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Como a IA consegue prever decisões humanas

Modelo de inteligência artificial conseguiu acertar em mais de 60% dos casos durante teste psicológico. Será que ele pode fazer o mesmo na vida real?

A inteligência artificial (IA) na forma de modelos de linguagem parece ser capaz de descrever cada vez melhor o comportamento humano. Mas será que esses modelos de IA também são capazes de prever decisões humanas?

Uma equipe internacional de pesquisa do Institute for Human-Centered AI do Centro Helmholtz de Munique quis descobrir e desenvolveu o novo modelo de linguagem Centaur.

A equipe usou como base um modelo de linguagem de código aberto da empresa Meta AI. Em seguida, os pesquisadores programaram a IA do Centaur com dados de 160 experimentos psicológicos.

Neles, cerca de 60 mil pessoas tiveram que realizar determinadas a tarefas. Por exemplo, elas foram solicitadas a categorizar objetos ou a tomar decisões sobre jogos de azar.

Dez milhões de decisões como treinamento

No total, o conjunto de dados do Centaur compreende mais de 10 milhões de decisões. A IA foi treinada com 90% dos dados dos resultados.

Os resultados dos 10% restantes permaneceram desconhecidos para ela. Os pesquisadores então usaram esses dados para testar seu novo modelo de linguagem: será que o Centaur seria capaz de prever o comportamento das pessoas que realizaram os testes?

O resultado: o modelo de IA foi capaz de prever as decisões tomadas com uma precisão de até 64% em alguns casos. O Cenatur também apresentou bons resultados quando a configuração do teste foi ligeiramente alterada, em outras palavras, quando foi solicitado a fazer previsões sobre situações para as quais não havia sido especificamente treinado.

‘Empresas usam IA para prever nossas preferências’

A novidade do Centaur é que a IA pode ser aplicada a “dados comportamentais”, diz Clemens Stachl, diretor do Instituto de Ciência e Tecnologia Comportamental da Universidade de St. Gallen. “Isso foi alcançado com a tradução dos resultados de experimentos clássicos sobre tomada de decisões para a linguagem.”

Modelos de IA como o Centaur também poderiam ser usados além das ciências sociais e comportamentais, diz Stachl. “Por exemplo, onde quer que o comportamento humano precise ser analisado e previsto, como em compras, educação ou no setor militar”, afirma.

O cientista comportamental considera que uma aplicação prática é óbvia, pois esse tipo de modelo de IA foi desenvolvido pela indústria. O Centaur também usa a arquitetura básica do Google e a base pré-treinada da Meta.

“Podemos supor que as grandes empresas de tecnologia já estejam usando modelos semelhantes para prever nosso comportamento e nossas preferências de tomada de decisão, por exemplo, ao fazermos compras on-line ou usarmos as mídias sociais.”

Stachl cita como exemplos o modelo de linguagem ChatGPT e a plataforma de mídia social Tiktok.

“Esses modelos agora são muito bons – pense, por exemplo, em como o Tiktok sugere vídeos para manter os usuários no aplicativo pelo maior tempo possível.”

IA deveria mesmo ser capaz de interpretar comportamento humano?

O modelo Centaur e os resultados do estudo devem ser vistos principalmente como uma contribuição para a pesquisa básica, diz o cientista comportamental Stachl. Modelos desse tipo poderiam, em princípio, ajudar a resolver problemas sociais complexos, por exemplo, no setor de saúde.

“Ao mesmo tempo, porém, há o risco de que eles nos tornem cada vez mais previsíveis e levem a uma forma de dependência digital ou até mesmo à ‘escravidão digital’.” Nosso consumo diário de mídia e o uso de tecnologias digitais produzem novos dados comportamentais todos os dias, o que contribui para o aprimoramento desses modelos, segundo Stachl.

Para o cientista comportamental, lidar com essa tecnologia é uma questão que “nossa sociedade como um todo deve responder. No futuro, não só a ciência, mas também juristas e tomadores de decisões políticas em particular, serão chamados a dar mais atenção a essa questão.”

Fonte: G1

Por que o suco de laranja é tão importante para a economia do Brasil — e como Trump ameaça esse setor

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O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros acendeu o sinal de alerta entre os exportadores de suco de laranja.

Com produção em queda nos EUA, o Brasil se tornou o principal fornecedor para o mercado americano — e também para o resto do mundo. Mas a tarifa pode afetar preços, reduzir exportações e ameaçar empregos ligados ao setor.

Juntos, os países da União Europeia foram o principal destino do suco da fruta, representando 51,4% das exportações do produto entre julho de 2024 e junho de 2025, informou a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos).

Mas os Estados Unidos sozinhos representam 41,7% deste mercado.

O Estado de São Paulo concentra a produção brasileira: responde por 78% da produção nacional de laranja e concentra mais de 80% da produção de suco da fruta.

O impacto do tarifaço nas exportações do suco de laranja e outros setores industriais fez até o governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atenuar seu discurso. O Estado representa quase um terço das exportações brasileiras aos EUA.

Tarcísio, em sua primeira reação ao anúncio de Trump em 12 de julho, culpou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o petista colocou sua “ideologia acima da economia”.

“Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil”, escreveu no X. “A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema.”

Dois dias depois, o governador, que já usou o boné vermelho Make America Great Again (Torne a América Grande Novamente) de Trump, afirmou que a questão da sobretaxa dos produtos brasileiros demanda “união de esforços e sinergia” e pode ser resolvida se a política for deixada de lado.

“A gente precisa estar de mãos dadas agora para resolver, deixar a questão política de lado”, disse em entrevista coletiva no sábado (12/7), após um evento da agenda no município de Cerquilho.

O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), deve se reunir com representantes de diversos setores possivelmente afetados — entre eles, produtores de suco de laranja.

Alckmin anunciou que terá reuniões com representantes de ao menos 14 setores da indústria e do agronegócio nesta terça-feira (15/7), como parte do trabalho de um comitê interministerial a ser criado para responder ao tarifaço de Trump.

O Brasil começou a exportar suco de laranja nos anos 1980 e, já na década seguinte, se consolidou como o maior fornecedor mundial do produto. Hoje, o país responde pela maior parte da laranja processada consumida no mundo.

“São Paulo e Flórida são as grandes regiões produtoras de suco de laranja comercial”, explica a professora Margarete Boteon, pesquisadora da área de citros no Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.

“Nos anos 1990, o Brasil tem um aumento de exportação muito grande. A Flórida também cresce a produção, mas muito mais voltada para o mercado doméstico.”

Nas últimas décadas, no entanto, os Estados Unidos passaram a depender das importações do Brasil. O motivo é uma doença bacteriana chamada greening dos citros, também conhecida como Huanglongbing (HLB), com primeiro registro em 2005 e que devastou a produção na Flórida nos anos seguintes.

“É uma doença que não tem cura e que acaba com os pomares de laranja. Ou você arranca e renova, ou eles definham. Também existe no Estado de São Paulo. Só que a Flórida teve uma queda muito grande da produção nos últimos 10 anos por causa dessa doença, e o Brasil conseguiu ser resiliente.”

Com a HLB, a Flórida deixou de ser autossuficiente — mesmo com um mercado interno menor. Já o Brasil não só atende o mercado doméstico como exporta para os Estados Unidos, México e, sobretudo, para a União Europeia — hoje, seu maior cliente.

Nos primeiros quatro meses de 2025, o Brasil representou 68% das importações de suco de laranja dos Estados Unidos.

Tarifa de 10% já é alta; a de 50% pode ser devastadora

Em abril, os EUA impuseram uma tarifa extra de 10% sobre produtos brasileiros, incluindo o suco de laranja. Mas ainda é cedo para medir os efeitos reais da sobretaxa, , diz Boteon.

“Você não tem como avaliar de forma isolada o impacto da tarifa porque, quando ela começou a ser aplicada, o Brasil estava com um déficit muito grande de suco, e os Estados Unidos também estavam com estoques muito baixos. Dificilmente você teria algum efeito ali que conseguiria captar no curto prazo, dado o déficit de oferta.”

Segundo ela, só a partir do segundo semestre, com a reposição dos estoques, será possível observar melhor os impactos sobre preços e custos.

