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A HORA DA DECISÃO

Oportunidade para o ônibus elétrico
Made in Brazil é agora – não podemos desperdiçá-la

O Brasil está diante de um momento decisivo de sua história econômica: tornar-se (ou não) líder global em transporte público sustentável, com marcas brasileiras e tecnologia nacional.

Estamos na iminência de consolidar uma sólida indústria nacional de ônibus elétricos, capaz de competir com as principais empresas do planeta nesse segmento. 

Estamos preparados para esse grande salto?

Não sabemos, pois sequer conseguimos consolidar a cadeia produtiva do ônibus elétrico brasileiro em nosso próprio mercado.

Ainda temos inúmeros problemas a superar em nosso próprio quintal: falta de planejamento na transição das frotas, concessionárias de energia despreparadas para atender à eletrificação, contratos ineficazes, leis  frágeis e insuficientes e programas de financiamento incapazes de enfrentar a predatória concorrência chinesa.

No final do ano passado, o Ministério do Desenvolvimento (MDIC) e a Cepal (Comissão Econômica para América Latina) lançaram um importante documento: Diretrizes e Propostas para um Plano Nacional da Cadeia de Ônibus Elétricos no Brasil.

Foi o resultado de um intenso processo de consultas e diálogo com todos os setores industriais, econômicos e tecnológicos diretamente ligados a transporte sustentável no Brasil e América Latina.

Qual foi a consequência prática desse documento? Por enquanto, nenhuma. Um ano depois, as “Diretrizes” ainda não viraram um programa de ação. Será mais um plano bem-intencionado, destinado a desaparecer numa gaveta?

Em São Paulo, município que lidera a eletrificação do transporte público no Brasil, os problemas são recorrentes. As empresas e as autoridades municipais ainda não conseguiram garantir que a concessionária local de energia forneça a infraestrutura necessária à recarga dos ônibus elétricos. 

Em consequência, veículos elétricos prontos, parados, fabricados por empresas brasileiras e tecnologia nacional, à espera de que a distribuidora de energia faça a sua parte em acordos já assinados. 

O impasse é tão crítico que já deixou de ser um problema municipal. O  atraso do programa paulistano de eletrificação de frotas ameaça toda a cadeia produtiva nacional de ônibus elétricos. Não é mais um desafio apenas para o prefeito ou os operadores locais. 

É uma tarefa que deveria envolver os mais altos escalões do governo federal, do Ministério de Minas e Energia à Agência Nacional de Energia Elétrica, responsáveis pelos grandes contratos de concessão de eletricidade.

Tropeços como esse ameaçam os objetivos nacionais de reindustrialização do país e reinserção da indústria brasileira nas cadeias produtivas globais, definidos em planos como o Mover e Nova Indústria Brasil.

Poderemos perder a oportunidade de posicionar o país como líder global nesse mercado, por falta de planejamento, visão estratégica de nossos governantes e de ousadia das elites econômicas nacionais.

É uma questão de prioridade: se quisermos voltar a ter uma indústria forte, quais produtos liderarão a neoindustrialização brasileira?

O Brasil é o único país dentre as dez maiores economias do mundo (afora o Canadá, mas devido à opção de integrar-se ao mercado americano) que nunca conseguiu desenvolver uma indústria automotiva nacional.

Todos nós admiramos as tradicionais marcas de carros dos Estados Unidos, Japão, França, Alemanha, Itália etc. Ou de países como Coreia do Sul, Índia e até Vietnã. E nos perguntamos: por que nunca tivemos nada parecido no Brasil?

Talvez pela primeira vez na história da indústria brasileira, esse jogo começa a mudar, não exatamente com automóveis, e sim com ônibus – ônibus elétricos Made In Brazil.

Mas, como em tantos outros momentos da história econômica, estamos diante de uma encruzilhada quase existencial: queremos mesmo ter uma indústria forte e inovadora? Ou nos conformaremos em ser um eterno exportador de commodities, com uma indústria subalterna, limitada a tropicalizar tecnologia estrangeira?

O momento da decisão é agora. A oportunidade está à nossa frente. Desta vez, não podemos desperdiçá-la.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

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