A ideia de cobrar pelo congestionamento da cidade já tinha sido defendida por Janette Sadik-Khan, Comissária de Transportes de Nova York entre 2007 e 2013.
Em 5 de janeiro de 2025, Nova York tornou-se a primeira cidade dos Estados Unidos a adotar um sistema de pedágio urbano. Agora, quem quiser o privilégio de se espremer com seu carro nas áreas mais movimentadas de Manhattan — já abundantes em opções de transporte coletivo — pagará uma tarifa proporcional ao espaço que ocupa e ao horário em que circula.
A meta? Reduzir em 10% o trânsito automotivo e destinar os recursos arrecadados para melhorar o transporte coletivo, um tanto mais sustentável do que um SUV de oito cilindros atravancando a 5ª Avenida. Com o metrô custando US$ 2,90 e as taxas do pedágio variando entre US$ 1,05 e US$ 9, a escolha parece óbvia — pelo menos para quem faz contas.
A ideia de cobrar pelo congestionamento da cidade já tinha sido defendida por Janette Sadik-Khan, Comissária de Transportes de Nova York entre 2007 e 2013. Na época, no entanto, sua cruzada pela racionalidade esbarrou em instâncias políticas mais altas e menos dispostas a ceder privilégios. Afinal, questionar o status quo é como cutucar um dragão adormecido com um palito de dente. O pedágio urbano, então, ficou engavetado.
Mas agora, Nova York reformulou a proposta e conta com mais tecnologia para aferir os efeitos da medida, como o Congestion Pricing Tracker, um monitoramento em tempo real desenvolvido pela Brown University para acompanhar o impacto da medida. Colete dados desde o início e de forma rigorosa, e a resistência ao progresso perde um dos seus argumentos favoritos — a falta de evidências.
E sabe o que é ainda mais interessante? Esse modelo nova-iorquino poderia inspirar uma nova onda de colaborações entre empresas de tecnologia, ONGs, prefeituras e universidades. Imagine empresas criando plataformas sofisticadas para medir o impacto de políticas de mobilidade, ONGs fiscalizando e amplificando os resultados, e universidades com seus estudantes participando de projetos de extensão que analisam o antes e depois dessas intervenções.
Aliás, falando em extensão, a nova exigência do MEC de que 10% da carga horária dos cursos de graduação seja dedicada a atividades extensionistas parece um encaixe perfeito. Que tal envolver os futuros urbanistas, engenheiros e cientistas de dados na avaliação de calçadas, ciclovias e corredores de ônibus? Afinal, medir impacto é mais do que contar bicicletas: é entender se a cidade está ficando mais segura, acessível e, quem sabe, até mais feliz.
Olhando para o Brasil, ainda parecemos presos no básico (lembre-se aqui da nossa última sessão). Implantar uma ciclovia ou faixa de ônibus ainda causa tanto furor que, quando finalmente sai do papel, é motivo de festa. Mas será que, enquanto celebramos, não estamos perdendo a chance de mensurar o que realmente está funcionando? Porque, sejamos francos: quando uma ciclofaixa é removida sob o argumento de “falta de demanda”, a pergunta certa deveria ser: alguém se deu o trabalho de medir a demanda corretamente?
Reescrever as regras da mobilidade urbana é complexo e exige mais do que boas intenções. É preciso evidências, persistência e, por que não, um pouco mais de ousadia. Afinal, a cidade do futuro não se constrói na base de achismos, mas sim de dados bem coletados e decisões corajosas.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.