No entanto, se concretizada a partir de 1º de agosto, a tarifa de 50% tende a ter efeitos imediatos.

“O impacto dos 50% seria óbvio e claro. Sempre colocamos incertezas, porque ninguém sabe se vai ser 50% mesmo ou é uma jogada”, diz. “A grande questão é: a que preço?”, diz a professora, que afirma que a sobretaxa, ao encarecer o produto, vai tornar o suco brasileiro menos competitivo.

“Se o americano compra uma tonelada de suco de laranja por US$ 3 mil, ele vai pagar quase US$ 2 mil em tarifas”, calcula, já que a sobretaxa é além da tarifa que o produto brasileiro já paga de US$ 415 por tonelada.

“Fica mais caro nos Estados Unidos, isso causa um efeito inflacionário, cai a demanda, por sua vez, cai a compra aqui. Então é um efeito negativo. Isso não tenha dúvida”, afirma. “O que pode acontecer? A indústria americana ficar ainda menor se não comprar suco, porque pode ficar caro demais. E isso tem um impacto brutal sobre os negócios brasileiros.”

Mas, ao mesmo tempo, os Estados Unidos dependem do suco brasileiro e não têm outra fonte no curto prazo para abastecer seu mercado, analisa a pesquisadora da Esalq/USP.

A depender da reação do mercado, os efeitos podem ser recessivos para o setor exportador brasileiro, diz o professor e pesquisador do FGVAgro, Cícero Lima.

“O suco de laranja já tem uma tarifa efetiva relativamente alta. Mesmo assim, a gente conseguiu espaço no mercado. A produção brasileira vem atendendo essa demanda americana. Agora, com uma tarifa de 50% em cima desses 10% que a gente já tem, realmente as condições ficam bem difíceis.”

Demanda interna não absorve excedente

Mesmo que o Brasil deixe de exportar parte de sua produção, é pouco provável que isso reduza os preços no mercado interno. Já uma compensação das exportações para outros mercados é possível, mas não imediata, afirma Cícero Lima.

“Isso não é uma relação um para um. Pode ser que eu já esteja com a minha demanda de suco de laranja na União Europeia saturada. Então não significa que, a cada litro que os Estados Unidos deixarem de comprar de mim, eu vou conseguir colocar na União Europeia. Se a União Europeia e a China já estiverem com a sua demanda saturada, eu não consigo entrar com esse produto lá.”

E, ao contrário do que se imagina,um excedente não deve baratear o produto para o consumidor brasileiro, argumenta o pesquisador do FGV-Agro.

“Se sou produtor de laranja e não estou conseguindo vender para a exportação, e o meu mercado interno já está atendido, eu não vou vender aqui dentro, porque o preço vai despencar, já que a oferta estaria muito maior do que a demanda”, afirma.

“Então vou deixar minha produção ociosa, de fazer investimentos e de contratar mão de obra. Isso gera um círculo vicioso prejudicial para o Brasil.”

Do lado da demanda, ele afirma que o consumo doméstico tem pouco espaço para crescer. “A substituição do chá, água, refrigerante ou café pelo suco de laranja é muito baixa. Você pode aumentar a renda, o preço pode cair um pouco, mas as famílias não trocam.”

Neste cenário, Lima aponta que o governo brasileiro poderia acelerar negociações com outros mercados.

“O atual governo pode criar canais que facilitem exportação com outros mercados, por exemplo, com a União Europeia, para conseguir colocar o maior volume de suco de laranja lá.”

Mas há limites da atuação, já que qualquer política de proteção às exportações pode ser interpretada como dumping — ou seja, a prática de vender produtos em um mercado estrangeiro a um preço inferior de seu mercado doméstico ou ao seu custo de produção.

“O que o governo pode fazer é promover os nossos produtos em outros mercados. E, para isso, temos ferramentas. Temos a Apex [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos]. Temos o próprio Ministério de Relações Exteriores. Temos o acordo Mercosul-União Europeia, que já foi assinado e está em processo de regulamentação.”

Outros acordos também poderiam ser retomados. “Temos acordos adormecidos desde 2023, com Canadá, Reino Unido e a Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático]. São negociações que vinham sendo aprofundadas e que ficaram paradas. Podemos fazer o dever de casa e colocar isso tudo em fase de implementação.”

Impacto também é nos EUA

A sobretaxa deve prejudicar principalmente os exportadores brasileiros, mas seu efeito colateral não poupa os Estados Unidos, diz a professora Margarete Boteon.

Ela explica que o suco de laranja comprado do Brasil não chega engarrafado às prateleiras dos supermercados americanos: ele entra como insumo em uma cadeia produtiva que envolve desde o envase em fábricas locais até o emprego em centros de distribuição.

“Não é um celular, um produto pronto. A gente vende um insumo que entra numa indústria americana. Então, se colapsar aqui, colapsa lá também”, alerta. “Esse suco vai para fábricas da Coca-Cola, para grandes engarrafadoras. Gera emprego, paga impostos, movimenta a indústria lá. Não tem substituto no curto prazo.”

Para ela, diferentemente de outras commodities como o café, que podem ser compradas em mais mercados, a laranja tem uma oferta concentrada. “Não existe outro player com capacidade para substituir o Brasil em volume e qualidade no curto prazo.”

Fonte: BBC

Governo publica decreto da Lei da Reciprocidade após tarifaço de Trump

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Regulamentação estabelece mecanismos para que o governo possa buscar uma resposta à eventual taxação de produtos brasileiros

O governo publicou no Diário Oficial da União, nesta terça-feira, 15, o decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica. O texto é assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O decreto estabelece mecanismos para que o governo possa buscar uma resposta à eventual taxação de produtos brasileiros em segmentos específicos. Nesse rito de procedimento, qualquer um dos 11 ministérios que compõem a Camex podem acioná-la.

O decreto cria um comitê composto pelos ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Relações Exterior (MRE), Fazenda e Casa Civil e estabelece a participação de empresários em comissões para tratar do assunto.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também chefia o MDIC, vai coordenar as tratativas com o setor privado para a superação das medidas impostas contra o Brasil. No caso da tarifa anunciada por Trump, por exemplo, as reuniões do governo com o empresariado têm início nesta terça-feira, 15.

Pelo decreto, o próprio comitê poderá aplicar contramedidas urgentes e deverá acompanhar o Ministério das Relações Exteriores. Já medidas definitivas deverão ser aplicadas pela Camex.

O que é a lei de reciprocidade

A lei de reciprocidade econômica foi sancionada pelo presidente em abril deste ano e prevê medidas em casos de retaliações comerciais.

A norma permite que o País responda a medidas unilaterais adotadas por países ou blocos econômicos que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira. A adoção das contramedidas deve buscar minimizar o impacto sobre a atividade econômica e evitar custos administrativos desproporcionais.

As respostas podem ser:

  • Imposição de tarifas, taxas extras ou restrições sobre importações de bens e serviços de um país;
  • Suspensão de concessões comerciais e de investimentos;
  • Suspensão de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual.

A cartada de Trump

O presidente norte-americano anunciou, entre segunda, 7, e sábado, 12, uma leva de tarifas sobre produtos exportados por mais de 20 países aos Estados Unidos. Elas devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto, a menos que os países afetados fechem um acordo comercial com os americanos.

Na quarta, 9, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil. Em carta enviada ao presidente Lula e divulgada na rede social Truth Social, Trump justifica o nível da taxa como resposta ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele ainda aponta que ordens judiciais “censuram” redes sociais americanas e inibem a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA. Segundo Trump, esses ataques do Brasil partem do Supremo Tribunal Federal (STF). No documento, Trump também ameaça elevar ainda mais as tarifas caso o País responda com medidas semelhantes. *(Com informações do Estadão Conteúdo).

Fonte: Terra

ONS defende volta do horário de verão para suprir demanda de energia

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Documento aponta necessidade de acionamento de usinas térmicas

O sistema elétrico brasileiro deve apresentar problemas para o suprimento da demanda de potência de energia elétrica nos horários de pico, especialmente no fim do dia, nos próximos cinco anos, caso não realize leilões de potência de energia.

