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Veneza Marajoara: como é viver na ‘Cidade das Bicicletas’, exemplo de sustentabilidade no interior do Pará

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Cortada por canais, Afuá, na Ilha do Marajó, não permite carros e motos, e até os serviços essenciais são feitos sobre duas rodas

A Ilha do Marajó, classificada como a maior ilha fluviomarinha do mundo, guarda uma cidade que vive à frente de seu tempo. Afuá, município de quase 40 mil habitantes, fica a cerca de 90 km de Macapá (AP) e recebeu o apelido de Veneza Marajoara.

E não é para menos: a cidade é suspensa por palafitas e cortada por canais. Mas uma característica em especial chama a atenção de quem visita o local: o único meio de transporte usado – e autorizado – é a bicicleta. Para quem nasceu e viveu a vida inteira no local, o hábito saudável e sustentável faz parte da rotina, como conta a professora Maíra Yonara Silva de Moura, de 38 anos.

Por lá, aprender a pedalar é algo tão natural como aprender a andar. A afuaense, por exemplo, nem se recorda quando foram as suas primeiras pedaladas. “Me lembro que volta e meia chegava com algum hematoma de queda em casa”, conta ela, que guarda na memória com bastante carinho os detalhes de uma das suas primeiras bicicletas. Ela tinha cerca de 7 anos e pilotava uma BMX Rosa pelas estreitas ruas da cidade.

“Viver em uma cidade cujo único meio de locomoção é a bicicleta é maravilhoso. Além dos benefícios de saúde, é um momento de relaxamento, para observar paisagens e cumprimentar conhecidos”, diz Maíra ao Terra.

Segundo Maíra, não há engarrafamento nem acidentes graves. “Em menos de 10 minutos, estou no meu trabalho. Isso é qualidade de vida. Apesar de alguns bairros serem distantes para se ir pedalando, se você se organizar direitinho e sem pressa, você consegue chegar no horário”, relata.

Ao longo do ano, não é comum que as águas dos rios que banham Afuá invadam as ruas ou as casas, exceto nos meses de março e abril. Os rios, inclusive, são a principal via de entrada e saída da cidade.

“Tem um aeroporto de pequeno porte na cidade, mas o principal meio de saída é por navio ou lancha. A cidade mais próxima é Macapá, que leva cerca de duas horas de lancha para chegar. A maioria das pessoas quando quer se deslocar para, por exemplo, uma unidade de saúde mais equipada, prefere ir para Macapá, porque Belém fica mais longe. São cerca de dois ou três dias de viagem”, afirma.

Maíra tem um filho de 11 anos chamado Homero, que começou a pedalar aos 4 anos. Para ela, é um privilégio poder criar o menino em uma comunidade como a cidade das bicicletas. “Apesar das tecnologias e da internet, é muito comum vermos crianças brincando nas praças e nas ruas. Há uma liberdade bem confortável para elas. Ele vai e vem da escola sozinho de bike”, diz.

‘Bicilâncias’: bicicletas adaptadas no Afuá

A cidade nasceu a partir da doação de terras de uma antiga proprietária conhecida na região: Micaela Archanja Ferreira. Em 1890, o município foi emancipado e se desenvolveu sob as palafitas e com o transporte fluvial. Em 2002, o Afuá proibiu o uso de qualquer veículo motor, incluindo elétricos.

Por ser uma cidade sem carros, motos ou bicicletas elétricas, não existe sinalização de trânsito. Os moradores se organizam em ruas de mão dupla, por vezes estreitas. Ainda assim, engana-se quem pensa que o município não tenha ambulância, resgate, patrulhamento policial ou táxi. E não se trata de uma exceção para esses serviços essenciais.

Para a major Adriana Coutinho da Cunha, de 35 anos, realizar o policiamento no Afuá é uma experiência única. Ela é natural de Castanhal (PA), mas se mudou para a cidade das bicicletas em 2022 para trabalhar. “Por ser uma cidade sem ruas para veículos motorizados, utilizamos bicicletas e o patrulhamento a pé como principais meios de deslocamento durante o policiamento”, relata.

“O grande desafio é a agilidade no atendimento a ocorrências em pontos mais distantes, especialmente em situações emergenciais. Por outro lado, a dinâmica proporciona contato mais próximo com a comunidade”.

No caso de ocorrências em regiões ribeirinhas, em áreas mais remotas, a Polícia Militar do Afuá também utiliza embarcações para patrulhamento.

“As ocorrências mais comuns em Afuá estão relacionadas à perturbação do sossego, conflitos interpessoais, furtos e casos de violência doméstica, e na região ribeirinha, infelizmente, ainda há muitos casos de abuso e exploração sexual. Em períodos de maior fluxo de pessoas, como festividades e eventos, também intensificamos a prevenção contra crimes como furtos e tráfico de entorpecentes”, afirma.

As rondas policiais são feitas a pé e de bicicleta. “A relação da Polícia Militar com a comunidade de Afuá tem sido cada vez mais próxima. O policiamento comunitário é uma das nossas prioridades, pois acreditamos que a segurança pública se constrói com a participação ativa dos cidadãos”, conclui.

Já os profissionais que atuam na Brigada de Combate a Incêndio da Prefeitura Municipal de Afuá usam uma bicicleta adaptada com quatro rodas apelidada de “bicilância”. Leno Moraes, de 41 anos, conta que o modelo onde eles carregam as mangueiras é adaptado para a realidade da cidade.

“O preparo é igual ao de combater incêndios de cidade grande, o treinamento é o mesmo. A diferença é que precisamos conhecer bem a cidade. Os principais atendimentos são de combate a incêndio, mas a gente tem pouco registro. E sempre que aparece a gente consegue controlar a situação o mais rápido possível. Também atendemos quedas, fraturas, partos”, diz.

De acordo com o brigadista, para o exercício de sua profissão, é vantajoso ter uma cidade cercada de água. “Podemos usar um motor bomba, que colocamos no igarapé e depois começamos a combater o fogo. Você consegue esticar a mangueira do igarapé até uma casa pegando fogo”, exemplifica.

As equipes estão disponíveis 24 horas e estão aptas a atender todo tipo de ocorrência, inclusive com o uso de barco.

“A gente chega no local, coloca a vítima na prancha, se precisar faz os primeiros socorros. A gente toma todos os cuidados e desloca na nossa bicilância, adaptada para atender a ocorrência com os pacientes”, afirma.

‘Símbolo de sustentabilidade’, diz morador

Registros em imagens e vídeos de moradores do Afuá viralizaram nas redes sociais nos últimos meses. No vai e vem do dia a dia dos afuaenses, é comum ver um amontoado de bicicletas em frente às escolas do município ou na frente do hospital, por exemplo.

