Entre o ciberespaço e as ruas, como a tecnologia redefine o combate ao crime e desafia a segurança pública no Brasil
A tecnologia tem se revelado uma aliada crucial no combate ao crime em diversas frentes. No Brasil, a mudança no panorama criminal é evidente: enquanto os roubos à mão armada vêm apresentando queda, os crimes cibernéticos crescem em ritmo alarmante, consolidando o país como vice-campeão mundial nesse tipo de delito. Segundo dados recentes, a cada 1 minuto e 52 segundos, um novo caso de estelionato eletrônico é registrado. Esse cenário exige respostas rápidas e integradas das autoridades, tornando a tecnologia uma das principais armas contra o avanço da criminalidade.
Os criminosos de hoje não se escondem apenas nas ruas, mas também nas redes. Eles utilizam inteligência artificial, softwares de automação e engenharia social para aplicar golpes em larga escala. Um fenômeno particularmente preocupante é o uso dessas tecnologias de dentro dos presídios, onde detentos, com acesso indevido a celulares e sistemas digitais, conseguem ligar para milhares de pessoas simultaneamente, utilizando vozes sintéticas e sistemas automatizados para simular centrais bancárias, empresas ou familiares. Esses golpes, cada vez mais convincentes, demonstram como a criminalidade se sofisticou e se aproveita dos mesmos avanços tecnológicos usados pelo Estado.
Esse paradoxo — de a tecnologia ser tanto uma ferramenta de defesa quanto de ataque — escancara a necessidade de investimentos contínuos em inteligência e segurança digital. É preciso não apenas aprimorar os sistemas de rastreamento e monitoramento, mas também desenvolver políticas eficazes para bloquear a comunicação ilegal em unidades prisionais, evitando que o crime se reproduza a partir do cárcere.
Por outro lado, quando bem empregada, a tecnologia tem produzido resultados expressivos. Um exemplo de destaque é o Programa Smart Sampa, implantado na cidade de São Paulo, que utiliza câmeras inteligentes com reconhecimento facial integradas a bancos de dados da Secretaria de Segurança Pública. Durante o carnaval passado, o sistema foi responsável pela prisão de dezenas de foragidos da Justiça, identificados em meio a grandes aglomerações. A experiência comprova que o uso ético e eficiente da tecnologia pode ampliar significativamente a capacidade operacional das forças de segurança e reduzir riscos em ações de campo.
Ao mesmo tempo em que o poder público avança nesse processo de modernização, os criminosos também se mostram cada vez mais ousados e bem equipados. A recente Operação Contenção, realizada no Rio de Janeiro, escancarou o nível de preparo das facções. Durante os confrontos, foram identificados drones equipados com dispositivos para o lançamento de granadas, um recurso altamente moderno e letal, utilizado para atacar as forças policiais. O episódio reforça que o enfrentamento à criminalidade organizada exige atualização constante, treinamento especializado e investimentos em contramedidas tecnológicas de alta complexidade.
Entretanto, é essencial reconhecer que o uso indiscriminado da tecnologia traz desafios éticos e sociais. A expansão da inteligência artificial em processos de vigilância e a coleta massiva de dados geram debates sobre privacidade, segurança e controle social. O equilíbrio entre eficiência policial e respeito às liberdades individuais deve ser permanente e transparente, com regras claras e fiscalização institucional.
O conceito de “rede de segurança” se aplica bem a esse contexto: cada camada de proteção — seja o monitoramento por câmeras, a proteção de dados pessoais, ou a educação digital da população — forma uma teia que dificulta a ação dos criminosos. Contudo, a cultura de segurança ainda é frágil no Brasil, onde a exposição excessiva de informações nas redes sociais e a confiança ingênua em comunicações digitais tornam as pessoas alvos fáceis de fraudes.
A tecnologia é uma poderosa aliada na prevenção e no combate ao crime, mas deve ser usada com sabedoria, ética e responsabilidade. A segurança pública moderna é construída em parceria: entre Estado, instituições e cidadãos. Somente ao investir em inovação, qualificação e cultura de proteção digital poderemos transformar o Brasil em uma sociedade mais segura — tanto no mundo real quanto no virtual.
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