A conclusão é do Plano da Operação Energética (PEN 2025), lançado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) nessa terça-feira (8). O documento traz as avaliações das condições de atendimento ao mercado previsto de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) para o período de 2025 a 2029.

Segundo o ONS, haverá necessidade de despacho de usinas térmicas flexíveis para atender a demanda no horário de pico, com a adoção de medidas alternativas. Entre elas, a possibilidade de retorno do horário de verão, suspenso no governo do ex-presidente Bolsonaro. A adoção do horário de verão poderá ser recomendada, mas dependerá das projeções de atendimento dos próximos meses.

O documento aponta que a geração de energia no país cresceu, puxada principalmente pelas fontes de energia intermitentes, como a eólica, solar e a MMGD (mini e microgeração distribuída solar), essas últimas duas praticamente não produzem menos energia no horário noturno, quando há maior necessidade de potência.

Futuro

Para os próximos anos, é estimado um acréscimo de 36 Giga Watts (GW) de capacidade instalada, em relação ao gerado em dezembro de 2024, totalizando 268 GW até 2029.

A MMGD, em conjunto com fonte solar, corresponderá a 32,9% da matriz elétrica em 2029, fazendo com que a fonte solar seja a segunda maior em termos de capacidade instalada do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Para o operador, a mudança no perfil da matriz elétrica, com a crescente participação das fontes renováveis no atendimento ao SIN, trouxe novos desafios para a operação e tem exigido maior flexibilidade na operação, especialmente das usinas das hidrelétricas, que são mais controláveis, além do despacho das termelétricas.

A avaliação do ONS é que, diante do cenário atual, haverá necessidade de preparar o sistema para elevados montantes de despacho termelétrico no segundo semestre para o atendimento de potência sob o ponto de vista conjuntural, principalmente a partir de outubro deste ano. “Observa-se, em todo o horizonte, necessidade de elevado despacho térmico adicional ao previsto para atendimento energético, sendo que grande parte dos cenários já indica a necessidade de utilização da reserva de potência ao longo do segundo semestre de 2025”, diz o documento.

Geração térmica

Apesar de apontar a necessidade de despacho das térmicas, o ONS não recomenda a inclusão de geração térmica com alto nível de inflexibilidade ou com longo tempo de acionamento nos próximos cinco anos.

“Ao contrário, o SIN tem demandado cada vez mais requisitos de flexibilidade e, desta forma, o ONS precisa ter à disposição elementos de despachabilidade adequados às rápidas variações de potência requeridas para o atendimento à variação da demanda e das fontes intermitentes ao longo do dia”, diz o ONS.

Leilão

Um leilão para a contratação de potência elétrica – Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência – estava previsto para agosto do ano passado. Mas o certame foi judicializado, levando a inúmeros adiamentos da definição das regras do leilão.

A previsão era de que o leilão ocorresse em junho, mas em abril, o Ministério de Minas e Energia editou uma portaria revogando as regras para o certame, o que, na prática, acabou cancelando a disputa que seria destinada à contratação de potência elétrica a partir de empreendimentos de geração, novos e existentes provenientes de usinas hidrelétricas e termelétricas a gás natural e a biocombustíveis.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) disse que, caso seja publicada uma nova portaria, um novo leilão será coordenado pela Aneel e realizado na plataforma online da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

“Assim, todo o aprendizado e os documentos redigidos no processo, como a consulta pública realizada pela Agência, poderão ser utilizados como base, na medida do que for adequado e pertinente, em eventual nova instrução”, informou a agência reguladora.

Próximos anos

Para o horizonte estrutural (2026/2029), documento aponta o risco explícito de insuficiência da oferta de potência (LOLP), com a violação do nível de confiança da insuficiência da oferta de potência de agosto de 2026 a dezembro de 2026, de agosto de 2027 a abril de 2028 e de julho de 2028 a dezembro de 2029. Ou seja, a LOLP é violada em todos os anos da avaliação.

“No sentido de busca do equilíbrio estrutural em termos de atendimento aos requisitos de potência, é premente a realização de leilões anuais de reserva de capacidade na forma de potência, uma vez que os estudos do PEN 2024 já indicaram violação dos critérios de garantia de suprimento de potência em 2025, e os resultados do PEN 2025 mostram aprofundamento das violações com o decorrer dos anos avaliados” diz o documento.

Cargas especiais

Outro ponto que merece atenção é a inserção de cargas especiais no sistema, tais como plantas de datacenters e hidrogênio verde, que demandam alto suprimento de energia e possuem baixa flexibilidade operativa, “com impacto tanto nos critérios de garantia de suprimento de energia quanto de potência, como mostrado nos cenários de sensibilidade”.

“Atenção especial deve ser dada na viabilização do atendimento destas cargas no período de ponta noturno, momento no qual o sistema já apresenta uma maior dificuldade no atendimento aos requisitos de carga”, finaliza o documento.

Fonte: Agência Brasil

China disputa América Latina com EUA investindo bilhões em infraestrutura

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Enquanto os Estados Unidos erguem barreiras comerciais contra aliados na América Latina, como a sobretaxa a produtos brasileiros, a China avança sobre o continente investindo bilhões em infraestrutura para intensificar sua presença na região. Depois de bancar o desenvolvimento do megaporto de Chancay, no Peru, o gigante asiático assinou um acordo para construir uma ferrovia que pretende ligar o litoral brasileiro ao porto peruano, reduzindo em 10 mil quilômetros o trajeto das exportações do país para a China.

O que aconteceu

  • Chancay e a ferrovia fazem parte da “Nova Rota da Seda”. Trata-se de um ambicioso projeto chinês de infraestrutura global para conectar diversos continentes e aumentar sua influência política e econômica no mundo. A China está bancando rodovias, ferrovias, gasodutos, oleodutos e projetos de energia limpa em mais de 150 países, onde vivem 62% da população mundial (incluindo a China).
  • É contra esse avanço que Trump pressiona aliados com tarifaços, como aconteceu ao Brasil. “A China está fazendo negócios na América Latina, como a oferta de tecnologia para furar a Cordilheira dos Andes e fazer a ferrovia bioceânica até Chancay”, diz Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM. “O que está em jogo é a hegemonia [sobre a região].”
  • Um dos principais projetos da China é o porto peruano. Ao custo de US$ 1,3 bilhão (R$ 7,1 bi), a primeira parte (30%) desse porto no distrito de Chancay, a 70 quilômetros de Lima, ficou pronta em apenas quatro anos. A acesso a ele por terra é através um túnel construído para não atrapalhar a pacata cidade de 60 mil habitantes.
  • O objetivo é claro: tornar Chancay o porto mais importante da América Latina. Inaugurado em novembro do ano passado, ele foi equipado com IA chinesa, que promete corrigir erros humanos para aumentar a eficiência. Guindastes elétricos e veículos autônomos circulam entre as antenas gigantes de 5G espalhadas pelo porto.
  • Os planos são terminar a obra em 2032, quando mais US$ 2,4 bilhões forem investidos. Desse total, 60% saem dos cofres da estatal chinesa de navegação Cosco Shipping, enquanto o restante é bancado pela mineradora peruana Volcan.
  • O engenheiro brasileiro Vinicius Marinelli visitou Chancay. Presidente do Conselho Federal de Engenharia (CFE), ele se surpreendeu com a velocidade da obra e a tecnologia empregada. “Chancay pode se tornar uma alternativa para rotas asiáticas, especialmente se os portos brasileiros não acompanharem os avanços tecnológicos e operacionais exigidos pelo mercado.”

    O que a China pretende?

  • A infraestrutura portuária “não é apenas um ativo econômico, mas um ativo geopolítico”. “A presença de empresas chinesas em portos na América Latina é vista pelos EUA como parte de uma estratégia de projeção global de poder da China, especialmente em um momento de tensões comerciais”, diz o presidente do Conselho.