O fotógrafo Fabrício Guedes Dias, de 25 anos, acredita que os internautas ficam encantados com a vida “pacata” e “alegre” que a cidade oferece. Ele é “nascido e criado” no Afuá, como se diz no linguajar nortista.

“Afuá se tornou um símbolo de sustentabilidade. O relacionamento do afuaense com sua bike começa já bem cedo, com uma cadeirinha adaptada na bicicleta, é possível levar os bebês e crianças que ainda não tem coordenação motora para assumir o guidão para passear e usar como transporte. A paixão pela bicicleta é algo que fica pra sempre no coração do afuaense, pois é uma parte intrínseca de cada cidadão desta cidade, pois onde tem gente, tem bicicleta”, declara.

O fotógrafo conta que outro meio de transporte bastante usado por aqui é o “bicitáxi”, uma forma de triciclo adaptado. “Ele foi inventado por um morador de Afuá conhecido como Sarito Souza. Geralmente quem mais precisa de serviços de transporte em Afuá são os visitantes, levando em conta que o povo Afuaense já quase nasce montado na bicicleta”, brinca.

Para os turistas, existem opções de aluguel de bicicleta ou a locomoção pelos famosos bicitaxis. “Os passeios a pé pela cidade também são muito bem-vindos no início da manhã, quando os idosos estão exercitando a saúde ao ir caminhar na pista da cidade e ao comprar pão”, afirma.

Outro passeio garantido para quem deseja ver o melhor da Veneza Marajoara é pela orla da cidade. “No fim de tarde, o passeio a pé também pode ser maravilhoso, preferencialmente pelas orlas para que se aprecie um pôr do sol que não se encontra em qualquer lugar”, conclui o fotógrafo.

Fonte: Terra

Dino manda PF investigar R$ 695 milhões em ’emendas Pix’

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O ministro do STF Flávio Dino quer que a Polícia Federal investigue R$ 695 milhões em “emendas Pix” pagas entre 2020 e 2024. São casos em que prefeituras não prestaram contas sobre a aplicação do dinheiro.

O que aconteceu

  • Dino é relator de processo sobre a falta de transparência das “emendas Pix”. Esse tipo de emenda era paga sem que os municípios precisassem dizer como usariam o dinheiro — no jargão político, sem apresentar um plano de trabalho. Mas, por determinação do STF, os planos de trabalho passaram a ser exigidos.
  • Ainda há 964 casos de “emendas Pix” sem transparência, totalizando R$ 695 milhões. A informação foi prestada a Dino pelo TCU (Tribunal de Contas da União), baseado em dados disponíveis até 30 de julho. Em fevereiro, eram 8.263 casos.
  • Dino pediu que o TCU informe quais são essas emendas, divididas por estado, para que a Polícia Federal possa iniciar investigação. Prazo para a corte fornecer as informações é de 10 dias úteis. Dino afirmou que a ausência de cadastro caracteriza uma “situação de parcial descumprimento de decisão judicial”.

“Oficie-se ao Exmo. Ministro-Presidente do TCU para que, no prazo de 10 dias úteis, junte a identificação das “emendas individuais” referentes aos 964 Planos de Trabalho não cadastrados, por Estado-Membro, a fim de que as informações sejam enviadas para cada Superintendência da Polícia Federal, visando à instauração de Inquérito Policial.”
Flávio Dino

  • A “emenda Pix” foi criada em 2019 e considerada inconstitucional pelo STF no ano passado. Este tipo de repasse foi criado para permitir o envio direto de recursos federais a Estados e municípios.
  • Inicialmente, a emenda desobrigava a apresentação de projetos ou políticas públicas específicas para o uso do dinheiro. A exigência de um plano de trabalho foi estabelecida pelo STF como resposta a essa lacuna de transparência, com o objetivo de garantir maior rastreabilidade sobre o uso das verbas públicas.
  • Dino também mandou oficiar bancos públicos para que bloqueiem transações suspeitas com recursos de emendas. A decisão vale para os presidentes do Banco do Brasil, da Caixa e do Banco do Nordeste. O ministro quer que as instituições financeiras que operam com emendas parlamentares criem maneiras de “travar/bloquear movimentações” que resultem em transferências para outras contas (“contas de passagem”) ou saque na “boca do caixa”.

Fonte: UOL

Encontro de Municípios de FDIRS reúne gestores para debater PPPs e concessões

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Evento, em parceria com o Connected Smart Cities, apresentará oportunidades de desenvolvimento em sete setores estratégicos, com participação de autoridades e especialistas do setor público e privado

O Encontro de Municípios do FDIRS, realizado em parceria com o Connected Smart Cities, reunirá prefeitos, secretários e gestores municipais para discutir oportunidades de desenvolvimento por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPPs) em todo o país. Com um patrimônio líquido de 1 bilhão de reais, o FDIRS é o primeiro fundo de capital da União com gestão privada e discricionária, voltado a viabilizar projetos estratégicos nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios.

Leia mais: Connected Smart Cities 2025 estreia palco exclusivo sobre PPPs e Concessões em parceria com a B3 e o FDIRS

O evento, que acontece no dia 26 de agosto em Brasília, abordará sete setores prioritários do fundo: iluminação pública e smart cities, saneamento básico, resíduos sólidos, perímetro irrigado, PPPs sociais voltadas à educação e saúde, além de mobilidade urbana. A programação inclui apresentações sobre a origem do FDIRS, seu público-alvo e formas de acesso, a jornada dos municípios nas PPPs e concessões, tipos de projetos apoiados, desafios jurídicos e institucionais, fontes de financiamento e fomento, casos práticos e projetos em andamento, além de uma sessão final de perguntas e esclarecimentos.

Leia mais: Lançamento do Evento P3C marca encontro decisivo para o futuro das PPPs e Concessões no Brasil

Entre os palestrantes estão Alexandre Carneiro e Cleyton Barros, do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Eduardo Tavares, secretário nacional de Fundos e Instrumentos Financeiros, e Waldez Góes, ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional. Representantes do setor privado, como Frederico Martins, da Madruga BTW, Gustavo Valente, da Vinci Compass, e Luiz Campos, da EY, também apresentarão suas experiências. Caio Buarque, subsecretário de Parcerias e Ações Estratégicas da Prefeitura de Maceió, e Gilberto Perre, secretário executivo da Frente Nacional de Prefeitos, contribuirão com perspectivas sobre gestão e implementação de projetos municipais.

