O plano deve definir ações voltadas à melhoria da acessibilidade e mobilidade, o que significa pensar nas pessoas com deficiência, naquelas com mais idade, nas crianças e de que maneira podemos garantir o acesso de todas as pessoas à cidade e ao que ela nos oferece.
Quando falamos em mobilidade urbana, a maioria das pessoas pensa na imagem de carros e congestionamentos. Entretanto, nós, que estamos há mais de uma década nesse campo de pesquisa, sabemos que ela vai além disso. A mobilidade urbana é um complexo ecossistema que envolve o poder público, entes privados, tecnologias e o mais importante: pessoas. A mobilidade é um fator que impacta diretamente a qualidade de vida da população, a economia, a saúde pública e o meio ambiente.
O ano passado marcou os 10 anos da Lei 12.587/2012, uma legislação que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU). A lei foi e continua sendo um marco para a gestão das cidades e definiu, dentre outras coisas, que todos os municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes deveriam criar seus planos de mobilidade urbana.
Um plano de mobilidade é uma estratégia que visa organizar e melhorar o deslocamento dentro de uma cidade, considerando diferentes modos de transporte, mas priorizando o transporte público e os modos ativos, a exemplo das bicicletas e das pessoas que caminham. O plano deve definir ações voltadas à melhoria da acessibilidade e mobilidade, o que significa pensar nas pessoas com deficiência, naquelas com mais idade, nas crianças e de que maneira podemos garantir o acesso de todas as pessoas à cidade e ao que ela nos oferece.
Outro benefício importante de um bom plano de mobilidade urbana é a promoção da segurança no trânsito. Com medidas como a construção de ciclovias, a sinalização adequada e a fiscalização rigorosa, é possível reduzir o número de sinistros de trânsito, garantindo a integridade física das pessoas, revertendo o paradigma de que as ruas das cidades são feitas para os carros.
No mundo e no Brasil, não faltam exemplos de cidades que foram transformadas em lugares melhores para se viver em função de um bom planejamento da mobilidade urbana. Nos anos 1990, Bogotá, na Colômbia, implementou medidas para melhorar a mobilidade urbana como a construção de ciclovias, a restrição ao uso de carros particulares em determinadas áreas da cidade e o investimento em transporte público de qualidade, com destaque para o sistema BRT (Bus Rapid Transit). Por sua vez, Seul, capital da Coreia do Sul, investiu em transporte público incluindo uma rede de metrô extensa e moderna. A cidade criou uma rede de ciclovias e incentivos para quem opta por usar a bicicleta. No Brasil, apesar dos atrasos nas construções dos planos, temos exemplos históricos como o de Curitiba que, inspirada em Bogotá, foi pioneira na implementação do BRT. Belo Horizonte também vem se destacando, desde 2014, no planejamento da mobilidade urbana com a implantação de um sistema de transporte coletivo rápido por ônibus, reduzindo o tempo de viagem e o número de veículos particulares nas ruas. Já Fortaleza passou a tomar decisões com base em dados sobre mobilidade urbana. A ação resultou em um melhor planejamento do sistema, redução sistemática das mortes no trânsito e redução do tempo das viagens.
A mobilidade urbana se tornou um tema crucial para as cidades porque ela diz respeito às oportunidades de acesso, além de escancarar todas as desigualdades sociais e urbanas, pois são os sistemas de transporte que conectam todas as pessoas e lugares nesse território. Ter consciência da importância dessa temática e tomar decisões baseadas em evidências científicas é o único caminho para a gestão das cidades. Os dados sobre mobilidade urbana, aliados a um bom planejamento, podem ser o grande diferencial para tornar algumas cidades melhores que as outras.
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