“A China já é o principal parceiro comercial de diversos países sul-americanos, incluindo o Brasil. Chancay fortalece esses laços econômicos com Pequim, em detrimento da dependência tradicional do mercado norte-americano.” Vinicius Marinelli, presidente do CFE

  • Chancay vai dar à China acesso rápido e barato a mercados sul-americanos. A proximidade da região reduzirá custos para importação de grãos, pescados e frutas para sua população de 1,4 bilhão de habitantes. Em troca, a China venderá seus manufaturados.
  • O mega porto permitirá transportar mais mercadorias em viagens mais curtas. A China escolheu aquela região por ter a maior profundidade da costa do Pacífico, o que permitiu construir o porto para embarcações com até 18 metros de calado (a distância entre o fundo do casco e a linha de flutuação). Graças a isso, Chancay recebe os maiores navios de carga do mundo, com capacidade para 384 mil toneladas cada um.
  • No porto de Santos, o calado é de 14,5 metros. Com essa profundidade, ele deixa de receber 1 milhão de toneladas por ano, já que apenas navios menores atracam. “Os navios no Brasil estão com cinco gerações de atraso”, diz Cláudio Loureiro de Souza, diretor do Centro Nacional de Navegação Transatlântica (CentroNave), sobre os navios mais usados no país, com 182 mil toneladas de capacidade.
  • A rota Chancay-Xangai diminuirá a dependência do Canal do Panamá, na mira dos EUA. Para reduzir a influência chinesa sobre o continente, o presidente Donald Trump disse que, se necessário, “usaria a força” para retomar o canal, entregue ao Panamá em 1999.
  • Hoje, Chancay movimenta 16 milhões de toneladas por ano. Mas espera-se que chegue a 96 milhões quando as outras fases do projeto forem concluídas. Santos só conseguiu movimentar 86,4 milhões de toneladas no ano passado.
  • Para o presidente do CFE, o Brasil está ficando pra trás. “Muitos dos nossos portos enfrentam gargalos históricos, como limitação física, operacional ou regulatória, e isso nos coloca em desvantagem em relação a empreendimentos mais modernos”, diz Marinelli.

“Chancay está se posicionado para captar cargas que, tradicionalmente, escoavam pelo Brasil via Atlântico.” Vinicius Marinelli, engenheiro.

Brasil já exporta por Chancay

  • Hoje o Brasil usa duas rotas até a Ásia. Uma delas contorna a África e cruza o Oceano Índico. A outra sobe o Atlântico e atravessa o canal do Panamá. Como a nova rota é uma linha reta pelo Pacifico, o tempo de viagem cairia de até 60 dias para 25.
  • A região Norte já começa a se aproveitar da proximidade. É o caso do Dom Porquito, um frigorífico no Acre. Fundada em 2016, a empresa costumava utilizar o porto de Santos para exportar seus produtos para as Filipinas, até que o trocou por Chancay, onde chega combinado transporte rodoviário e marítimo. “A viagem, que levava até 54 dias, caiu para 25”, diz Paulo Eduardo Santoyo, diretor de exportações da Dom Porquito. “O frete diminuiu entre 30% e 40%.”
  • A Zona Franca de Manaus também está de olho. Cerca de 88% das empresas do Polo Industrial pretendem importar e exportar por Chancay. “Isso mostra o grande potencial que a rota representa para as empresas”, diz João Bosco Gomes Saraiva, presidente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
  • Hoje, as empresas da Zona Franca levam de 45 a 60 dias para importar suas mercadorias da Ásia. A Suframa espera reduzir esse tempo entre 33 e 48 dias se a mercadoria for transportada por caminhões e balsas de Chancay a Manaus. Se essa parte do traslado for de avião, “esse tempo será inferior a 30 dias”, diz Saraiva.
  • Já o resto do Brasil terá de avaliar se compensa a viagem por terra. “Acho difícil que o porto afete Sul e Sudeste no curto prazo”, diz Souza, da CentroNave. Mas a China também tem um plano.

Uma ferrovia bioceânica

  • A ideia é bancar parte de um dos maiores projetos logísticos do mundo: um corredor ferroviário de 4,5 mil km ligando Chancay ao litoral brasileiro. O projeto prevê que a ferrovia saia de Chancay, passe por Cusco, no Peru, e entre no Brasil pelo Acre.
  • A ferrovia atravessará regiões-chave do agronegócio. Do Acre, a malha passaria por Rondônia e Mato Grosso, onde se ligaria à Fico, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, em construção sem capital chinês. A Fico se conectaria à Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), com parte em operação, atravessando Goiás e entrando na Bahia, onde alcança o porto de Ilhéus.
China disputa América Latina com EUA investindo bilhões em infraestrutura.
Foto: UOL
  • Novos estudos vão definir o trajeto definitivo até setembro. “Somente a partir desses estudos será possível avançar em traçado, extensão total, impactos regionais e estimativas de investimento”, diz em nota o Ministério dos Transportes, que não estimou prazos para a obra.
  • Brasil e China aproveitaram a cúpula dos Brics para assinar o plano de viabilidade do corredor biocêanio. O memorando prevê que a brasileira Infra S.A. cuidará dos estudos ambientais e do suporte institucional, enquanto caberá à China Railway tocar o projeto, cujo valor estimado não foi revelado.
  • A ferrovia deve reduzir em 10 mil km o trajeto de exportações de carne, grãos e minérios para a Ásia. “Transformaremos todo o cenário econômico do Brasil”, afirmou a ministra do Planejamento, Simone Tebet, em visita a Pequim em maio. “Precisamos de capital estrangeiro, e atualmente quem possui os recursos é a China.”
  • A bioceânica é só um dos projetos brasileiros da Nova Rota da Seda. Além da ferrovia, Brasil e China firmaram acordos em áreas como transportes, mineração, telecomunicações e inteligência artificial.

“Com Chancay se consolidando no Pacífico Sul, ligado por futuras ferrovias ou corredores rodoviários bioceânicos ao Atlântico brasileiro, a América do Sul cria uma rota alternativa independente do Canal [do Panamá], reduzindo a centralidade americana na logística regional.” Vinicius Marinelli, engenheiro.

Fonte: UOL

Com faixa gigante, grupo faz protesto na Avenida Paulista contra projeto de lei que flexibiliza regras de licenciamento ambiental

Manifestação ocorreu neste domingo (13) e foi organizada por coletivos ambientais e movimentos sociais; ato pede que presidente Lula vete o projeto aprovado no Senado em maio deste ano.

Um grupo de pessoas protestou neste domingo (13), na Avenida Paulista, contra o chamado PL da Devastação, projeto de lei aprovado pelo Senado em maio deste ano que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental no Brasil (veja mais abaixo).

Durante o ato, integrantes da Frente São Paulo Contra o PL da Devastação, movimento da sociedade civil organizada, estenderam uma faixa de 100 metros de comprimento por 3,5 metros de altura a partir do prédio do MASP. No centro da faixa, em destaque, está a mensagem: “Veta, Lula!”.

A proposta foi para que os pedestres que passassem pela Avenida Paulista desenhassem, pintassem ou escrevessem mensagens ao Congresso e ao presidente, em manifestação contrária ao PL 2159/21. Segundo os organizadores, a faixa será posteriormente entregue ao presidente no Palácio do Planalto.

“Nosso objetivo é claro: deter o PL 2159/21, conhecido como PL da Devastação, um projeto que representa um retrocesso sem precedentes para a legislação ambiental brasileira. O PL propõe a autolicença para empreendimentos, permitindo que empresas preencham um formulário online e declarem boa conduta ambiental, sem qualquer análise prévia. Essa Licença por Adesão e Compromisso (LAC) pode se tornar a regra, tornando o licenciamento ambiental a exceção”, destacou Annebelle Andria, da coordenação do movimento, em nota divulgada.

A Frente São Paulo Contra o PL da Devastação é uma iniciativa da sociedade civil que integra o movimento nacional pela proteção ambiental Rede Convergente, e surgiu da crescente preocupação com o futuro do meio ambiente no país.

Entre os participantes da mobilização estão a Rede Converge, Greenpeace, Coalizão Pelo Clima, Marcha Pelo Clima, CUT SP Verde, Frente Periférica por Direitos, Frente Parlamentar Ambientalista por Justiça Climática, Coletivo Democracia Corintiana, entre outros.