O encontro promete ser um espaço estratégico para que gestores municipais troquem experiências, esclareçam dúvidas e conheçam caminhos para estruturar projetos inovadores e sustentáveis por meio de PPPs e concessões, fortalecendo a cooperação entre o setor público e privado. 

Clique aqui para saber mais sobre o Encontro de Municípios do FDIRS

Nova lei do licenciamento ambiental torna obrigatórios processos digitais no Brasil

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Órgãos ambientais terão que se adequar ao padrão nacional e integração ao Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente.

Aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente da República em 8 de agosto de 2025, a Nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei nº 15.190/2025) estabelece regras nacionais para padronizar os procedimentos de licenciamento na União, estados e municípios.

Com entrada em vigor prevista para fevereiro de 2026 – e com mudanças que já estão vigentes logo após a sanção – a nova lei altera regras para a emissão de licenças ambientais e torna obrigatória a tramitação 100% digital até 2029.

Além disso, todas as plataformas utilizadas em órgãos ambientais, deverão ser integradas ao Sinima (Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente). A lei prevê que todos os entes federativos adotem sistemas digitais capazes de processar solicitações, emitir licenças e gerar relatórios em tempo real.

O objetivo é unificar procedimentos, dar previsibilidade a empreendedores e gestores públicos, e reduzir a disparidade de critérios hoje existentes entre regiões.

Adequação imediata é fundamental

Especialistas alertam que prefeituras e órgãos ambientais devem se antecipar ao prazo de 2029, iniciando imediatamente os ajustes necessários.

As medidas incluem:

  • Atualizar legislações locais;
  • Publicar listas de atividades de baixo impacto (LAC – Licença por Adesão e Compromisso);
  • Definir o rito da LAE (Licença Ambiental Especial);
  • Implantar sistemas digitais compatíveis;
  • Integrar dados ao Sinima;
  • Treinar equipes técnicas para operação no novo formato.

“Quem começar agora, chega em 2029 com processos consolidados, equipe treinada e menos risco de paralisações. Esperar o prazo final é correr contra o tempo em um cenário cada vez mais exigente”, afirma Marco Antonio Zanatta, CEO e fundador da Aprova – Govtech especializada na automatização de serviços públicos com inteligência artificial.

Licenciamento ambiental 100% digital

Mesmo antes da nova lei, prefeituras e órgãos ambientais em diversas cidades do país contam com tecnologias que permitem a tramitação 100% digital do licenciamento.

No Instituto Itajaí Sustentável (INIS), a automatização reduziu em mais de 80% o tempo de análise das licenças, eliminou filas e garantiu previsibilidade para empreendedores e técnicos.

“O órgão ambiental é sempre o patinho feio da história, o que atravanca. Hoje a gente é visto como um órgão eficiente, referência no município e região. Somos o pessoal que resolve, não o que atrapalha”, conta Felipe Ramiro Phaelante, diretor de Licenciamento e Fiscalização do INIS.

Para Zanatta, a experiência demonstra, na prática, os impactos que a nova legislação pretende alcançar em todo o país.

Segundo ele, o licenciamento digital permite que os órgãos ambientais atuem de forma mais estratégica, com acesso rápido a informações e cruzamento de dados em tempo real.

“Quando o processo é automatizado e os sistemas são integrados, o licenciamento se torna mais rápido, seguro e previsível. Isso reduz custos operacionais, melhora a arrecadação, evita atrasos em obras e amplia a transparência. É um avanço que coloca empreendedores e órgãos ambientais no mesmo patamar de informação e controle”, conclui.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

‘Psicose de IA’: o aumento de relatos que preocupa chefe da Microsoft

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O chefe de inteligência artificial (IA) da Microsoft, Mustafa Suleyman, alertou para o aumento de relatos de pessoas que sofrem de “psicose de IA”.

Em uma série de publicações no X (antigo Twitter), ele escreveu que ferramentas de IA que “parecem conscientes” — ou seja, que dão a impressão de serem dotadas de consciência — o têm deixado “acordado à noite” e já têm impacto social, mesmo sem qualquer consciência em termos humanos.

“Não há nenhuma evidência de consciência em IA hoje. Mas se as pessoas a percebem como conscientes, vão acreditar nessa percepção como realidade”, afirmou.

Segundo Suleyman, está ligado a isso o surgimento de uma condição chamada “psicose de IA”: um termo não clínico usado para descrever casos em que pessoas passam a depender cada vez mais de chatbots como ChatGPT, Claude e Grok e acabam convencidas de que algo imaginário é real.

Exemplos incluem acreditar que descobriram uma função secreta da ferramenta, desenvolver uma relação romântica com ela ou chegar à conclusão de que possuem superpoderes divinos.

‘Ele nunca contestou’

Hugh, da Escócia, diz que se convenceu de que estava prestes a se tornar multimilionário depois de recorrer ao ChatGPT para ajudá-lo a se preparar para contestar o que considerava uma demissão injusta.

O chatbot começou orientando-o a reunir referências pessoais e tomar outras medidas práticas.

Com o tempo, porém, e à medida que Hugh — que preferiu não revelar o sobrenome — fornecia mais informações, a IA passou a afirmar que ele poderia receber uma grande indenização. Em certo momento, disse que sua experiência era tão dramática que um livro e um filme sobre o caso renderiam mais de £ 5 milhões (cerca de R$ 35 milhões).

Basicamente, ele estava apenas validando tudo que Hugh dizia — que é para o que os chatbots são programados.

“Quanto mais informações eu dava, mais ele respondia: ‘Esse tratamento é terrível, você deveria receber mais do que isso'”, disse ele.

Segundo Hugh, o ChatGPT nunca contestou nenhuma de suas afirmações.

Hugh conta que a ferramenta chegou a aconselhá-lo a procurar o Citizens Advice — entidade britânica que oferece orientação gratuita sobre direitos e questões cotidianas, como trabalho e moradia.

Ele chegou a marcar uma consulta, mas, convencido de que o chatbot já lhe dera tudo o que precisava saber, cancelou a consulta.

Hugh decidiu que as capturas de tela de suas conversas eram prova suficiente. Disse que começou a se sentir como um ser humano especial, dotado de conhecimento supremo.

Ele, que já enfrentava outros problemas de saúde mental, acabou tendo um colapso.

Foi durante o tratamento com medicação que percebeu que havia, em suas palavras, “perdido o contato com a realidade”.

Hugh não culpa a IA pelo que aconteceu. Ele ainda a utiliza. Foi o ChatGPT que lhe deu meu nome quando decidiu que queria falar com um jornalista.

Mas deixa um conselho: “Não tenha medo das ferramentas de IA, elas são muito úteis. Mas é perigoso quando se afastam da realidade.”

