Estadão

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