Ex-ministros do Meio Ambiente assinam carta contra PL

O Senado Federal aprovou no dia 21 de maio um projeto de lei que cria a Lei Geral do Licenciamento Ambiental. O placar foi de 54 votos a favor e 13 votos contrários.

Defensores do texto afirmam que as novas regras vão desburocratizar processos para obtenção de licenças ambientais. Senadores ligados ao agronegócio comemoraram a aprovação.

Já o Ministério do Meio Ambiente divulgou uma nota condenando o projeto. De acordo com a pasta, trata-se de um texto que “representa rico à segurança ambiental no país”.

Entre os pontos alvo de queixa por ambientalistas, estão: dispensa de licenciamento ambiental para atividades agropecuárias, licença por adesão e compromisso (LAC) e desvinculação de outorgas.

Em junho, sete ex-ministros do Meio Ambiente que atuaram em governos de diferentes espectros políticos (FHC, Lula, Dilma, Temer e Itamar) assinaram uma carta conjunta na qual criticam o projeto de lei.

Íntegra da carta dos ex-ministros

“O Fórum dos Ex-Ministros do Meio Ambiente vem por este meio se manifestar sobre dois fatos relevantes: a aprovação, no Senado, do PL que desmonta os mecanismos do licenciamento ambiental e as agressões que a ministra Marina Silva sofreu numa comissão de infraestrutura do Senado.

Inicialmente, o PL do licenciamento ambiental tinha o propósito de agilizar o licenciamento, o que ninguém pode ser contra.

Afinal foi aprovado por duas comissões no mesmo dia — Meio Ambiente e Agricultura —, e, depois, no plenário. Sem discussão aprofundada, sem audiência.

É muito grave o que esse projeto de lei propõe, porque inclui não só os projetos de pequeno porte — com o que havia acordo —, mas também os de médio porte, que são bem mais impactantes e que terão muito menos estudos e mecanismos para a redução dos seus impactos. Também amplia muito o alcance do autolicenciamento, estabelecendo uma situação meramente declaratória. Portanto, um risco ambiental.

Depois, passa o licenciamento de projetos relevantes para estados e municípios, e sabemos que muitos desses estados e municípios não têm equipes e condições de avaliar e licenciar esses projetos. Suprime várias etapas que exatamente garantiriam para a sociedade maior transparência, conhecimento mais amplo dos impactos sobre a água que se bebe, o ar que se respira, o verde a que se tem direito e, naturalmente, sobre a biodiversidade.

Por fim, inclui projetos estratégicos cujo licenciamento vai passar mais pela esfera política do que pela esfera técnica, o que é um grande risco. Porque o fato de ser um projeto estratégico não significa que não possa ter grande impacto nos biomas, nos povos indígenas, nas águas. Então realmente põe em risco, porque o objetivo principal do licenciamento é garantir que esses projetos tenham as melhores tecnologias, as melhores localizações e reduzam ao máximo seus impactos. Também que compensem eventual dano ambiental, de modo que possa haver condicionantes ambientais que melhorem a vida da população e compensações ambientais que ajudem a manter as unidades de conservação. Essa é a lei atual.

Se você quebra esse ciclo, deixa de cumprir a principal razão de ser do licenciamento ambiental como um instrumento, não de obstaculizar projeto algum, mas de proteger a saúde, o ambiente e até prevenir efeitos no agravamento da questão climática, no aquecimento global.

Acresce que, em qualquer momento, seria deletério desmontar o licenciamento em todas essas hipóteses. Mas, neste momento especial, é duplamente grave, porque estamos às vésperas da COP30, em que o Brasil quer jogar um papel de protagonismo — e isso enfraquece o país bastante.

Segundo ponto: estamos muito próximos de efetivar o Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O Brasil tenta isso há mais de 20 anos. Finalmente se avançou, vários obstáculos foram superados. No entanto, há resistência, sobretudo de caráter protecionista, na França e em outros países. E eles alegam que países do Mercosul, com legislação ambiental menos rigorosa, têm menos custos e conseguem colocar então seus produtos na Europa com uma situação mais favorável na competição.

Ao enfraquecermos as proteções ambientais com o desmonte de vários aspectos do licenciamento, nós vamos dar argumento para aqueles que usam a questão ambiental como mecanismo protecionista, criando uma barreira. Então, com a política de Trump de desmonte dos mecanismos de livre comércio em nível mundial, tanto o Brasil e o Mercosul como a União Europeia precisam mais ainda desse acordo de livre comércio. Portanto, fragilizá-lo, colocá-lo em risco nesse momento é tudo aquilo que a economia brasileira não precisa.

Portanto, rogamos que os deputados analisem esse PL aprovado no Senado com calma, porque o projeto inicialmente aprovado na Câmara foi muito mutilado. E que realizem pelo menos uma grande audiência pública com os cientistas para avaliar qual a repercussão que essa proposta aprovada no Senado teria no meio ambiente, nos biomas, na política climática do Brasil e também na COP 30, e no acordo de cooperação e livre comércio com o Mercosul e a União Europeia.

Por fim, nós, ex-ministros e ex-ministras do Meio Ambiente — que participamos de várias gestões, de diferentes partidos, e agimos muito para impedir, na época da gestão Bolsonaro, um desmonte maior nas questões ambientais, obtendo algumas vitórias importantes —, manifestamos aqui a nossa solidariedade à ministra Marina Silva, que não poderia ter sido agredida dessa forma.

Ponha-se no seu lugar: não a respeitar como ministra? O que é isso? Uma mulher que foi senadora, é deputada federal, ministra já pela terceira vez, em um terceiro governo, não pode ser tratada assim. As divergências existem, são naturais e têm que ser discutidas — nunca com desqualificação e agressão, que inclusive têm um caráter misógino e de um desrespeito flagrante.

Está aqui a posição do Fórum dos Ex-Ministros do Meio Ambiente.”

Fonte: G1

Chapecó recebe Encontro Regional Connected Smart Cities com foco em inovação e desenvolvimento sustentável

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Evento reúne especialistas, líderes locais e atores estratégicos para debater os caminhos para uma cidade mais conectada e inteligente

No dia 15 de agosto, Chapecó será palco de mais uma Reunião Estratégica do Connected Smart Cities, iniciativa nacional que reúne lideranças locais, especialistas e representantes do setor público e privado para discutir soluções urbanas e promover o desenvolvimento sustentável nas cidades brasileiras. O encontro acontece às 13h30 no Pollen Parque Científico e Tecnológico, espaço símbolo de inovação da cidade, localizado no bairro Efapi.

Promovido pela Plataforma Connected Smart Cities, o evento é parte de um movimento de transformação que reconhece a pluralidade dos municípios brasileiros e aposta na troca de experiências para construir um futuro urbano mais eficiente, inclusivo e conectado. “Nenhuma cidade é igual, mas todas podem ser melhores. Acreditamos que a evolução urbana acontece quando compartilhamos soluções e visões de futuro”, destaca Paula Faria, CEO da Necta e Idealizadora do Connected Smart Cities.

Leia mais: Plano Municipal de Chapecó Cidade Inteligente é apresentado na Conferência das Cidades

Conhecida como a “capital brasileira da agroindústria”, Chapecó vem se consolidando como um importante polo de desenvolvimento regional. Com um PIB de R$ 9,6 bilhões e IDH de 0,790, o município tem como principais motores econômicos a agroindústria de carnes (suínos e aves), os setores metalmecânico, de plásticos, móveis, embalagens, bebidas, software e biotecnologia.

Hoje, a cidade abriga cerca de 8.500 empresas ativas e se destaca como emergente em tecnologia e biotecnologia, aproveitando a base agroindustrial para impulsionar inovação. A vocação empreendedora do município reflete-se também no 28º lugar no recorte de Empreendedorismo do Ranking Connected Smart Cities.

Leia mais: Jaguariúna mantém a liderança entre as cidades de 50 a 100 mil habitantes mais inteligentes do Brasil, segundo Ranking Connected Smart Cities 2024

Chapecó ocupa a 69ª posição geral no Ranking Connected Smart Cities, sendo a 20ª da Região Sul e a 8ª colocada em Santa Catarina, reforçando seu protagonismo no cenário de cidades inteligentes. A reunião estratégica é, portanto, uma oportunidade para aprofundar debates sobre mobilidade, sustentabilidade, tecnologia e políticas públicas que possam alavancar ainda mais o desenvolvimento local.