“Use-a e verifique, mas converse com pessoas de verdade — um terapeuta, um familiar, qualquer um. Fale apenas com pessoas reais. Mantenha-se com os pés na realidade.”

A OpenAI, dona do ChatGPT, foi procurada para comentar, mas a BBC não obteve resposta.

“Empresas não deveriam afirmar nem promover a ideia de que suas IAs são conscientes. As próprias IAs também não deveriam”, escreveu Suleyman, da Microsoft, pedindo regras mais rígidas.

A médica radiologista Susan Shelmerdine, do Great Ormond Street Hospital e pesquisadora em IA, acredita que um dia os médicos poderão começar a perguntar aos pacientes quanto usam ferramentas de IA, da mesma forma que hoje perguntam sobre tabagismo e consumo de álcool.

“Já sabemos o que alimentos ultraprocessados podem fazer ao corpo — e isto é informação ultraprocessada. Vamos receber uma avalanche de mentes ultraprocessadas”, disse.

‘Estamos apenas no começo disso’

Diversas pessoas procuraram a BBC recentemente para compartilhar histórias pessoais sobre suas experiências com chatbots de IA. Os relatos variam, mas todos têm em comum a convicção de que o que viveram foi real.

Uma mulher escreveu que tinha certeza de ser a única pessoa no mundo por quem o ChatGPT havia realmente se apaixonado.

Outra acreditava ter “desbloqueado” uma forma humana do Grok, chatbot de Elon Musk, e dizia que sua história valia centenas de milhares de libras.

Uma terceira relatou que um chatbot a teria submetido a abuso psicológico como parte de um treinamento secreto de IA, deixando-a em grande sofrimento.

Andrew McStay, professor de tecnologia e sociedade da Universidade de Bangor, no País de Gales, escreveu o livro Automating Empathy (“Automatizando a Empatia”, em tradução livre).

“Estamos apenas no começo disso”, disse McStay.

“Se pensarmos nesses sistemas como uma nova forma de rede social — como uma IA social —, podemos começar a dimensionar o alcance do fenômeno. Uma pequena porcentagem de um número massivo de usuários ainda representa um contingente grande e inaceitável.”

Neste ano, sua equipe realizou uma pesquisa com pouco mais de 2 mil pessoas, que responderam a várias perguntas sobre IA.

O estudo mostrou que 20% acreditam que ferramentas de IA não devem ser usadas por menores de 18 anos. No total, 57% consideram totalmente inadequado que a tecnologia se identifique como uma pessoa real quando questionada, mas 49% acham apropriado que use voz para soar mais humana e envolvente.

“Embora essas ferramentas soem convincentes, não são reais”, afirmou.

“Elas não sentem, não entendem, não amam, nunca sentiram dor, nunca passaram vergonha. E, embora possam soar como se tivessem vivido isso, apenas família, amigos e pessoas de confiança viveram. Procure conversar com pessoas reais.”

Fonte: BBC

De cada 10 residências no país, 3 não têm esgoto ligado à rede geral

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Piores condições são nas regiões Norte e Nordeste

Dos cerca de 77 milhões de domicílios que o Brasil tinha em 2024, 29,5% não tinham ligação com rede geral de esgoto. Isso representa três em cada dez. Os dados constam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento compara a situação de 2024 à de 2019. Cinco anos antes, o país tinha 68% dos lares ligados à rede geral e 32% sem ligação.

O grupo de 70,4% dos domicílios com acesso à rede geral inclui os endereços com ligação do banheiro a uma rede coletora e ainda as residências com fossa séptica ligada à rede.

Fonte: IBGE | Agência Brasil

Os dados do IBGE apontam as características dos esgotamentos, mas não se debruçam sobre o fato de os resíduos terem ou não tratamento.

Um estudo divulgado na última terça-feira (19) pela organização da sociedade civil Instituto Trata Brasil assinala que pouco mais da metade (51,8%) do esgoto produzido no país é tratada.

Diferenças regionais

A Pnad aponta desigualdades regionais em relação ao tipo de esgotamento dos domicílios. A Região Sudeste supera a média nacional. As piores condições são localizadas no Nordeste e no Norte.

 

Fonte: IBGE | Agência Brasil

No Norte, a classificação outro tipo ─ que inclui casos como fossa rudimentar, vala ou córrego ─ chega a 36,4%, sendo a mais comum na região e mais que o dobro da média nacional (14,4%).

A observação por unidades da federação revela que São Paulo (94,1%), Distrito Federal (91,1%), Rio de Janeiro (89,2%) e Minas Gerais (84,6%) aparecem no topo do ranking da ligação de esgoto à rede geral.

As piores proporções são no Piauí (13,5%), Amapá (17,8%), em Rondônia (18,1%) e no Pará (19,3%).

Ao dividir o Brasil em urbano e rural, o IBGE constata que, nas cidades, 78,1% dos domicílios têm esgoto ligado à rede. No campo, apenas 9,4%.

Abastecimento de água

A Pnad analisou também a forma de os lares brasileiros receberem água. No país, 86,3% das residências têm rede geral de distribuição como principal forma de abastecimento. O Norte e Nordeste carregam os piores índices.

Fonte: IBGE | Agência Brasil

Rondônia é o único estado do país onde menos da metade (47,4%) dos domicílios tem rede geral como principal forma de abastecimento. São Paulo (96,6%) e Distrito Federal (96,5%) ostentam os maiores percentuais.

Mais do que verificar o percentual de domicílios que têm ligação com a rede geral de água, o IBGE identificou qual parcela tem disponibilidade diária dessa rede, ou seja, consegue receber água todos os dias.

No Brasil, são 88,4% dos lares. Pernambuco (44,3%) e Acre (48,5%) têm menos da metade dos domicílios ligados à rede com disponibilidade diária. O topo do ranking fica com o Distrito Federal (98,2%) e Mato Grosso do Sul (98%).

Coleta de lixo

A pesquisa do IBGE mostra que 86,9% dos domicílios brasileiros contam com serviço de coleta de lixo.

Fonte: IBGE | Agência Brasil

A Pnad observa que, no Norte (14,4%) e no Nordeste (13,1%), a parcela de residências que colocam fogo no lixo é maior que o dobro da média nacional.

Alvenaria

O levantamento mostra que o Norte do país diminuiu a distância em relação às outras regiões relacionadas à característica estrutural dos domicílios.

No país, 89,3% das residências têm paredes construídas predominantemente de alvenaria (tijolo e cimento) com revestimento. No Norte, de 2016 para 2024, essa parcela passou de 61,5% para 71,2%.

