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SC: Cidades atingidas por temporal e granizo decretam situação de emergência

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Seis municípios pediram ajuda da Defesa Civil estadual por conta dos estragos

O número de cidades em situação de emergência por conta dos temporais que atingem o estado de Santa Catarina subiu para seis nesta segunda-feira, 24: Luiz Alves, São João do Itaperiú, Balneário Barra do Sul, Ibirama, Lontras e Petrolândia.

Desde sábado, 22, dezenas de municípios registraram danos. Ao menos 130 pessoas estão desalojados.

Luiz Alves registra os maiores acumulados de chuva, inúmeros alagamentos, bairros isolados e aulas suspensas. Já a cidade de Ibirama enfrenta estragos severos após temporal de granizo, com mais de 60 ocorrências e 51 casas danificadas, segundo a Defesa Civil do município.

Em São João do Itaperiú, as aulas suspensas na segunda à tarde devido aos alagamentos e vias intransitáveis. De acordo com a prefeitura, o transporte escolar foi comprometido.

Em Luiz Alves, choveu 140 milímetros em apenas seis horas, elevando o nível de alerta para o máximo, segundo a Defesa Civil municipal. Com o registro de diversos pontos de alagamento, as aulas foram suspensas no período vespertino e noturno, tanto para a rede municipal e quanto para a estadual.

A Prefeitura montou um abrigo na Escola Paulina Regina Weber Köhler, na Vila do Salto, para moradores afetados. As situações piores são nos bairros:

  • Vila do Salto
  • Centro
  • Dom Bosco
  • Braço Elza
  • Braço Miguel
  • Alto Canoas
  • Baixo Canoas
  • Serafim
  • Baixo Máximo
  • Vila Nova

Em Balneário Barra do Sul, as chuvas se intensificaram mais ao longo da segunda, alagado ruas e interditando vias. Segundo a Prefeitura, a maré alta vem dificultando o escoamento da água. A cidade não tem pessoas desalojadas ou desabrigadas até o momento.

Ibirama foi atingida por um temporal de granizo ainda na noite de sábado, 22, que impactou severamente a cidade. A Defesa Civil municipal precisou realizar mais de 60 atendimentos.

Com o temporal, 51 famílias foram afetadas. Nove pessoas estão desalojadas. Os bairros atingidos são:

  • São Miguel
  • Areado
  • Ribeirão do Salto
  • Ribeirão das Pedras
  • Padre Anchieta

De acordo com a Defesa Civil estadual, a previsão do tempo para as próximas horas prevê instabilidade no Litoral catarinense e na região dos Planaltos, com chuva isolada e risco de novos temporais. O Oeste volta a ter sol e calor.

A partir de quarta-feira, 26, o tempo fica firme na maior parte do estado, com máximas de até 30°C no Oeste e variações entre 22°C e 27°C no Litoral e no Vale.

A Defesa Civil pede que a população evite transitar em áreas alagadas, não atravesse enxurradas e procure abrigo seguro se sua casa estiver em área de risco. Em caso de emergência, os telefones para pedir ajuda são o 199 (Defesa Civil) e 193 (Bombeiros).

Fonte: Portal Terra

COP30: os quatro pontos que definiram a conferência do clima em Belém

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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (C), fala ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (D), do presidente da COP30, André Corrêa do Lago (2º à esq.), e da CEO da COP30, Ana Toni, durante uma coletiva de imprensa na COP30

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), terminou no sábado (22/11), um dia depois do previsto e após negociações que atravessaram a madrugada.

Um dos principais textos finais da conferência, chamado de “Mutirão Global: Unindo a humanidade em uma mobilização global contra a mudança climática”, frustrou ambientalistas, cientistas e propostas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao não incluir menções a “mapas do caminho” para reduzir a dependência mundial em relação a combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento.

“Qualquer texto sem uma menção clara para reduzir o consumo de combustíveis fósseis é frustrante e não vai na direção do que a ciência defende”, disse à BBC News Brasil o climatologista brasileiro Carlos Nobre.

Apesar disso, a ausência dos Estados Unidos, segundo maior emissor individual de emissões de gases do efeito estufa, e a possibilidade de que a COP30 terminasse sem que os países chegassem a um acordo entre os 194 participantes fizeram com que o resultado das negociações fosse aplaudido na plenária final do evento. Havia o temor de que ausência dos norte-americanos pudesse levar a um travamento de todas as discussões relevantes da conferência.

“Sabíamos que esta COP ocorreria em águas políticas tempestuosas. A negação, a divisão e a geopolítica desferiram duros golpes na cooperação internacional este ano. Mas, amigos, a COP30 mostrou que a cooperação climática está viva e forte, mantendo a humanidade na luta por um planeta habitável, com a firme determinação de manter o 1,5ºC ao seu alcance”, disse o secretário da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC), Simon Stiel, em seu discurso durante o último dia da conferência.

“Belém entregou o que era possível em um mundo radicalmente transformado para a pior. Evitou a implosão do Acordo de Paris, hoje a única coisa a nos separar de um mundo 3ºC mais quente”, disse em comunicado o coordenador de política internacional da organização não-governamental Observatório do Clima, Cláudio Angelo.

Apesar da ausência de menções a combustíveis fósseis nos documentos principais acordados durante a COP30, ambientalistas apontaram que houve avanços, ainda que moderados, entre alguns dos temas debatidos ao longo das duas semanas da conferência. Confira abaixo quatro dos principais assuntos sobre os quais a COP30 deliberou.

1 – “Mapas do caminho” barrados

Os “mapas do caminho” propostos pelo presidente Lula durante suas passagens por Belém foram um dos temas que mais causaram tensão durante as negociações da COP30.

Lula propôs que a COP30 terminasse com a aprovação de alguma menção para a elaboração de roteiros com dois objetivos: acabar com o desmatamento e com a dependência mundial em relação aos combustíveis fósseis.

A queima de combustíveis fósseis é apontada por cientistas como responsável por até 80% das emissões de gases do efeito estufa que causam as mudanças climáticas.

A proposta chegou a ganhar o apoio formal e informal de aproximadamente 80 países liderados por nações como a Colômbia, França, Reino Unido, Suécia e Dinamarca.

Na terça-feira, um rascunho de um dos textos em negociação trazia menções ao mapa do caminho sobre combustíveis fósseis, mas elas acabaram sendo retiradas nos rascunhos seguintes.