Com mais de 400 mil habitantes em sua região metropolitana, Chapecó combina avanços em mobilidade, áreas verdes e projetos urbanos, mas ainda enfrenta desafios na infraestrutura logística e no transporte público. A cidade aposta em projetos como a construção de um anel viário e melhorias no sistema de transporte coletivo.

Além disso, o município preserva sua identidade cultural com eventos voltados ao agronegócio, como feiras e exposições, e uma culinária regional fortemente marcada pela agroindústria. Parques urbanos e áreas naturais também fazem parte da experiência chapecoense, reforçando a conexão entre desenvolvimento e qualidade de vida.

A Reunião Estratégica Connected Smart Cities de Chapecó será um momento crucial para reunir gestores públicos, empresas, universidades, startups e sociedade civil organizada com o objetivo de mapear oportunidades e criar soluções colaborativas.

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Lula diz que Brasil quer negociar, cobra respeito às leis brasileiras e nega que críticas aos EUA tenham motivado tarifas de Trump

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O Jornal Nacional entrevistou, nesta quinta-feira (10), o presidente Lula, sobre as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos para produtos brasileiros de exportação.

O Jornal Nacional entrevistou, nesta quinta-feira (10), o presidente Lula sobre as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos para produtos brasileiros de exportação. Ele disse à repórter Delis Ortiz que o Brasil quer negociar, mas cobrou respeito às decisões brasileiras e admitiu responder com tarifas iguais se não houver acordo.

Delis Ortiz, repórter: A primeira pergunta é de ordem prática. O senhor mencionou a Lei da Reciprocidade mesmo com a ameaça explícita do presidente Trump de responder com mais tarifas a qualquer taxação decidida pelo Brasil. Como é que o governo pretende escapar desse círculo?

Lula, presidente do Brasil: Primeiro é importante levar em conta que algumas coisas que um ser humano e um governo não pode admitir. É a ingerência de um país na soberania de outro. E mais grave: intromissão de um presidente de um país no Poder Judiciário do meu país. É inaceitável que o presidente Trump manda uma carta pelo site dele e começa dizendo que é preciso acabar com a caça às bruxas. Isso é inadmissível. Primeiro porque isso aqui tem justiça e a gente está fazendo um processo com direito a presunção de inocência de quem é vítima. Se quem é vítima e cometeu um erro vai ser punido. Aqui no Brasil é punido. A segunda coisa é que é inverossímil o fato pelo qual se aumentou a tarifa. O presidente Trump deve estar muito mal informado, porque nos últimos 15 anos o déficit para o Brasil é de R$ 410 bilhões entre comércio e tarifas. Portanto, não existe explicação a não ser uma falta de informação e depois tentando atrapalhar uma relação muito virtuosa que o Brasil tem com os Estados Unidos há 200 anos. O que que eu vou fazer na verdade? Primeiro eu não perco a calma e não tomo decisão com 39ºC de febre. O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e o Brasil vai tentar, junto com a OMC e outros países, fazer com que a OMC tome uma posição para saber quem é que está certo ou que está errado. A partir daí, se não houver solução, nós vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto, quando ele começa a taxar o Brasil. Nós entendemos que o Brasil é um país que não tem contencioso com ninguém. Nós não queremos brigar com ninguém. Nós queremos negociar e o que nós queremos é que seja respeitada as decisões brasileiras. Portanto se ele ficar brincando de taxação vai ser infinita essa taxação. Nós vamos chegar a milhões e milhões de milhões de por cento de taxa. O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil. Ele tem o direito de tomar decisão em defesa do país dele, mas com base na verdade. Se alguém orientou ele com uma mentira de que os Estados Unidos é deficitário com o país, mentiu. Porque os Estados Unidos é superavitário na relação comercial com o Brasil.

Repórter: A motivação política desse ataque americano é explícita. Trump critica o julgamento de Jair Bolsonaro e ações no Supremo sobre as plataformas de redes sociais. Mas os ataques de Donald Trump começaram durante o encontro dos Brics e depois declarações suas em tom crítico aos Estados Unidos durante o evento. Que papel o senhor atribui a suas declarações nas motivações do presidente americano?

Lula: Nenhuma. Veja, primeiro os Brics é um fórum que ocupa hoje metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial. E dentro do Brics está países que participam do G20. Dez países dos Brics participa do G20, aonde o seu Trump participa. Segunda coisa: nós temos três países que foram convidados do G7 agora. Quatro países: Brasil, México, África do Sul e Índia. Quarta coisa o Brics é um agrupamento de países que trabalha em prol do sul global. Nós cansamos de ser subordinado ao norte. Nós queremos ter independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre. E as coisas estão acontecendo de forma maravilhosa. As coisas vão continuar melhorando, e nós estamos discutindo inclusive a possibilidade de ter uma moeda própria, ou quem sabe com as moedas de cada país a gente fazer comércio sem precisar usar o dólar. Porque nós não temos a máquina de rodar dólar, só os Estados Unidos que têm. Nós não precisamos disso para fazer comércio exterior. Agora, achar que os Brics é a razão para o Trump ficou nervoso, o Brasil nunca ficou nervoso com a participação do G7, o Brasil nunca ficou nervoso com as coisas que os Estados Unidos faz. Cada país tem a soberania de fazer aquilo que quer. Então, eu penso que o presidente Trump precisa se cercar de pessoas que o informem corretamente sobre como é virtuosa a relação Brasil-Estados Unidos.

Repórter: O senhor criticou Donald Trump por ingerência em questões que firam a independência das instituições brasileiras. Mas o senhor recebeu críticas por visitar a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, condenada por corrupção, e por defender com um cartaz a liberdade dela. Como o senhor responde essas acusações de ter interferido nas questões internas de um país soberano, a Argentina?

Lula: Com muita firmeza. Eu fui visitar a presidenta Cristina com autorização da Justiça argentina. Eu só fui lá porque a Justiça argentina decidiu que eu fosse visitar, atendendo um pedido da própria Cristina. Eu fui fazer uma visita humanitária, eu nunca me preocupei com que o Trump recebesse o Bolsonaro ou qualquer pessoa. É direito de cada presidente fazer o que quiser. O que não é direito é um presidente querer dar palpite na decisão de Justiça de um país. Aqui no Brasil, a nossa Justiça tem autonomia. O Poder Judiciário é um poder autônomo, como é o Legislativo. Aqui a gente obedece regras. O que o presidente Trump tem que saber é que se aqui no Brasil ele tivesse feito o que ele fez nos Estados Unidos com as eleições, ele também estaria sendo processado, estaria sendo julgado. E, se fosse culpado, ele seria preso. É assim que funciona a lei para todo mundo. Ou seja, nós precisamos aprender a respeitar. Você nunca viu me meter em uma decisão de Justiça americana. Nunca viu. E o que eu espero é reciprocidade, que ele também não se meta nos problemas brasileiros.

Repórter: Esse ataque americano às exportações brasileiras levantou preocupações enormes nas empresas exportadoras. Que papel o senhor espera que esses setores empresariais desempenhem na formulação de uma resposta do governo aos Estados Unidos?

Lula: Essa é importante a gente deixar claro para opinião pública que não é uma taxação ao Brasil. Ele vem taxando todos os países do mundo desde que tomou posse. É um direito dele, mas é um direito dos países reagir. Olha, o que é que eu pretendo fazer? Veja, primeiro eu pretendo reunir todos os empresários que têm exportação para os Estados Unidos, sobretudo aqueles que têm maior volume de exportação – suco de laranja, aço, a Embraer, que exporta muito pros Estados Unidos – para conversar para ver qual é a situação deles. Nós vamos tentar fazer todo o processo de negociação que for possível fazer. O Brasil gosta de negociar, o Brasil não gosta de contencioso. E depois que se esgotarem as negociações, o Brasil vai aplicar a Lei da Reciprocidade. E aí os empresários, eu espero, que estejam aliados ao governo brasileiro. Porque se existe algum empresário que acha que o governo brasileiro tem que ceder e fazer tudo que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro. Essa é a hora de a gente mostrar que o Brasil quer ser respeitado no mundo, que o Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mundo e que, portanto, a gente não aceita desaforamento contra o Brasil.