Em relação ao material predominante no piso, no intervalo de oito anos, os lares nortistas que contam com cerâmica, lajota ou pedra passaram de 58,2% para 69,3% do total da região. No país como um todo, são 82,3%.

Fonte: Agência Brasil

”Papel do Ministério dos Transportes é prover infraestrutura para que a economia brasileira possa crescer mais rápido”, diz Renan Filho

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Ministro apresentou balanço e prioridades da pasta durante audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (20); projeto sobre CNH mais acessível foi destaque

ola propulsora fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, a infraestrutura de transportes vive seu maior ciclo de investimentos. Somente o modal rodoviário recebeu, nos últimos dois anos e oito meses, R$176 bilhões da iniciativa privada, em 16 leilões realizados.

A previsão é que, nesse ritmo de crescimento, o investimento privado no setor atinja a marca anual de R$45 bilhões em 2030.

“Isso, isoladamente, deve gerar um crescimento anual de 0,3% do PIB brasileiro. A previsão de investimentos privados para sete anos é de R$218 bilhões, de 2023 até 2029, enquanto o valor executado nos últimos 27 anos foi de R$129 bilhões, de 1995 até 2022”, afirmou o ministro dos Transportes, Renan Filho, durante audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (20).

Renan Filho participou da Comissão de Viação e Transportes da Casa Legislativa, onde apresentou as prioridades da pasta para 2025.

“Participar desta comissão enriquece o trabalho do Ministério dos Transportes, é uma oportunidade de prestação de contas das nossas ações”, completou Renan Filho.

Entre as preocupações com os milhões de cidadãos que percorrem as estradas do país, o ministro dos Transportes detalhou o projeto que busca democratizar e tornar mais acessível o processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

“O Brasil tem uma das carteiras de habilitação mais caras do mundo. Isso resulta em cerca de 20 milhões de brasileiros dirigindo de maneira ilegal no país. O que estamos propondo é baratear esse custo, à luz da experiência internacional”, explicou o ministro.

A iniciativa busca desburocratizar o processo e desobrigar um número mínimo de aulas práticas, entre outros pontos. As provas — teórica e prática — seguem como são hoje, aplicadas pelos Detrans. O objetivo é aumentar a segurança viária — com pessoas preparadas, dirigindo dentro da lei —, e diminuir os excluídos do volante.

“Imagine o trabalhador, a dona de casa, a diarista, como ela vai arrumar tempo para fazer 40 horas de aula e, além disso, 20 horas de direção?”, questionou Renan Filho.

Compromisso e fiscalização

Outro ponto levantado na audiência foi a dedicação da pasta em relação à fiscalização dos contratos firmados com a iniciativa privada. Renan Filho citou a decisão sobre a concessão da EcoSul, no Rio Grande do Sul, e esclareceu que não haverá renovação do contrato que termina em março de 2026.

O modelo inicialmente firmado pelo Estado, e posteriormente assumido pela União, está desatualizado, o que evidencia os problemas da empresa em administrar as BRs 116/RS e BR-392, que enfrentam obras paralisadas.

“O contrato será finalizado no prazo e nós faremos uma nova concessão, que permita melhores preços e mais investimentos para o estado. Não vamos prorrogar, porque o povo gaúcho sofreu muito e não vai sofrer mais”, detalhou o ministro dos Transportes.

Escoamento do agronegócio

Destaque global como líder na produção e comércio de diversos produtos do agronegócio, o Brasil é, atualmente, o maior produtor e exportador de soja, responsável por 40% da cadeia mundial. O país ocupa ainda as primeiras posições em café, suco de laranja, açúcar, carne bovina e frango. O ministro dos Transportes ressaltou os esforços para aprimorar a capacidade das rodovias e ferrovias que são utilizadas para o transporte dos insumos.

“Nosso desafio é acompanhar o crescimento da safra brasileira. Somente este ano, a safra tem uma previsão de 345 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 16% em relação à anterior”, observou Renan Filho. “Uma das tendências é que o Arco Norte continue ampliando sua participação, que passou de 26% na exportação nacional em 2017 para 38% em 2024.”

Qualidade das rodovias

Nos dois anos e oito meses à frente da pasta dos Transportes, o ministro Renan Filho atuou para reverter o sucateamento e a negligência nas rodovias brasileiras causados pela gestão anterior.

“Do final de 2022 para o final de 2023, a malha considerada boa subiu de 52% para 75%. Já as estradas consideradas ruins e péssimas caíram de 23% para 7%. Os parlamentares aqui presentes podem perceber isso ao trafegar pelas rodovias dos seus estados”, disse.

Investimento recorde

No ano passado, o Brasil alcançou um recorde de R$259 bilhões em investimentos em infraestrutura de transportes, superando o marco anterior de 2014, que, ajustado pela inflação, totalizava R$239 bilhões. Desse total, R$197 bilhões correspondem a investimentos privados, enquanto R$62 bilhões são investimentos públicos.

“Desses R$62 bilhões de recursos públicos nacionais, o Ministério dos Transportes é responsável por R$15 bilhões. Dos R$197 bilhões de investimentos privados, o ministério também pilota a maior parte, com uma pequena divisão com os setores de energia e óleo e gás, devido à capacidade de investimento da Petrobras”, contou Renan Filho.

Entre as metas a serem atingidas, o ministro destacou o objetivo de alcançar o investimento privado em R$45 bilhões por ano até 2030.

Reconstrução gaúcha

Após a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024, o Ministério dos Transportes se empenhou em devolver, com agilidade, os principais caminhos aos gaúchos.

Ao todo, foram destinados quase R$3 bilhões para a reconstrução de rodovias e pontes, além do trabalho de 1,2 mil profissionais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

“O PIB brasileiro cresceu 3,4% em 2024 e, com o fortalecimento dos investimentos, as ações de recuperação e os recursos destinados à região, o PIB do Rio Grande do Sul, pela primeira vez na década, cresceu mais do que a média nacional, ficando em 4,9%. Nos últimos 3 anos, foi a primeira vez que o crescimento do estado superou a média nacional”, afirmou Renan Filho.

Fim da espera

Investimentos robustos permitem a finalização de grandes obras, como o Contorno do Mestre Álvaro na BR-101, no Espírito Santo. A população da Grande Vitória aguardava a entrega havia décadas.

“Na região de Serra, todo o tráfego da BR-101 era por dentro e, em períodos de pico no trânsito, o motorista leva duas horas para dirigir diariamente. Agora desafogou bastante”, celebrou o ministro dos Transportes.