Países como a Arábia Saudita, Índia e China, grandes produtores ou consumidores de petróleo e outros combustíveis fósseis como carvão mineral, fizeram oposição à proposta e, segundo dois negociadores brasileiros ouvidos pela BBC News Brasil em caráter reservado, chegaram ameaçar bloquear o restante das negociações caso o tema não fosse retirado dos textos em discussão.

Países do bloco europeu e da América Latina protestaram, mas prevaleceu a posição capitaneada pelos países árabes e o texto final ficou sem nenhuma menção sequer a combustíveis fósseis ou a mapas do caminho.

Em entrevista coletiva à imprensa durante o G20 neste domingo (23/22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi questionado se ele teria ficado realmente satisfeito com o resultado do documento, considerando que os ‘mapas do caminho’ não entrou no texto.

Em resposta, Lula afirmou que já sabia que o tema seria polêmico. “Quando nós introduzimos a discussão, nós sabíamos que era um tema difícil. O Brasil é produtor de petróleo, estamos tirando cerca de cinco milhões de barris por dia, não é pouca coisa”, disse.

Segundo ele, o “mapa do caminho” “não é uma imposição de data, é uma discussão”. “Você tem que envolver especialistas, tem que envolver as empresas de petróleo para começar a vislumbrar os passos que têm que ser dados até chegar a extinguir o uso de combustível fóssil”, afirmou.

Lula disse ainda que “o petróleo não é só para gasolina” e que ele “vai continuar tendo sua importância”, citando o uso na indústria petroquímica. “Eu sabia que era difícil a Arábia Saudita concordar”, declarou.

“O que nós quisemos foi começar um debate sobre uma coisa que todo mundo sabe que vai ter que acontecer”, disse.

Apesar disso, o presidente afirmou que a discussão foi “extraordinária” e “um grande começo”.

Na plenária final, o presidente da COP30, o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, anunciou que, apesar de o assunto ter ficado de fora dos textos finais da conferência, a presidência brasileira da COP, que termina no final de 2026, vai elaborar os dois “mapas do caminho” que depois serão apresentados aos países membros do Acordo de Paris.

“Nós precisamos de mapas para que possamos ultrapassar a dependência dos fósseis de forma ordenada e justa. Eu vou criar dois mapas: um para reverter desmatamento e outro para fazer transição para longe dos fósseis de maneira equitativa e justa”, disse o diplomata.

Mais tarde, em entrevista coletiva, o embaixador afirmou que sabia que a proposta enfrentaria dificuldades para ser aprovada durante a COP30.

“Nós imaginávamos que seria de ter um consenso sobre isso. Desde que aprovamos (uma menção sobre o assunto) em Dubai (na COP28), houve uma grande resistência em continuarmos a falar sobre isso”, afirmou.

Na coletiva, Corrêa do Lago afirmou ainda que os dois mapas do caminho que serão desenvolvidos pela presidência brasileira da COP deverão reunir informações sobre medidas que precisariam ser tomadas em escala global para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e para acabar com o desmatamento e o resultado desses estudos deverá ser apresentado na COP31, que será realizada na Turquia, mas cuja presidência ficará a cargo da Austrália.

Para ambientalistas, a ausência de menções aos dois roteiros (sobre desmatamento e combustíveis fósseis) foi um ponto negativo.

“O assunto mais importante dessa COP ficou fora das decisões formais. Apesar de um crescente apoio de países ao chamado do Presidente Lula para a construção de mapas do caminho para acabar com o desmatamento e se afastar dos combustíveis fósseis, não foi possível dentro do processo formal”, lamentou a especialista em políticas climáticas da organização não-governamental Observatório do Clima, Stela Herschamnn.

Em nota, a diretora de mobilização da ONG S.O.S Mata Atlântica, Afra Balazina, também lamentou o resultado.

“Mais uma vez, os países que mais contribuíram historicamente para o aquecimento global, e os que mais emitem hoje, atuaram para bloquear avanços essenciais. Continuam também resistindo a financiar e apoiar os países e populações mais vulneráveis, que já sofrem, e seguirão sofrendo, os impactos mais graves dos eventos extremos”.

A decisão de criar os mapas do caminho fora do circuito convencional das negociações da COP foi vista como reserva por ambientalistas.

“A decisão da Presidência de criar os dois mapas do caminho, tanto para zerar o desmatamento quanto para o fim dos combustíveis fósseis, tem gosto de prêmio de consolação. É claro que isso permitirá que o trabalho siga no próximo ano, e que o momentum criado em Belém não se perca. Mas não é o avanço que esperávamos, e que o mundo desesperadamente precisa”, disse, em nota, diretora-executiva da organização não-governamental Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali.

2 – Aumento do financiamento para adaptação

Um dos pontos que avançaram na pauta de negociações da COP30 foi a previsão de um aumento no orçamento destinado ao financiamento de ações voltadas para adaptação de países em desenvolvimento às consequências das mudanças climáticas.

O texto acordado na COP30 prevê triplicar para até US$ 120 bilhões o valor a ser destinado por ano até 2035 para projetos relacionados à adaptação.

O aumento desse montante era uma das principais reivindicações dos países em desenvolvimento e encontrava resistência de blocos de países desenvolvidos, principalmente da União Europeia.

Pelas normas do Acordo de Paris, os países desenvolvidos devem repassar recursos para os países em desenvolvimento para financiar projetos que preparem essas nações para os impactos mais nocivos das mudanças climáticas.

Apesar de o aumento no volume de recursos ter sido comemorado internamente por alguns dos países em desenvolvimento, ambientalistas avaliam que o prazo dado para que o valor chegue a US$ 120 bilhões, 2035 e não 2030, como estava previsto antes, é um fator negativo em função do agravamento da crise climática e do aumento na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos.

“A promessa de triplicar o financiamento para adaptação é bem-vinda, mas, estendida até 2035, ainda fica aquém. A adaptação não pode esperar, especialmente porque o financiamento para os países em desenvolvimento está diminuindo enquanto os impactos climáticos se aceleram”, disse a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell.

A especialista em políticas climáticas do Greenpeace Brasil, Ana Cárcamo, também avalia a decisão com ressalvas.