Repórter: O presidente Donald Trump está na Casa Branca há sete meses. Por que motivo o governo do senhor não fez nenhum movimento para estabelecer contato direto ou mais próximo com o governo do nosso segundo maior parceiro comercial?

Lula: Olha, primeiro eu mandei uma carta dando os parabéns para a vitória do Trump. Eu não tenho que conversar com o Trump até agora. Eu não tenho nenhuma razão. Eu imaginei encontrar com o Trump no dia 7. Quando nós chegamos lá ele tinha saído porque a reunião foi feita em um lugar muito escondido porque o Trump não seria bem recebido no Canadá. Então, quando eu cheguei, eu e os convidados – eu e o primeiro ministro Modi, a Claudia, presidenta do México, e o Ramaphosa, presidente da África do Sul -, quando nós chegamos lá, o Trump tinha ido embora na outra noite. Na hora que houver necessidade de eu conversar com o Trump, eu não tenho nenhum problema de ligar para ele como eu já liguei para o Clinton, já liguei para o Bush, já liguei para o Obama, já liguei para o Biden. Agora eu preciso ter uma razão para ligar. Dois presidentes não ficam ligando para contar piada. Ele, por exemplo, ele poderia ter ligado para o Brasil para dizer da medida que ele vai tomar. Ele não mandou nenhuma carta. Nós não recebemos carta. Ele publicou no site dele em uma total falta de respeito, que é um comportamento dele com todo mundo. E eu não sou obrigado a aceitar esse comportamento desrespeitoso entre relações de chefe de Estado, entre relações humanas. Educação é bom e a gente gosta de receber e gosta de dar. E o Brasil quer ser bem tratado. Quando eu tiver um assunto sério para tratar com os Estados Unidos, eu não terei nenhum problema de pegar o telefone e ligar para a Casa Branca pedindo para conversar com o presidente Trump. Por enquanto, eu não tenho. Agora veja, agora é o seguinte. Nós vamos criar uma comissão de negociação juntando empresários e o governo. Vamos ver quais são as decisões, quem é afetado, como vai ser afetado, como a gente pode procurar novos mercados. E eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros. Esse é o meu papel inclusive de dizer para os empresários: vamos juntos abrir novos mercados. Porque não é fácil, ele só taxar os outros. Ele também terá consequências nos Estados Unidos. Ele também terá muita consequência. Então, não é assim, Delis. A relação entre dois Estados ela tem que ser uma coisa respeitosa. Um presidente ele não é dono da verdade, um presidente não tem relação ideológica com outro. Eu nunca tive relação ideológica. Eu converso com o presidente do país seja ele quem for. Ele foi eleito pelo povo e sabe conversar, eu converso com todo mundo. Nunca, nunca tive um veto. Agora, eu não tenho nada para conversar com o Trump. Aliás, ele não dá motivo para que a gente tenha nada para conversar com ele. Depois que a gente discutir profundamente o que vai acontecer, nós temos tempo para discutir, nós temos tempo para conversar, nós temos tempo para ouvir os empresários, nós temos tempo para ouvir a OMC, para ouvir outros países como que estão acontecendo. E quando chegar o momento, se for necessário conversar, pode ficar certo que eu não terei nenhum problema em pegar o telefone e ligar. Correndo o risco de ele, de forma mal educada, de não querer me atender. Eu corri risco, mas de qualquer forma, se for necessário, eu farei isso sem nenhum problema. Por agora nada.

Repórter: Por agora nada? Nem chamar a embaixadora?

Lula: Não sei. Aí é um problema que o Itamaraty vai ter que tomar essas decisões. Eu acho que era importante chamar a embaixadora para tomar informações, mas é um problema que depende da decisão do Itamaraty. Eu acho que o ministro Mauro Vieira saberá cuidar disso. O que eu acho um desaforo muito grande, Delis, e não dá para aceitar, é um cidadão, presidente de um país importante como os Estados Unidos, conversar uma carta para mim, mandada pelo um site, avocando o fim da caça às bruxas a um ex-presidente que tentou dar um golpe nesse país. Ele não tentou dar um golpe. Ele tentou preparar a minha morte. A morte do presidente da Suprema Corte, que na época era o Alexandre de Moraes, a morte do vice-presidente. E não é ninguém da oposição que está falando. São os militares que estavam com ele. É o ajudante de ordem dele que recebia as informações deles. Agora, quem vai ser julgado não é o cidadão Bolsonaro. Quem vai ser julgado é os autos do processo. Se ele tiver razão, será absolvido. Se ele não tiver razão, ele será condenado. E se condenado, vai ser preso. É assim que funciona a Justiça no Brasil. E assim eu espero que funcione nos Estados Unidos. Se tivesse o Capitólio aqui e o Bolsonaro tivesse feito o que fez com o Trump nos Estados Unidos, ele também estaria sendo julgado. Porque a lei aqui no Brasil é para todos de verdade. Doa a quem doer.

No dia 10 de junho, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi interrogado no STF – Supremo Tribunal Federal e declarou não ter qualquer envolvimento com planos ilegais – inclusive a suposta tentativa de assassinato de autoridades. Bolsonaro disse que discutiu com ministros militares alternativas – que segundo ele eram constitucionais – para contestar o resultado das eleições. Afirmou que foram conversas informais e que não tratava de uma tentativa de golpe. A ação penal no Supremo ainda não tem data para conclusão.

Fonte: G1 – Jornal Nacional

Mudanças climáticas podem ampliar o risco da Doença de Chagas na Amazônia

As mudanças climáticas estão alterando silenciosamente o cenário da saúde pública na Amazônia. As frequentes secas, enchentes, desmatamentos e demais problemas ambientais podem levar ao surgimento de novas doenças ou ao avanço de doenças já controladas.

Um caso emblemático é o da Doença de Chagas, que mesmo com os avanços recentes nos estudos sobre sua biologia e controle de transmissão, podem representar novamente um desafio para nosso sistema de saúde em virtude das alterações que estão sendo realizados nas paisagens.

Um estudo publicado recentemente na revista Medical and Veterinary Entomology por mim, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), Instituto Evandro Chagas, Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e Universidade de Bristol deixa um alerta claro: o aquecimento global pode facilitar a expansão dos barbeiros, vetores da Doença de Chagas, para novas áreas da floresta.

A doença de Chagas

A doença, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é transmitida principalmente por insetos conhecidos como barbeiros. A Doença de Chagas (DC) existe há milhões de anos como uma doença em animais silvestres, que passou a ser transmitida ao homem, de forma acidental, a partir da invasão dos ambientes silvestres por populações humanas.

Embora seja antiga, a Doença de Chagas em humanos só foi descrita em 1909, a partir da descoberta realizada pelo médico brasileiro Carlos Chagas, que detectou o parasito em uma criança de dois anos de idade na cidade de Lassance, no interior de Minas Gerais.

A descoberta foi considerada um marco na história da medicina pelo descobrimento simultâneo do vetor (o barbeiro), de alguns dos hospedeiros silvestres e domésticos, do agente etiológico da doença (o protozoário Trypanosoma cruzi) e da patologia associada à infecção.

A DC é endêmica na América Latina. Ela é atribuída, em sua origem, às áreas rurais e às populações com condições de vida precárias. Ademais, a forma como a população humana explora e ocupa o ambiente está fortemente relacionada à dinâmica das doenças transmitidas por vetores, o que pode resultar, por exemplo, na emergência da DC em áreas anteriormente consideradas livres da enfermidade.

Em 2006, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a certificação de interrupção da transmissão vetorial pelo barbeiro Triatoma infestans (o principal vetor no país) e por hemotransfusão. Apesar disso, a doença ainda é um desafio de saúde pública, sobretudo em regiões com moradias precárias, principalmente como as encontradas nas regiões mais pobres do país.