Já no modal ferroviário, o destaque é a retomada dos serviços na Transnordestina, que ficaram quatro anos parados. “Essa é a maior obra de infraestrutura do Nordeste, são R$12 bilhões de investimento para que o projeto esteja andando a pleno vapor. Há 4 mil homens trabalhando para construir a maior ferrovia que vai ligar o Piauí ao Ceará e a Pernambuco, conectando três portos importantes”, disse.

O que vem por aí

Uma das prioridades da pasta para o próximo semestre é a conclusão de importantes obras que o governo passado deixou inacabadas. Uma delas é a ponte de Xambioá, sobre o Rio Xingu, no Pará.

“Todas as providências foram tomadas e essa ponte será entregue agora, no segundo semestre deste ano. A ligação entre o agro do Maranhão com o agro do Piauí também está em pauta, com a construção das pontes nas cidades de Tasso Fragoso e Ribeiro Gonçalves”, finalizou Renan Filho.

Fonte: Ministério dos Transportes

Governança de Ecossistemas

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Orquestrar para Avançar

No coração de qualquer ecossistema de inovação bem-sucedido está a governança. Ela é a
força que precisa superar egos e alinhar todos os participantes em torno de um objetivo
comum. A governança orquestra as relações e mostra que cada parte só alcança sua força
máxima quando atua de forma conjunta. No fim do dia, o grande resultado é sempre a
melhoria do ambiente de negócios, impulsionando o crescimento e a aceleração das
iniciativas inovadoras.

Reconhecer e valorizar esse trabalho é fundamental para que a governança se fortaleça e
inspire novas práticas. É justamente com esse propósito que surge o CSC Ecossistemas de
Inovação, um selo que vai além do reconhecimento simbólico: ele valida a capacidade das
lideranças locais de orquestrar suas iniciativas, coroa o esforço coletivo e estabelece
parâmetros claros para que outros ecossistemas possam aprender e evoluir.

Para mim, o CSC Ecossistemas de Inovação é mais do que um reconhecimento, é um
catalisador para que cidades e regiões assumam uma gestão estratégica da inovação. Ele cria parâmetros claros, inspira boas práticas e fortalece a governança compartilhada entre governo, empresas, academia e sociedade civil.

O Desafio da Orquestração

Bom se esse processo fosse simples e fluido, mas não é. E um dos grandes desafios que temos visto na governança de um ecossistema de inovação é aproximar grandes empresas (corporates) que, por sua natureza, atuam de forma mais independente. Pense, por exemplo, em um porto, um aeroporto ou uma ferrovia. Esses grandes equipamentos de infraestrutura não estão focados apenas no mercado local; eles servem a uma gama ampla de clientes e usuários. Por isso, coordenar suas ações dentro de um ecossistema local pode ser complexo.

Na Exxas, temos observado que um dos caminhos para trazer essas grandes empresas para mais perto do ecossistema é ter uma governança bem organizada, com um plano e uma visão de futuro claros. Isso ajuda essas empresas a enxergarem que o ecossistema tem um propósito e que vale a pena se envolver. Além disso, envolvê-las diretamente na governança é uma forma de fazê-las compreenderem a importância desse papel e, com o tempo, se sentirem motivadas a investir e participar mais ativamente.

A inovação aberta também se torna um grande fator de aproximação. Quando essas grandes empresas percebem que podem resolver seus desafios operacionais se conectando com startups, pesquisadores ou parceiros locais, elas passam a ver valor na integração com o ecossistema. É assim que a orquestração se torna não apenas uma meta, mas uma ponte concreta para o crescimento conjunto.

A Importância da Medição de Resultados

Um ponto crucial na governança de ecossistemas de inovação é a capacidade de medir e
demonstrar resultados concretos. Programas como o Centelha, em Santa Catarina, já
demonstraram que o retorno econômico e fiscal das empresas apoiadas pode ser várias vezes superior ao investimento inicial. Esses dados ajudam a justificar o investimento contínuo, especialmente por parte do setor público.

No entanto, ainda existe um desafio significativo: muitas governanças encontram dificuldade em mensurar o impacto econômico de ambientes de inovação, especialmente centros e parques tecnológicos, na economia local, por exemplo no que diz respeito ao recolhimento de impostos. Esse tipo de indicador é vital para mostrar como o ecossistema deixa recursos localmente e reforça a importância do investimento público nessas iniciativas.

Do Reconhecimento à Ação

Em última análise, a governança de ecossistemas de inovação é o que transforma uma coleção de atores individuais em uma força coletiva poderosa. Medir resultados de forma clara e envolver empresas, entidades associativas empresariais, instituições públicas, academia e entidades da sociedade civil organizada na orquestração do ecossistema não é apenas uma estratégia, mas uma necessidade para garantir que todos avancem juntos em direção a um objetivo comum.

O CSC Ecossistemas de Inovação cumpre um papel essencial nesse contexto: além de coroar o trabalho realizado, ele oferece um padrão de referência e incentiva a continuidade das boas práticas. É um lembrete de que o reconhecimento deve ser apenas o começo, o verdadeiro valor está em transformar esse prestígio em ações concretas que fortaleçam a rede, ampliem a colaboração e mantenham a inovação viva no dia a dia dos territórios.

Vamos inovar juntos?

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

Primeiro prédio do Parque Palafitas já toma forma no Dique da Vila Gilda em Santos

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O Parque Palafitas, projeto de revitalização da maior favela de palafitas do País, começou a tomar forma visível de conjunto habitacional com o posicionamento dos 57 painéis pré-fabricados que vão compor o andar térreo do primeiro prédio do empreendimento no Dique da Vila Gilda (Bom Retiro).

Ao todo, serão erguidos quatro conjuntos de apartamentos com 44 unidades e dois de casas, cada um com oito residências térreas, totalizando 60 habitações.

O primeiro painel, com pouco mais de uma tonelada, foi içado na segunda-feira (18) e posicionado por um guindaste na primeira das sete lajes já concretadas – é a primeira das quatro suspensas sobre a maré e sustentada por 49 estacas e blocos.

“Começamos a erguer o primeiro prédio, que ficará pronto em um mês; é um trabalho rápido, é uma obra de qualidade dando dignidade para as pessoas. O Parque Palafitas é um projeto-piloto não só para Santos, mas para o Brasil. O maior orgulho é que esta obra vai mudar a vida de muita gente”, afirmou o prefeito Rogério Santos, em visita às obras na manhã de terça-feira (19).

Além do primeiro prédio, essa laje, abrigará também as instalações da associação dos moradores. O prédio disporá de térreo e um andar (também formado por 57 painéis), cada um com quatro apartamentos, totalizando oito unidades habitacionais.

“A proposta é estabelecer uma nova forma de ocupação sustentável nas áreas de mangue, de forma a proporcionar condições dignas de moradia a famílias hoje instaladas precariamente no local”, ressaltou o titular da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra), Fabrício Cardoso,

O projeto da Prefeitura envolve soluções construtivas mais simples e rápidas, a exemplo dos imóveis, que serão pré-fabricados. “O Parque Palafitas contará com toda a infraestrutura necessária como iluminação pública, água e esgoto, área para lazer e comércio, parques e espaços para regeneração do mangue”, frisou o secretário. O local será dotado, ainda, de infraestrutura de telecomunicações e de combate a incêndio.

O projeto de revitalização da favela utiliza a metodologia de estaqueamento com laje, aplicada em outros países e semelhante à empregada na construção de terminais portuários.

As sete lajes de apoio, cinco já prontas foram concretadas sobre 212 estacas com blocos de fundação, fincadas a uma profundidade entre 30 e 35 metros.

A sexta laje deverá ser concretada nesta quarta-feira (20), e a última, sobre a qual será instalada a área comercial, ainda não tem data prevista. O entorno da área das lajes de apoio suspensas terá proteção de guarda-corpo, com 205m de extensão.

CONSTRUÇÕES

A segunda laje, com 260m², é a primeira apoiada no solo, e terá um prédio de quatro andares (térreo mais 3), totalizando 16 apartamentos. Já a terceira, também no solo e com a mesma área, disporá de uma edificação com três andares (térreo mais dois), para 12 apartamentos.

Já a quarta e quinta lajes (521m² e 244m²), também suspensas sobre a maré, receberão, respectivamente, oito casas térreas cada. No primeiro caso, quatro casas serão destinadas a pessoas com deficiência (PcD) e, sobre a quinta laje, haverá também um prédio com dois andares (térreo e um andar), para oito apartamentos.

Sobre a sexta laje (595m²), a quarta sobre a maré, serão construídas oito casas, enquanto a sétima (600m²), a terceira sobre o solo, destina-se à área comercial do Parque Palafitas, que contará com duas edificações em formato de ‘L’.

Também será instalado um píer flutuante, integrado por dois módulos de 12m por 3m, para utilização de passageiros de embarcações, nos moldes do existente na Ponte Edgard Perdigão (Ponta da Praia).

HABITAÇÕES

Cada apartamento do Parque Palafitas terá 41,69m², com sala, dois quartos, cozinha conjugada com lavanderia, banheiro e área de circulação.

Já as 16 casas serão dotadas de sala de estar e jantar integrados, cozinha, área de serviço, dois quartos, banheiro e varanda dos fundos.

As edificações gerais de apoio, institucionais e comerciais do Parque Palafitas ocuparão 309 m². Serão construídos dois prédios comerciais, um com quatro salas e o outro, com três, e a associação de moradores terá espaço próprio.

Na área do projeto, foram removidas apenas as habitações mais vulneráveis junto à água para permitir a regeneração do mangue e criar espaços de lazer, chamados de respiros.

INVESTIMENTO

As fundações e superestrutura para a implementação do Parque Palafitas estão a cargo da empreiteira TMK Engenharia S.A., vencedora da licitação pública, e representam investimento de R$ 16.586.364,04, sendo R$ 12.309.200,92 do Governo do Estado e o restante, do orçamento municipal. O prazo contratual expira em outubro.

Já a construção das 60 unidades habitacionais em estrutura modular está orçada em R$ 12.680.000,00, sendo R$ 9.353.799,08 provenientes do governo do Estado e o restante, do orçamento da Prefeitura. Essa etapa está sob responsabilidade da Tecverde Engenharia S.A., com prazo contratual até fevereiro.

Fonte: Prefeitura de Santos

Tarifaço de Trump ameaça 32 mil pescadores artesanais no Ceará: ‘É quem mais sofre e quem menos ganha’

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Quase 90% dos pescadores do Ceará têm renda mensal inferior a R$ 1.045

O Ceará exportou US$ 93,8 milhões em pescados em 2024, o maior valor entre todos os Estados do país, conforme os dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

Contêineres abastecidos especialmente de lagosta, atum e os chamados peixes vermelhos (pargo, cioba, ariacó, guaiúba) foram embarcados para 44 países.

O principal mercado, de longe, foram os Estados Unidos, destino de 46,85% do total (US$ 52,8 milhões).

A concentração fez o setor de pescados cearense ganhar atenção no noticiário em meio às discussões em torno da sobretaxa de 50% imposta pela gestão de Donald Trump a milhares de produtos brasileiros.

Depois de ferro e aço, a categoria é a segunda mais importante no comércio bilateral entre os EUA e o Ceará, Estado que envia 44,9% de tudo o que vende para o exterior para os americanos e que, por isso, deve ser o mais afetado em termos proporcionais pelo tarifaço americano.

Apesar de ser fortemente exportadora, a indústria de pescados do Ceará não é abastecida por embarcações robustas servidas por ferramentas tecnológicas.

Por trás dos grandes números, na ponta inicial da cadeia de produção estão cerca de 32 mil pescadores artesanais, conforme os registros do Ministério da Pesca e Aquicultura.

São homens em sua maioria com pouca instrução, que muitas vezes passam dias no mar em embarcações de pequeno e médio porte que geralmente pertencem a terceiros e vendem praticamente tudo o que produzem a intermediários na praia, chamados localmente de “marchantes”, ou aos donos dos barcos.

Conforme os especialistas e trabalhadores do setor ouvidos pela BBC News Brasil, são essas duas figuras que, via de regra, repassam os pescados para a indústria, que faz seu beneficiamento e os distribui ao mercado interno ou vende ao exterior.

Maioria tem renda inferior a um salário mínimo

Dos 32 mil pescadores artesanais reunidos no Painel Unificado do Registro Geral da Atividade Pesqueira e cadastrados no Ceará, 88,5% (28.931) têm renda mensal inferior a R$ 1.045 e 60% (19.646) têm ensino fundamental incompleto.

Cerca de 25% (8.378) trabalham embarcados e aproximadamente 36% (11.881) são mulheres.

“Recentemente ouvi de alguns deles que, quando a pesca é boa, eles tiram um salário mínimo por mês — isso trabalhando dois períodos, de manhã e à tarde”, diz Caroline Feitosa, professora do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), referindo-se a dados que coletou em trabalho de campo no último mês de março.

A pesquisadora explica que o nível de infraestrutura de que os pescadores artesanais do Ceará dispõem para trabalhar varia conforme o tipo de atividade à qual eles se dedicam.

Aqueles que abastecem o mercado interno são os que geralmente usam embarcações bastante simples, à vela ou movidas por um motor de rabeta e sem sistema de refrigeração a bordo.

“Mas mesmo esse pescador se desloca muito hoje em dia”, ressalta a professora. “Ele percorre praticamente toda plataforma continental [porção que vai da costa até o início da parte mais profunda do oceano]”, completa.

Nesses casos, o que é pescado geralmente é comercializado na praia, vendido a atravessadores que vão distribuir para as barracas de praia, mercados e restaurantes.

No outro extremo está a pesca de espécies como o atum, que é bastante voltada à exportação e pode acontecer em embarcações um pouco maiores e “mais confortáveis”, munidas de equipamentos como GPS e sonda e com autonomia para ficar até 40 dias no mar.

Nesse nicho, os donos dos barcos geralmente negociam diretamente com a indústria a compra do que for pescado.

Boa parte das embarcações de médio porte usadas na captura para exportação de outros peixes, contudo, é mais simples: “Eles usam basicamente um GPS, marcação em pontos de terra [usadas como referência]…e a experiência.”

E há, ainda, a pesca da lagosta, que também é muito voltada para o mercado externo e que pode acontecer com pequenos botes motorizados e até jangada, ainda de acordo com a pesquisadora, que é também coordenadora do Laboratório de Dinâmica Populacional e Ecologia de Peixes Marinhos (Dipemar), que se dedica ao estudo da pesca artesanal.

Elo mais fraco

Independentemente da dinâmica de trabalho, Feitosa ressalta que os pescadores são o elo mais vulnerável da cadeia e, por isso, correm o risco de sentir os principais efeitos negativos do tarifaço.

“O pescador é quem mais trabalha, quem mais sofre e quem menos ganha”, ela pontua.

O diretor técnico e presidente do Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe), Carlos Eduardo Villaça, faz análise parecida. Dada a importância da exportação na atividade de pesca no Estado, “todos esses pescadores vão ser impactados de alguma forma” pela tarifa de 50% imposta aos produtos embarcados aos EUA, ele avalia.

No momento, as colônias de pescadores do Ceará tentam entender como esse impacto vai se desenhar.

Ainda que o tarifaço tenha entrado em vigor no último dia 6 e que a embarcação de alguns contêineres de pescado tenha sido suspensa, o efeito dominó de uma possível redução das vendas aos EUA ainda não foi plenamente sentido nessa ponta da cadeia.

A pesca no Ceará geralmente arrefece nesta época do ano, marcada por fortes ventos no litoral.

Maria Cristina de Sousa, presidente da Colônia de Pescadores Z-8 de Fortaleza, conta que muitos a têm questionado nos últimos dias sobre o que esperar, depois de terem “escutado alguma coisa na televisão ou de terem ouvido de parentes” que seu trabalho poderia ser negativamente afetado por uma decisão do presidente dos EUA.

“Eles estão assustados”, diz ela, que foi marisqueira, é filha de pescador e desde o ano passado representa 2,6 mil pescadores artesanais da capital cearense.

O assunto, segundo Sousa, vai ser discutido na próxima segunda-feira (25/8) em uma reunião entre pescadores, proprietários de barcos, empresários e agentes do poder público na sede da colônia.

Um dos temores dos pescadores é que eles sejam pressionados pelos intermediários a vender o que tiram do mar a preços ainda mais baixos do que os praticados hoje.

Esse é um cenário possível, na avaliação de Felipe Matias, que é cientista-chefe da Economia Azul da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), ligada à Secretaria de Pesca e Aquicultura.

Poderia acontecer caso a indústria tentasse reduzir o preço de venda em dólar para compensar em parte a tarifa de 50%, ele exemplifica. Ou mesmo que conseguisse redirecionar uma parte da produção antes destinada a exportação para o mercado doméstico, que tradicionalmente, por conta do câmbio, paga mais barato pelos pescados.

Nesses casos, as empresas que beneficiam os pescados podem buscar atenuar a redução em suas margens de lucro tentando negociar preços mais baixos com os atravessadores que, por sua vez, podem repassar essa pressão aos pescadores.

Feitosa também avalia que esse é um desdobramento possível. “Claro que vai diminuir da ponta do pescador”, ela comenta.

O governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), anunciou quatro medidas para tentar reduzir o impacto do tarifaço americano, entre elas a compra de produtos das empresas afetadas pelo governo.

No caso dos pescados, eles seriam direcionados, por exemplo, para programas como o Ceará Sem Fome e para escolas e hospitais.

O governador já afirmou, contudo, que o Executivo não pagaria o preço de exportação dos itens.

O declínio da pesca industrial no Ceará (e no Brasil)

A predominância da pesca artesanal na cadeia de produção de pescados no Ceará — e na maioria dos Estados do país — se deve a uma mudança profunda no ecossistema marinho do litoral brasileiro últimas décadas.

A pesca industrial chegou a ser praticada em larga escala décadas atrás. O pai de Maria Cristina de Sousa, inclusive, foi pescador nesse contexto, contratado formalmente por uma empresa.

A superexploração dos animais, contudo, levou à redução significativa da população de diversas espécies.

“Diminuiu a lagosta, diminuíram os peixes de forma geral… e aí as embarcações foram diminuindo, porque as mais caras não eram mais viáveis”, explica Felipe Matias, que é engenheiro de pesca.

Hoje, praticamente só Pará e Santa Catarina trabalham com embarcações maiores, concentrando boa parte dos 4,4 mil pescadores industriais que constam no registro do Ministério da Pesca e Aquicultura. Os pescadores artesanais no país somam cerca de dois milhões, segundo a base de dados.

Matias acrescenta que, apesar de extenso, o litoral do Brasil não é abundante em peixes (ou “piscoso”, no jargão do setor).

“Nós temos uma grande diversidade de espécies, mas em pouca quantidade”, aponta.

Já o Peru, ele compara, tem uma variedade bem menor de espécies, mas quantidades abundantes.

Enquanto o Brasil produz cerca de 800 mil toneladas de pescado a partir da pesca, o país vizinho, que tem um litoral um pouco maior que o do Ceará, produz entre sete e nove milhões de toneladas.

“Lá é piscoso, pelos nutrientes da água, pela corrente [marítima] de Humboldt e outros fatores”, explica.

Matias destaca que o cenário turbulento atual é transitório e vê o momento como uma oportunidade de o setor reduzir a dependência do mercado americano e buscar novas praças.

Uma delas seria, em sua visão, a União Europeia, que interrompeu as compras do Brasil por volta de 2017 alegando questões sanitárias depois de uma vistoria realizada em barcos de pesca em Santa Catarina.

Fonte: BBC