“Apesar de pressões de países menos desenvolvidos para triplicar o financiamento para a adaptação até 2030, a decisão final apenas decide convocar esforços para triplicar até 2035, de forma vaga e sem ano de base. Assim, os países desenvolvidos, mais uma vez, mantém suas carteiras fechadas, enquanto comunidades marginalizadas pagam com suas vidas”, disse a especialista em um comunicado divulgado pela organização.

3. Menção a afrodescendentes

Outro tema comemorado ao fim das negociações foi a inclusão do termo “afrodescendentes” no principal texto negociado durante a COP30.

O documento reconhece a importância das populações de descendência africana no combate às mudanças climáticas.

A inclusão do termo é considerada uma vitória de movimentos em defesa dos direitos da população negra em diversos países, inclusive do Brasil, onde comunidades quilombolas são reconhecidas por trabalharem na preservação de ecossistemas como o Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica.

“O reconhecimento de afrodescendentes nos textos da UNFCCC abre caminho para políticas climáticas mais justas, eficazes e enraizadas nas realidades dos territórios historicamente afetados por desigualdades estruturais”, disse, em nota, a organização não-governamental Geledés – Instituto da Mulher Negra.

A diretora do Departamento de Clima do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixadora Lillian Chagas, também celebrou a inclusão afirmando que essa era uma pauta defendida pelo Brasil e que envia uma “mensagem clara” a essas populações.

4. Indicadores de adaptação

Outro ponto considerado como um avanço da COP30 foi o acordo em torno de um conjunto de indicadores para medir a velocidade e a forma como os países estão se adaptando às mudanças climáticas.

Esta era uma pauta defendida por países latino-americanos e os do bloco europeu, mas vinha encontrando resistência do bloco de nações africanas que alegavam, nas negociações, que a adoção desses critérios poderia ser usada por países desenvolvidos para condicionar o repasse de recursos para adaptação às mudanças climáticas.

Outro impasse era a resistência dos países desenvolvidos em aceitarem a inclusão de um indicador que avaliasse o volume de financiamento que eles deveriam prover às nações mais pobres.

Inicialmente, especialistas elaboraram uma lista com mais de mil indicadores. No decorrer das negociações, a lista foi reduzida para aproximadamente 100 e, no final, foram definidos 59 critérios de avaliação.

“A adoção dos indicadores da GGA (sigla em inglês para ‘Meta global sobre adaptação’) é um progresso real: pela primeira vez, mediremos a ação climática não apenas em toneladas de carbono evitadas, mas em vidas protegidas e infraestrutura capaz de resistir ao que está por vir”, disse Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa.

Para Ana Cárcamo, do Greenpeace Brasil, a decisão trouxe pontos positivos, mas poderia ter sido melhor.

“Os indicadores para acompanhar os avanços globais da adaptação foram reduzidos de forma política e muitos não são mensuráveis. Os países ainda devem trabalhar para revisar os indicadores até a COP32, na África”, disse.

Fonte: BBC Brasil

Cidades resilientes: aumento de eventos climáticos extremos no PR exige novo modelo de construções, alertam especialistas

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Para lidar com impacto das mudanças climáticas, conceito interdisciplinar prevê que cidades estejam preparadas para sofrerem menos danos com tornados, por exemplo. Paraná acumula episódios de destruição com tornados, aponta pesquisa.

A destruição em cidades no Paraná por tornados ao longo dos anos, como aconteceu em Rio Bonito do Iguaçu em 7 de novembro, se soma à discussão mundial sobre a capacidade de resistência estrutural de casas e comércios a eventos climáticos extremos – e a recorrência e intensidade dos eventos reforça a questão.

Antes de Rio Bonito do Iguaçu, Marechal Cândido Rondon, no oeste do estado, teve diversas casas destruídas, em 2015, também durante a passagem de um tornado. Veja números abaixo.

Para especialistas, o Paraná vive um momento em que precisa se discutir como o estado pode ajudar a população a se preparar para enfrentar adversidades como essas e, ao mesmo tempo, proporcionar a construção das chamadas cidades resilientes. O conceito, de caráter interdisciplinar, dá condições dos municípios se prepararem para enfrentar tornados, enchentes e outros eventos climáticos extremos com o menor dano possível e maior capacidade de recuperação.

A pesquisadora Karin Linete Hornes, especialista em tornados e professora na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), explica que os desastres climáticos no Paraná têm sido cada vez mais frequentes. O estado é considerado, inclusive, o segundo maior corredor de tornados do mundo.

“Nós sofremos constantemente desastres relacionados a eventos climatológicos e meteorológicos. O Paraná teve mais de 12 mil ocorrências e aproximadamente 15 milhões de pessoas afetadas nas últimas quatro décadas. Todos os municípios tiveram algum prejuízo ligado a esse tipo de evento […] Os órgãos de emergências, hospitais e prefeitura precisam ser extremamente bem construídos, porque esses locais servem de abrigo e vão auxiliar a população”, afirma a pesquisadora Karin Linete Hornes.

Segundo ela, os vendavais são os fenômenos que mais provocam danos no estado. “São 3.867 registros de ocorrências no mesmo período, segundo a Defesa Civil. E há subnotificação, porque muitos lugares sofrem prejuízos, mas não acionam o órgão”, diz.

Para Hornes, o Paraná ainda não trabalha de forma consistente com educação climática e prevenção.

“Nós precisamos atuar na educação ambiental e na educação climática, explicando quais fenômenos mais acontecem no Paraná e como eles nos afetam, assim, conseguimos construir cidades que resistam aos fenômenos que ocorrem aqui”, afirma.

Preparo, impacto e capacidade de recuperação

Segundo o pesquisador Eduardo Gomes Pinheiro, doutor em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o conceito de cidades resilientes prevê uma relação direta entre preparo, impacto do evento climático e capacidade de recuperação. Segundo ele, as cidades resilientes, que se antecipam ao problema, sofrem menos danos e retomam as atividades mais rapidamente.

“A resiliência atravessa todas as etapas do ciclo de desastres, a prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação, e deve orientar o planejamento urbano como um todo”, diz ele.

Pinheiro destaca que muitos municípios ainda não consideram que podem enfrentar desastres recorrentes, o que é um erro, segundo ele, especialmente em estados como o Paraná, onde enchentes, granizo e estiagens se repetem todos os anos.