Embora muitos infectados permaneçam assintomáticos por anos, cerca de um terço desenvolve formas clínicas graves da doença, como a forma cardíaca crônica e o megacólon, caracterizado pela dilatação do intestino grosso. Entre 1999 e 2007, o Brasil registrou uma média anual de cerca de 6 mil mortes relacionadas à Doença de Chagas, representando aproximadamente 43% de todos os óbitos por essa enfermidade na América Latina. A DC é uma das principais causas de morte entre as doenças tropicais negligenciadas no país.

Projeções preocupantes

Nosso estudo analisou mais de 11 mil registros de ocorrência de 55 espécies de barbeiros. Utilizamos uma técnica chamada modelagem de nicho ecológico, que cruza dados biológicos e ambientais, para prever como esses vetores podem se deslocar até 2080 sob diferentes cenários climáticos.

Os resultados indicam uma tendência preocupante: os barbeiros devem expandir sua distribuição na Amazônia, especialmente em áreas já vulneráveis. Esse movimento pode surpreender os sistemas de saúde despreparados, afetando populações que já enfrentam desigualdades e condições precárias de moradia.

O mapa ao lado mostra a projeção de áreas com aumento previsto de ocorrência de barbeiros até 2080, considerando um cenário de mudanças climáticas mais intensas. As áreas em amarelo indicam regiões com estabilidade na presença dos vetores, sem variação significativa. As áreas em verde representam regiões onde se prevê uma redução na ocorrência de barbeiros. Já as áreas em vermelho destacam os locais com aumento previsto na presença dos vetores da Doença de Chagas, apontando zonas que podem se tornar mais vulneráveis à transmissão no futuro.

A pesquisa identifica áreas da Amazônia que poderão se tornar favoráveis à presença de vetores devido às mudanças climáticas, alertando para o aumento do risco em regiões hoje consideradas seguras. Essas informações permitem antecipar estratégias de prevenção, vigilância e fortalecimento do sistema de saúde. Mesmo sem estimar quantos serão afetados, o estudo mostra onde o risco pode crescer e isso já é um passo crucial para proteger populações vulneráveis.

Essa mesma abordagem pode ser aplicada a outras enfermidades tropicais, como dengue, leishmaniose e malária, gerando dados que podem subsidiar políticas públicas de saúde. Assim como existem mapas de risco para enchentes e queimadas, podemos ter mapas para doenças como a de Chagas, possibilitando um cenário de previsibilidade e o desenvolvimento de estruturar e de preparação antes que o problema se acentue ou possa virar uma calamidade pública.

Leia também: Furacões, secas, inundações: 73% dos patrimônios culturais e naturais do mundo estão sob ‘risco severo’, diz ONU

Uma questão de saúde climática

As projeções do nosso estudo reforçam a necessidade de políticas integradas de saúde, meio ambiente e adaptação às mudanças climáticas.

A Amazônia enfrenta múltiplos desafios de degradação ambiental, e a eles se soma o risco crescente de doenças infecciosas associadas ao clima. E as populações mais afetadas serão aquelas já vulneráveis. Em regiões com pouco acesso a serviços de saúde, saneamento e moradia digna, o avanço dos barbeiros representa mais um obstáculo à justiça social.

Mas há caminhos para a ação. O estudo oferece dados que podem orientar estratégias preventivas. É possível antecipar cenários de risco, fortalecer a vigilância entomológica (monitoramento e controle dos vetores), planejar campanhas educativas e alocar melhor os recursos de saúde.

Um dos principais dados gerados pelo estudo é o mapeamento das áreas da Amazônia que podem ter aumento na presença de barbeiros vetores da Doença de Chagas até 2080, especialmente sob cenários de mudanças climáticas intensas. Por exemplo, regiões que hoje apresentam baixa ocorrência desses insetos, como trechos do oeste do Pará e norte do Amazonas, podem se tornar áreas de risco no futuro.

Esses dados permitem direcionar ações preventivas, como o fortalecimento da vigilância entomológica, campanhas educativas em comunidades vulneráveis e melhorias nas condições habitacionais antes que a transmissão da doença se intensifique nessas regiões. Trata-se de uma ferramenta estratégica para antecipar riscos e evitar surtos futuros.

Com base científica sólida, conseguimos entender melhor os riscos e agir de forma estratégica.

A próxima Conferência do Clima da ONU (COP 30), marcada para ocorrer em Belém, traz uma oportunidade histórica. Precisamos colocar a saúde climática no centro das discussões. A crise ambiental também é uma crise de saúde e justiça social. E a ciência tem muito a contribuir com soluções baseadas em dados e equidade.

Fonte: The Conversation Brasil

Você já sentiu diferença na forma de se comportar ao trocar o carro pela bicicleta?

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Em um mundo que vive em alta velocidade, a bicicleta surge como um convite gentil ao movimento e à poesia. Ela nos lembra da beleza de ir sem pressa, de sentir cada instante da jornada e de redescobrir a arte de simplesmente estar. É uma experiência que vai muito além de chegar ao destino, é sobre aproveitar o caminho.

Navegar pelas ruas das grandes cidades é, sem dúvida, uma aventura singular e cheia de desafios para quem está ao volante. Em capitais como São Paulo, a rotina de congestionamentos e o tempo que parece escorrer pelos dedos acabam moldando profundamente o comportamento dos motoristas. Essa situação pode gerar um nível de estresse que, infelizmente, se manifesta em impaciência e até mesmo em agressividade. É comum vermos buzinaços incessantes, manobras arriscadas e ultrapassagens perigosas, tudo em busca de alguns metros preciosos.

Nesse ambiente tão competitivo, alguns motoristas acabam desenvolvendo hábitos que, embora pareçam “resolver” o problema no curto prazo, são bem perigosos. Fechadas e bloqueios para evitar que alguém passe à frente são exemplos claros dessa mentalidade. Toda essa imprudência no trânsito, inevitavelmente, cobra seu preço na saúde e no bem-estar, podendo levar a um estresse crônico. A exposição diária a situações tensas pode desencadear ansiedade, hipertensão e até problemas cardiovasculares. Além disso, o tempo que poderia ser dedicado ao lazer, à família ou ao descanso é consumido pelo trânsito, afetando diretamente nossa qualidade de vida. Sem falar na poluição gerada pelos veículos, que prejudica a saúde respiratória de todos na cidade.

Toda essa tensão no dia a dia do trânsito acaba se refletindo na falta de cortesia, na menor disposição para ceder a vez e em uma irritabilidade crescente, onde pequenos incidentes podem virar grandes discussões. É como se a cidade nos convidasse a uma disputa constante.

Leia também: Conheça o perfil do ciclista brasileiro

O Desafio da transição: do carro para a bicicleta

É interessante observar que, quando o motorista decide trocar o carro pela bicicleta, especialmente nos domingos, aquela mente treinada nas adversidades do trânsito parece se transferir para as duas rodas.

Experimente pedalar nas ciclofaixas de São Paulo aos domingos e perceba como essa mentalidade se reflete nas ruas. Muitas pessoas que estão de bicicleta acabam fazendo exatamente o que fariam no carro: impacientes com semáforos e pedestres, passam em velocidade absurda com suas bicicletas elétricas, ignoram crianças e suas bicicletas infantis e não respeitam as filas de bicicletas paradas no semáforo, se metendo no meio de outras só para arrancar assim que o farol abre.

Leia mais: Mobilidade urbana: para além dos elétricos, híbridos ou a combustão

O Convite gentil da bicicleta: respire e sinta!

Ao subir numa bicicleta, o convite é para uma nova realidade: estamos em um veículo diferente, mais lento, que nos permite uma sintonia muito maior com a cidade e uma conexão mais próxima com quem está ao nosso redor. A verdadeira essência da bicicleta nos convida a viver o espaço urbano de outra forma, bem longe da pressa e da agressividade dos carros.

Então, quando você for pedalar, respire fundo e se permita apreciar o melhor da vida. Vá sem pressa, sinta a cidade, cumprimente os pedestres, converse com os amigos e descubra lugares que talvez nunca fosse de carro. A bicicleta é mais do que um meio de transporte; é uma oportunidade de se reconectar com a cidade e com você mesmo.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities