Ninguém faz placemaking sozinho, e o processo não pode depender exclusivamente de técnicos.
Quando projetamos espaços públicos, nos são dados os elementos mais importantes: jardins, fontes, bancos… Mas acredite, nenhum deles será suficiente para construir um bom lugar se ignorarmos um processo chamado placemaking.
Para considerar um ambiente agradável, ele deve nos oferecer possibilidades de encontro, de convívios e interações com outras pessoas. Lembra-se da última vez em que se acomodou numa praça e nem sentiu o tempo passar? Estamos sempre em busca de lugares que nos inspiram e estimulam nossa permanência e, para isso, é necessário um processo de construção de relação e identificação com o espaço.
Praças, parques, ruas e calçadas podem ser muito mais do que áreas de circulação; eles podem ser o coração de uma comunidade, onde eventos acontecem, onde amizades se formam e onde laços sociais são fortalecidos.
Para esses espaços se tornarem o palco das nossas melhores memórias, desenvolvemos o placemaking. Não é algo fácil de ser criado, nem rápido. Mas às vezes surge sem nem estarmos esperando.
O desafio inicia-se na própria palavra, no qual a tradução implica em discussões sob diferentes linhas de raciocínio: sendo o placemaking o nome do processo colaborativo de criar-se o senso local de comunidade, traduzi-lo como “urbanismo comunitário” seria pretensamente técnico? Por outro lado, seria demasiada abstração chamá-lo de processo de “criação de lugares”?
De qualquer forma, as complexas relações entre humanos e lugares tem seu próprio tempo de maturação e identificação, mas a parte mais bacana é que podemos, sim, conduzir e catalisar esse processo.
O primeiro passo é entender que placemaking engloba as diversas ações que procuram assegurar que o espaço onde as pessoas vivem lhes oferece as melhores hipóteses possíveis de prosperar e realizar o seu potencial na vida. Muito além do planejamento urbanístico, esse processo fortalece possibilidades de inclusão social e acaba por fomentar novos negócios, que encontram suporte na própria vizinhança. Colocar a experiência humana no centro do planejamento não tem faixa salarial nem posição geográfica: territórios que sofrem com guerras ou catástrofes naturais vêm apostando na construção do placemaking para aumento da resiliência e suporte comunitário.
Ninguém faz placemaking sozinho, e o processo não pode depender exclusivamente de técnicos. O processo de criação de espaços vibrantes e funcionais deve ser conduzido pelas próprias pessoas que habitam esses lugares, retroalimentando a ideia de que cada cidadão tem o poder de transformar sua própria comunidade.
Então, o que nós, experts em cidades, podemos fazer?
Podemos dar espaço e trazer à consciência o papel de protagonismo da comunidade, seja por demandas sociais ou simplesmente para valorizar um empreendimento imobiliário e requalificar um núcleo urbano central.
Experiências como os projetos “Praças Vivas”, eventos de rua e projetos de extensão universitária de caráter urbanístico mostram-se animadoras, com a promoção de atividades socioculturais e vivências públicas. Também se ressalta a atuação das associações comerciais, com promoções coordenadas, eventos e feiras; as governanças temáticas, apoiadas pela sociedade civil organizada, associações de bairro e as empresas do terceiro setor, que têm capacidade de articular projetos unindo o Poder Público e a iniciativa privada.
Se você é técnico em cidades ou alguém que queira construir uma cidade melhor, procure (ou crie você mesmo!) uma associação, grupo, governança ou conselho engajado em promover espaços vivos. Garanto que o esforço vale a pena, e que pode mudar a realidade de um bairro inteiro.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.