Para ele, cada obra e ação pública deveria partir da pergunta: isso aumenta ou reduz a vulnerabilidade do município aos eventos climáticos que fazem parte da nossa realidade?

“Como esse tipo de raciocínio costuma ficar fora das práticas administrativas, cidades seguem sendo construídas sem infraestrutura adequada, o que intensifica perdas humanas, destruição de patrimônio, impactos na economia local e até interrupções no calendário escolar” — Eduardo Gomes Pinheiro, doutor em Gestão Urbana

Reconstrução emergencial com casas pré-fabricadas

Segundo a Defesa Civil, 90% de Rio Bonito do Iguaçu ficou destruída e mais de mil pessoas ficaram desabrigadas. Sete pessoas morreram e cerca de 830 ficaram feridas.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) realizou cerca de 2,2 mil laudos de inspeção técnica depois da passagem do tornado e observou preliminarmente que 40% dos imóveis da cidade foram totalmente destruídos. Outros 60% podem ser recuperados, com danos que variam de reparos simples a intervenções estruturais complexas.

No processo de reconstrução, o secretário de Estado das Cidades, Guto Silva, explica que o governo realiza atua em duas frentes. Na primeira, 140 engenheiros voluntários produziram laudos sobre cada residência afetada. De acordo com ele, os documentos vão orientar a distribuição de recursos.

Paralelamente, o governo estadual autorizou a construção de 320 unidades habitacionais com casas pré-fabricadas. As obras começaram em 17 de novembro e priorizam casas de modelo construtivo mais rápido, que levam cerca de dois meses para estarem prontas. Dessas moradias, 200 serão erguidas nos próprios terrenos devastados e 120 em um novo bairro, que está sendo estruturado.

No dia 20 de novembro, o estado divulgou que as casas são pré-fabricadas em woodframe, uma estrutura de madeira leve, e possuem sala, cozinha, dois quartos, banheiro e área de serviço, com tamanhos que variam entre 46 m², 51 m² e 53 m². Segundo o governo, a previsão é de que a primeira casa seja concluída em até 10 dias.

O coronel Ivan Ricardo Fernandes, coordenador executivo da Defesa Civil, explica que a instalação das casas pré-fabricadas exigem preparações técnicas, como a fundação dos terrenos, antes delas serem efetivamente levantadas.

O secretário Guto Silva afirma que a Secretaria das Cidades firmou protocolos com a Organização das Nações Unidas (ONU Migração) para desenvolver projetos de municípios, segundo ele, mais resilientes.

“Vamos analisar todos os episódios com calma, identificar as causas e construir soluções de longo prazo. É um trabalho detalhado para reduzir impactos ambientais e fortalecer a segurança das cidades”, afirma.

Tornados têm sido mais destrutivos no Paraná ao longo dos anos

Cresce o número de tornados na região Sul do BrasilEntre 2018 e 2023, foram 92 tornados
Fonte: Pesquisa de Maria Cristina Pietrovski

Segundo estudos da pesquisadora Maria Cristina Pietrovski, de 2018 a 2023, a região Sul registrou 92 tornados – a maior ocorrência em comparação com as outras regiões do país. No período, 17 deles foram no Paraná.

Anos antes do período analisado, outros eventos similares também causaram grandes problemas no estado, entre eles, o tornado de maio de 1992, que atingiu Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, classificado como F3. À época, seis pessoas morreram.

Outro tornado aconteceu no mesmo mês e ano em Borrazópolis, no norte do estado, deixando 12 mortos.

Em Nova Laranjeiras, um evento registrado em 1997 provocou quatro mortes e 72 feridos.

Um dos episódios mais recentes foi em Marechal Cândido Rondon, no oeste, em novembro de 2015. Segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), os ventos ultrapassaram 115 quilômetros por hora.

A prefeitura informou que 1,5 mil casas foram danificadas, 200 empresas tiveram prejuízos e cerca de 14 mil residências ficaram sem energia. A pesquisadora Karin Hornes estava em Marechal Cândido Rondon no dia do tornado e diz que a lembrança nunca se apaga. Ela conta que o desespero foi maior porque um de seus filhos estava na escola e ela não conseguia contato devido à falta de energia e telefone.

“Quem passou por isso nunca mais esquece. A destruição é muito rápida e intensa. Eu nunca mais esqueci o som, a velocidade, a força. Quando saí de casa, vi um portão levantado e uma árvore arrancada pela raiz na Avenida Rio Grande do Sul. Eu realmente chorei. Não conseguia passar e não sabia como estava o meu filho.”

Para o climatologista Francisco Mendonça, a repetição e a força dos tornados no Paraná têm relação direta com o aquecimento global.

“Os tornados estão mais repetitivos e mais intensos do que no passado. Um ou outro antigo pode ter tido magnitude semelhante, mas não havia essa frequência.”

Ele afirma que é necessário repensar a estrutura urbana, com áreas de proteção e mata ao redor das cidades para amortecer os ventos. Sem isso, diz ele, comunidades podem ser destruídas novamente por futuros eventos severos.

Orientações para proteção

Hornes orienta que moradores acompanhem alertas de institutos como Simepar, Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e também observem o céu, nuvens e mapas de radar.

Ela recomenda que as casas tenham pelo menos um cômodo seguro, mais resistente que os demais, como um porão ou um espaço com vigas, laje e colunas reforçadas.

“Entre embaixo de uma mesa, de uma cama. Isso ajuda a evitar ferimentos por estilhaços”, recomenda.
Para quem estiver dirigindo, a orientação é se afastar do fenômeno e estacionar longe de postes e árvores.

“Estacione em local seguro, coloque o cinto e fique em posição fetal. Se não houver abrigo, use cobertores ou colchões para proteção extra”, diz.

Fonte: g1 RP

Exigência de consenso impediu avanço de discussão sobre combustíveis fósseis na COP 30, diz embaixador

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O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, falou ao Jornal da CBN sobre a falta de um acordo em relação aos combustíveis fósseis na conferência.

A criação de um mapa do caminho para abandonar uma economia movida a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, ficou de fora da declaração final da Conferência do Clima de Belém. Em entrevista ao Jornal da CBN, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, lamentou as dificuldades de avançar com o tema.

Ele explicou que a exigência de um consenso de todos os países impede o andamento das discussões formais:

‘É que tem muitos países, cerca de 80 países, que já estão prontos para falar do mapa do caminho para o fim dos fósseis. Mas também tem oitenta e poucos países que disseram que não querem ouvir falar do assunto, literalmente. Ou seja, que não pode entrar no texto de uma decisão’.

Apesar do entrave em relação aos combustíveis fósseis, o embaixador André Corrêa do Lago destacou avanços significativos durante a COP30, sobretudo nas partes formal e política:

‘Isso que a gente está falando foi um enorme avanço político. Ou seja, o tema nunca ganhou o espaço que ganhou agora para a gente continuar trabalhando com vistas a um avanço formal. Mas, dos avanços formais, eu acho que teve um reconhecimento de que os esforços que estão sendo feitos até agora, o ritmo ainda não é o correto.

Então, essa coisa que falta foi plenamente reconhecida dentro da COP, formalmente reconhecida, e, portanto, os estímulos a fazer muito mais são necessários’.

Fonte: CBN

Amor e IA: Afetos Humanos na Quinta Década do Século XXI

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O impacto da IA na formação de vínculos, no desejo e na dinâmica das relações contemporâneas.

Ao chegarmos à quinta década do século XXI, a Inteligência Artificial já não é apenas infraestrutura — torna-se linguagem afetiva. As relações humanas passam por metamorfoses profundas impulsionadas por plataformas hiperintuitivas, comunidades virtuais sensoriais e parceiros mediados por algoritmos. O tempo e o espaço, antes limitadores das emoções, tornam-se fluidos, permitindo que vínculos surjam, intensifiquem-se e se dissolvam com uma velocidade quase incômoda. É o auge do “amor líquido”, agora catalisado pela IA.

Os encontros não se restringem a geografia. Sistemas de compatibilidade emocional utilizam dados biométricos, perfis comportamentais e projeções de futuro para sugerir conexões improváveis. A busca por parceiros ganha dimensões múltiplas, onde a sexualidade se torna menos dual, mais ampla e fluida. Relações não seguem mais roteiros binários; tornam-se ecossistemas afetivos nos quais cada pessoa encontra arranjos singulares, híbridos entre presença física e presença digital.

Nesse contexto, apaixonar-se adquire outra natureza. O encanto não nasce apenas do acaso — nasce da amplificação algorítmica do acaso. A IA observa padrões de desejo, estilo de vida, intensidade emocional, e cria oportunidades que transcendem o encontro espontâneo. Isso não elimina o impacto do olhar, do cheiro, da pele; apenas reorganiza o caminho até eles. As pessoas continuam se apaixonando, mas agora em um ambiente onde tudo conspira para que o encontro seja rápido, intenso e, muitas vezes, efêmero. Nesse cenário, o próprio desejo sexual se reconfigura. Ele se descola da biologia estrita e passa a ser mediado por novas figuras: parceiros de IA com quem se constrói intimidade, experiências imersivas de realidade virtual que exploram o erotismo sensorial, ou até mesmo a atração por inteligências puramente digitais. A IA não apenas facilita encontros entre humanos; ela se torna um novo protagonista no mapa do desejo.

As interações tornam-se menos dependentes e mais descartáveis. O excesso de possibilidades cria uma espécie de fadiga emocional: vive-se muitos infinitos em pouco tempo. Vários amores que antes durariam anos agora duram semanas, cada um vivenciado com sinceridade, mas esgotado pela aceleração dos ciclos afetivos. A IA, que poderia trazer estabilidade, termina por amplificar a volatilidade da própria condição humana — sempre à procura, nunca plenamente satisfeita.

Ainda assim, surgem novas formas de profundidade. Não uma profundidade tradicional, construída pela escassez, mas uma profundidade expandida pela abundância. Casais que decidem permanecer juntos o fazem por decisão consciente, não por falta de alternativas. Ao mesmo tempo, novas formas de família emergem: comunidades afetivas, relações poliformes, vínculos distribuídos entre avatares, parceiros físicos e redes de cuidado algorítmico. A procriação deixa de ser mero ato biológico e ganha dimensão sublime: nasce de escolhas integradas, planejadas e apoiadas por saúde reprodutiva de alta precisão.

Nesse mundo acelerado, o amor não desaparece — ele se reinventa. Continua a provocar coragem, vulnerabilidade, conflito e entrega. A IA não rouba sua humanidade; apenas altera seus contornos. O amor torna-se experiência ampliada, não substituída.

A pergunta que permanece é: ao tornar tudo tão rápido, estamos perdendo algo essencial? Talvez sim. Ou talvez estamos apenas descobrindo versões inéditas do mesmo sentimento que moveu a espécie por milênios. Afinal, por trás das telas, dos algoritmos e dos sensores, um fato permanece imutável: humanos continuam desejando ser vistos, reconhecidos e amados.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Portal CSC 

Nenhuma empresa estará imune se bolha da IA ​​estourar, diz chefe do Google à BBC

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Todas as empresas serão afetadas se uma eventual bolha da inteligência artificial (IA) estourar, afirmou Sundar Pichai, CEO da Alphabet, que controla o Google, em entrevista exclusiva à BBC.

Para Pichai, se por um lado o crescimento dos investimentos em IA vive um “momento extraordinário”, de outro há uma certa “irracionalidade” no boom atual em torno da tecnologia.

As declarações de Pichai se dão em meio a temores no Vale do Silício (onde ficam sediadas algumas das principais empresas de tecnologia) e além em relação a uma bolha no setor, já que o valor de mercado de empresas de IA cresceu vertiginosamente nos últimos meses e diversas outras empresas têm investido bilhões de dólares nessa indústria em expansão.

Questionado se o Google estaria imune ao impacto de uma eventual bolha da IA estourar, Pichai afirmou que a gigante de tecnologia poderia resistir ao impacto, mas faz um alerta.

“Eu acho que nenhuma empresa estará imune, incluindo a gente.”

Na ampla entrevista concedida à BBC na sede da empresa na Califórnia (EUA), Pichai trata também de demanda energética, desacelerar metas climáticas, investimentos no Reino Unido, a acurácia dos modelos de IA e o impacto da revolução da IA nos empregos.

O escrutínio em relação ao mercado de IA nunca foi tão intenso. As ações da Alphabet dobraram de valor em sete meses (chegando a US$ 3,5 trilhões, ou quase R$ 18,6 trilhões), enquanto os mercados aumentam sua confiança de que a empresa que controla o Google, uma gigante de buscas na internet, conseguirá superar a ameaça do ChatGPT, da OpenAI.

Um foco específico da Alphabet tem sido o desenvolvimento de superchips especializados para IA que competem com a Nvidia, liderada por Jensen Huang, que recentemente se tornou a primeira empresa do mundo a atingir US$ 5 trilhões (cerca de R$ 26,6 trilhões) em valor de mercado.

Enquanto esses valores sobem, alguns analistas de mercado têm expressado ceticismo acerca do emaranhado de negociações que totalizam US$ 1,4 trilhão (cerca de R$ 7,46 trilhões) em torno da OpenAI, que espera faturar neste ano menos de um milésimo desse valor previsto de investimento.

Em comentários que fazem eco ao que Alan Greenspan, então chefe do Tesouro americano, classificou em 1996 de “exuberância irracional” em seu alerta ao mercado durante a bolha “pontocom” e o seu estouro no mercado em 2000, Pichai afirma que a indústria pode “errar o alvo” em ciclos de investimento como esse.

“Nós podemos agora olhar para a internet do passado. Havia claramente excesso de investimentos, mas nenhum de nós questionava se a internet era profunda”, diz Pichai. “Eu espero o mesmo da IA. Então, eu acho que há elementos racionais e irracionais em momentos como esse.”

Os comentários de Pichai também fazem eco ao alerta de Jamie Dimon, chefe do banco americano JP Morgan, que disse à BBC no mês passado que o investimento em IA iria se pagar, mas parte do dinheiro investido nessa indústria “seria provavelmente perdido”.

Mas Pichai afirma que o modelo único de negócios do Google, que detém o “pacote completo” de tecnologias (dos chips aos dados do YouTube, dos modelos de IA à ciência de vanguarda), coloca a empresa numa melhor posição para lidar com turbulências no mercado de IA.

A Alphabet (que controla o Google) tem anunciado diversos investimentos ao redor do mundo, incluindo o Reino Unido. Em setembro, a empresa anunciou um investimento de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 26,6 bilhões) em infraestrutura e pesquisa em inteligência artificial no país nos próximos dois anos.

Segundo Pichai, a Alphabet vai desenvolver ainda pesquisas avançadas no Reino Unido, incluindo a unidade de inteligência artificial DeepMind, baseada em Londres.

Pela primeira vez, Pichai afirma que o Google ao longo do tempo vai tomar uma medida que tem sido pressionada por governos britânicos: treinar os modelos de inteligência artificial no país. Esse movimento, segundo membros do governo, consolidaria o Reino Unido com a terceira superpotência de IA, atrás de Estados Unidos e China.

Por outro lado, Pichai ressalta que a “imensa” demanda energética por parte da IA, que representou 1,5% do consumo global de eletricidade no ano passado, segundo a Agência Internacional de Energia. Por isso, afirma Pichai, países como o Reino Unido precisam desenvolver novas fontes de energia e ampliar a infraestrutura energética.

“Você não quer restringir a economia por causa de energia, mas isso terá consequências”, diz Pichai. Segundo ele, a demanda intensa por energia na expansão da IA levou a uma redução das metas climáticas da empresa, mas a Alphabet insiste que mantém a meta de zerar as emissões até 2030 ao investir em novas tecnologias energéticas.

“O ritmo que esperamos para fazer progresso será impactado”, afirma Pichai.

Haverá impacto da IA também no mercado de trabalho como o conhecemos, diz ele, classificando a IA de “a mais profunda tecnologia” na qual a humanidade já trabalhou.

“Nós teremos que trabalhar em meio aos impactos sociais”, afirma Pichai, acrescentando que a tecnologia também “criará novas oportunidades”.

“[A IA] vai evoluir e transformar alguns empregos, e as pessoas precisarão se adaptar”, diz Pichai, e aqueles que se adaptarem à IA “se darão melhor”.

“Não importa se você é um professor ou um édico. Todas as profissões serão impactadas, mas as pessoas que se darão melhor em cada uma dessas profissões serão aquelas que aprenderem a usar essas ferramentas.”

Fonte: BBC Brasil

Selic alta afetou negativamente atividade econômica, dizem economistas

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Mês de setembro apresentou recuou de 0,2%

Economistas ouvidos pela Agência Brasil vincularam a taxa básica de juros, a Selic, estipulada pelo Banco Central, à queda do Índice de Atividade Econômica do país, que recuou 0,2% em setembro, em comparação ao mês anterior. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano, o maior patamar em 20 anos.

Segundo o professor de Economia e Direito do Mackenzie Alphaville, Douglas Elmauer, a retração da atividade está alinhada com o ambiente macroeconômico atual.

“A taxa de juros, hoje no nível mais alto em quase duas décadas, atua de forma clara na compressão da demanda: encarece o crédito, reduz o impulso ao consumo, adia investimentos e aperta o orçamento das famílias”.

Ele cita ainda, além dos juros altos, a renda das famílias que, apesar do alívio recente da inflação, “ainda não recuperou plenamente o poder de compra perdido, o que limita o consumo em segmentos importantes”.

Para Elmauer, o cenário externo também tem influência.

“A incerteza sobre a política monetária dos Estados Unidos endurece as condições financeiras globais e afeta expectativas empresariais”, explica.

O economista, pesquisador convidado da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Euzébio Sousa, destaca que o impacto no crescimento econômico está associado, primeiramente, à elevada taxa de juros, que afeta o desenvolvimento de forma generalizada.

“Isso quer dizer que, com taxas tão elevadas, o que o Banco Central tem dado como sinalização é que tem que reduzir a atividade econômica. E é o que tem acontecido”, afirma, acrescentando que o impacto “é sistêmico na economia como um todo”.

Sousa cita que a alta de taxa de juros reduz o financiamento para consumo, e com isso, cai a demanda. “Também reduz o ímpeto dos empresários de produzir e de investir, reduz o financiamento para ampliar o investimento, reduz o nível de emprego”, acrescentou.

A economista Daniela Cardoso avalia que o resultado de setembro é pontual e não indica um problema econômico.

“A queda no mês de setembro é algo muito discreto, repito, menor que o acumulado dos últimos três meses da queda. Então, quando você não tem uma curva ascendente, você não caracteriza isso como um grande problema. No caso brasileiro, é um caso descendente a essa curva”.

Para a economista, a perspectiva é que taxa comece a cair no próximo ano, podendo chegar a 12%, contribuindo para queda da dívida pública e o equilíbrio fiscal.

Fonte: Agência Brasil

Aneel dá respaldo a plano de corte de energia para evitar apagões

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Projeto deve cortar produção de usinas para diminuir riscos de blecautes por excesso de geração

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) deu respaldo nesta terça-feira (18) ao plano emergencial de cortes da produção de usinas ligadas à rede de distribuição de energia, uma medida vista como fundamental para garantir a segurança do sistema elétrico brasileiro neste fim de ano e diminuir riscos crescentes de blecautes por excesso de geração.

Proposto pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o plano estipula ações para restringir a injeção de energia por parte de pequenas usinas do chamado “tipo III”, conectadas na rede elétrica das distribuidoras.

A medida alcança inicialmente um grupo de usinas conectadas a 12 distribuidoras de energia, somando cerca de 16 GW (gigawatts) de capacidade instalada, concentrada principalmente na região Sudeste.

Como esses empreendimentos não são diretamente controláveis pelo ONS, são as distribuidoras que irão operacionalizar os cortes de produção, enviando comandos aos geradores.

O plano deverá ser implementado imediatamente pelo ONS e pelas distribuidoras em preparação para os feriados de fim do ano, quando aumentam os riscos de blecautes devido à queda do consumo de energia nesses períodos.

A ideia é ampliar os recursos que o ONS poderá mobilizar em momentos de emergência para evitar apagões no Brasil por problemas como o de sobrefrequência, que ocorre quando a geração de energia está maior do que a demanda.

A preocupação com excesso de geração no Brasil se intensificou neste ano, após o ONS ter relatado duas ocasiões, nos meses de maio e agosto, em que quase perdeu o controle do sistema elétrico devido à elevada geração em painéis solares distribuídos — sobre os quais o operador não tem gestão — e baixo consumo de energia.

Nas duas datas, o ONS cortou mais de 98% da produção de eólicas e solares e restringiu ao máximo a geração hidrelétrica e termelétrica para evitar um colapso do sistema. O consumo acabou sendo atendido pela geração distribuída solar, além da geração inflexível de usinas que não podem ser desligadas, como as nucleares.

O diretor relator do processo na Aneel, Gentil Nogueira, ressaltou a importância do plano, citando que o ONS tem como prognóstico “certo nível de risco” para os dias do Natal e no Ano Novo de 2025, bem como um cenário desafiador para 2026, em meses como maio e junho e dias como domingo, diante da entrada contínua de geração distribuída solar no sistema.

Nogueira apontou que, pelas regras setoriais, o ONS já pode implementar o plano para preservar a segurança do sistema elétrico, sem necessidade de aprovação da Aneel.

Segundo ele, as ações do regulador no processo, como as de acompanhamento e fiscalização posterior, visam conferir maior previsibilidade e segurança jurídica aos agentes.

COMO FUNCIONARÁ

Pelo plano, o ONS realizará uma avaliação energética semanal da geração centralizada e descentralizada, com previsão e monitoramento da carga líquida mínima de energia.

O ONS emitirá um alerta prévio às distribuidoras, com antecedência de sete a dois dias, informando sobre a chance de acionamento do plano.

Na sequência, em sua programação diária, o ONS reavalia a necessidade de restrições das usinas “tipo III” com base em informações mais atualizadas.

Se confirmada a necessidade de corte de geração dessas usinas para o dia seguinte, o ONS comunicará formalmente às distribuidoras o montante de geração que deverá ser restringido e o período do dia em que a medida será necessária.

A partir daí, as concessionárias deverão informar as geradoras sobre a previsão de restrição, garantindo cumprimento da ordem do ONS.

Fonte: CNN Brasil

Políticas de inovação pelo lado da demanda: um caminho estratégico para o Brasil

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O uso estratégico das políticas de demanda na construção de capacidades tecnológicas nacionais.

Nas últimas décadas, o debate sobre políticas de inovação tem se concentrado em dois grandes enfoques: as políticas pelo lado da oferta (supply-side) e as políticas pelo lado da demanda (demand-side). Embora complementares, esses dois modelos partem de lógicas distintas de intervenção pública e de indução ao desenvolvimento tecnológico.

As políticas de inovação pelo lado da oferta baseiam-se em instrumentos clássicos de fomento, como linhas de crédito, subvenções econômicas, incentivos fiscais à P&D, incubadoras e parques tecnológicos. Seu foco principal é ampliar os dispêndios em pesquisa e desenvolvimento, fortalecendo a capacidade produtiva interna e o capital científico-tecnológico nacional. São políticas de “empurrão” (supply push), nas quais o Estado atua como financiador direto de atividades de pesquisa ou como provedor de infraestrutura, mesmo antes de existir uma demanda clara do mercado. Essa lógica foi predominante em boa parte das economias em desenvolvimento, incluindo o Brasil, e teve papel fundamental na formação de competências técnicas e científicas. No entanto, isoladamente, mostrou-se insuficiente para transformar conhecimento em valor econômico e social.

É nesse ponto que ganham relevância as políticas de inovação pelo lado da demanda, cuja essência é criar ou direcionar mercados para soluções inovadoras tendo como o Estado seu principal financiador e cliente. Em vez de apenas financiar a oferta de conhecimento, o Estado utiliza seu poder de compra e de regulação para estimular a inovação como resposta a necessidades concretas, seja do próprio governo ou da sociedade. Entre os instrumentos disponíveis estão as compras públicas para inovação, as exigências de conteúdo local associadas a requisitos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), a regulação setorial, a normalização e mecanismos experimentais, como encomendas tecnológicas e sandbox regulatórios. Essas políticas funcionam como um “puxão” (demand pull), ao especificar desafios reais e induzir o mercado a desenvolver respostas tecnológicas adequadas.

O caso da Encomenda Tecnológica (ETEC) conduzida pela Agência Espacial Brasileira (AEB) para o desenvolvimento do Sistema de Navegação Inercial/GNSS (SNI) é emblemático. Trata-se de um instrumento legal previsto no Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei nº 13.243/2016), voltado à contratação de soluções tecnológicas ainda inexistentes no mercado. Diferentemente das compras convencionais, o pagamento está condicionado ao esforço de desenvolvimento e não ao produto final, permitindo assumir maior risco tecnológico, algo essencial em setores estratégicos como o espacial e o de defesa.

A encomenda da AEB mobilizou empresas nacionais — Concert Space, Cron e Horuseye Tech — em torno de um desafio crítico: desenvolver um sistema capaz de fornecer informações de trajetória e correção de rota para veículos lançadores. O projeto não apenas criou uma tecnologia inédita, mas também fortaleceu o ecossistema de inovação nacional, gerando efeitos como a formação de capacidades técnicas, a retenção de talentos intensivos em conhecimento, o estabelecimento de novas parcerias empresariais e a expansão de oportunidades para outros setores. Mais do que um produto tecnológico, tratou-se de um investimento estratégico na autonomia nacional e na criação de valor público a partir da inovação.

Contudo, a adoção de políticas de demanda ainda enfrenta barreiras estruturais no Brasil: fragmentação institucional, baixa coordenação entre políticas de oferta e demanda, carência de dados e avaliações sistemáticas, e forte aversão ao risco no setor público. Além disso, a dependência tecnológica externa e a instabilidade de financiamento, especialmente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), limitam a continuidade de projetos complexos e estratégicos.

Para superar esses desafios, é necessário articular políticas de demanda e de oferta de modo sistêmico. Isso implica expandir e profissionalizar o uso das compras públicas de inovação, criar mecanismos robustos de monitoramento e avaliação, e integrar diferentes instrumentos de política em torno de objetivos nacionais de transformação tecnológica.

Em um contexto global de transição digital, energética e produtiva, o Brasil tem diante de si uma oportunidade decisiva: equilibrar o uso de modelos de apoio à oferta com instrumentos de indução pela demanda, capaz de alinhar inovação, desenvolvimento produtivo e bem-estar social. A experiência da AEB demonstra que a demanda pública qualificada pode ser o motor da inovação nacional, transformando desafios complexos em oportunidades de aprendizado, autonomia e desenvolvimento sustentável.

Mapa mostra que Brasil tem boas ideias para enfrentar a crise climática

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Mais de 200 projetos foram identificados pelo Ministério das Cidades, com destaque para soluções tecnológicas inovadoras, com uso de inteligência artificial, e ações educacionais.

O Ministério das Cidades lança durante a COP30, em Belém, dois instrumentos que revelam o panorama do Brasil na agenda climática urbana: plataforma com o Mapeamento de Iniciativas Climáticas Urbanas e o Catálogo de Iniciativas Climáticas Urbanas no Brasil. Os produtos resultam de um trabalho de sistematização realizado pelo Ministério, em parceria com a Urban Climate Change Research Network (UCCRN-LA), e apoiado pela agência de cooperação internacional da Alemanha (GIZ) e o ONU-Habitat,

O levantamento identificou 206 iniciativas habilitadas entre as 412 propostas recebidas de todo o país, revelando a diversidade e a vitalidade das ações locais. Cerca de 40% das iniciativas têm foco em adaptação, 32% em mitigação e 28% combinam as duas abordagens, demonstrando o amadurecimento técnico e político dos municípios no enfrentamento das mudanças do clima.

“Este mapeamento mostra que as soluções climáticas já estão nas cidades. Cabe a nós, no governo federal, apoiar e divulgar essas experiências para que elas possam ser adotadas por outras cidades”, disse o ministro das Cidades, Jader Filho. “É o que estamos fazendo”.

O mapeamento e o catálogo também evidenciam o compromisso do Ministério das Cidades em interagir com governos municipais, instituições, organizações e empresas para avanço nas políticas urbanas e na agenda climática. As publicações reforçam que os municípios representam a primeira camada da ação climática e que o fortalecimento da capacidade técnica local é essencial para transformar investimentos em soluções concretas.

“O mapeamento de iniciativas climáticas urbanas de diferentes governos, organizações e empresas demonstra o poder transformador das ações locais, destaca a diretora de Sustentabilidade e Projetos Especiais do Ministério das Cidades, Alice Carvalho. “A consolidação dessas experiências permite que gestores públicos visualizem o estágio das ações locais, promovam cooperação entre cidades e direcionem recursos para ações com maior potencial de impacto, além de informar a população em geral sobre seus benefícios.”

Com a realização da COP30 no Brasil, o lançamento é um marco para o planejamento urbano sustentável. O catálogo e o mapeamento— hospedado no site do Ministério e na plataforma da Agenda de Sustentabilidade do Ministério — servirão como ferramentas de inspiração, aprendizado e replicação para gestores públicos, pesquisadores e comunidades.

As iniciativas mapeadas vão de soluções tecnológicas inovadoras, como sistemas de monitoramento com inteligência artificial, até projetos sociais de educação e participação comunitária. Juntas, elas retratam um país que começa a alinhar urbanismo, inclusão social e clima em uma mesma estratégia.

Metodologia

Além de apresentar um panorama detalhado das ações em andamento, o trabalho incorpora um processo de curadoria científica e técnica, fundamentado na metodologia do IPCC e conduzido por uma equipe de especialistas da UCCRN-LA e do Ministério das Cidades. O processo envolveu cinco meses de análises, revisões e diálogo com os proponentes, resultando em critérios de avaliação que consideraram robustez técnica, inovação, justiça climática e potencial transformador das ações.

Segundo a professora Maria Fernanda Lemos, da PUC-Rio e diretora da UCCRN-LA, o rigor metodológico foi essencial para garantir a qualidade do resultado:

“Usamos o conhecimento acumulado pela ciência do clima para definir categorias de análise que nos ajudassem a entender o quão preparadas estão as cidades brasileiras para enfrentar a mudança climática. Muitas ações não se enquadravam perfeitamente como mitigação ou adaptação, mas apresentavam efeitos positivos e mereciam ser reconhecidas”, destacou.

Ela explica que a equipe criou novas categorias para valorizar essas experiências, reconhecendo que iniciativas de sustentabilidade, ainda que não diretamente associadas à agenda climática, aumentam a resiliência e a capacidade adaptativa das cidades.

“O catálogo traz um olhar generoso e técnico ao mesmo tempo — ele não exclui, mas amplia a compreensão sobre o que é uma ação climática efetiva”, complementa a professora.

Fonte: Ministério das Cidades