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INCLUSÃO DIGITAL É INCLUSÃO SOCIAL

Daniel Annenberg
Daniel Annenberg
Daniel Annenberg é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP).  Foi um dos idealizadores do Poupatempo, e seu superintendente por quase 10 anos; ex-diretor-presidente do Detran-SP, ex-Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia e atualmente é Vereador pela cidade de São Paulo.

Como a tecnologia pode auxiliar a diminuir a enorme desigualdade social no Brasil

Sempre que me perguntam qual é o principal problema do Brasil, eu digo que o maior problema é a enorme desigualdade social em que vivemos.

O Brasil é, segundo relatórios internos e também segundo estudos internacionais, um dos dez países mais desiguais do mundo (isso levando em consideração dados de 2019, ou seja, antes da pandemia – e não tenho dúvidas que com a Covid-19 infelizmente só cresceu esta desigualdade).



Para vocês terem uma ideia, o 1% da população mais rica concentra 49,6% de toda a riqueza no país (quase 50%!). E inversamente a isso, os 40% mais pobres tem acesso a não mais do que 10% das riquezas do Brasil. Só países africanos muito pobres tem uma desigualdade social pior do que a brasileira.

Isso quer dizer que aquela pequena porcentagem da população que tem muito, tem acesso a melhor educação, aos melhores planos de saúde, as melhores moradias, consegue morar próximo de onde trabalha e estuda, enfim, tem acesso a tudo do bom e do melhor.

Em paralelo, a grande parcela da população excluída não tem acesso a nada disso. Mal consegue sobreviver, vive em moradias ruins e distantes, não tem acesso a escolas e saúde de qualidade, pouquíssimo acesso a praças e parques, praticamente sem condições de ir a um cinema, a um teatro, etc.

E o que tudo isso tem a ver com a tecnologia?

Neste quesito, ultimamente, com o desenvolvimento das novas tecnologias, os mais ricos têm acesso aos equipamentos de última geração, celulares, computadores, wifi da melhor qualidade, ficam conhecendo rapidamente todas as novidades em termos de inteligência artificial, internet das coisas, etc.

E os mais pobres não tem sinal da internet, possuem celulares pré-pagos, tem dificuldade de acesso a aplicativos e programas de última geração, não tem letramento digital e por aí vai…

Se os Governos não auxiliarem na inclusão digital, esta desigualdade tende a aumentar ao invés de diminuir. Atualmente, como tenho falado, inclusão digital é inclusão social. Assim como o Estado precisa prover educação, saúde, segurança, moradia e os demais itens da cesta básica para todos os cidadãos, cada vez mais é preciso incluir nesta cesta básica a inclusão digital.

Inclusão digital atualmente tem a ver com a possibilidade de se ter acesso aos empregos, às informações sobre qualquer serviço, o acesso à cultura, a possibilidade de se relacionar com os parentes distantes, a possibilidade de assistir aulas e mesmo de se conseguir o auxílio emergencial do Governo.

E cada vez mais, mais e mais serviços, públicos e privados, serão oferecidos através dos meios digitais. Consultas médicas, agendamento de exames, atualização de provas de vida e assim por diante. Não ter acesso aos meios digitais vai fazer com que toda uma gama, uma grande parcela da nossa população, que já é excluída socialmente nos dias de hoje, fique ainda mais excluída no futuro.

A última Pesquisa TIC Domicílios mostrou que ainda existe 17% da população brasileira que não tem acesso aos meios digitais (e não estamos nem falando daquela parcela da população que tem acesso, mas com uma qualidade ruim, pois os equipamentos não são os mais adequados ou tem sinal de acesso com uma qualidade ruim; se formos incluir estes, provavelmente chegaríamos a uma porcentagem próxima dos 50% sem conectividade ou com conectividade ruim).

Segundo a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Centro Regional de Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação/CETIC, em 2020, 46 milhões de brasileiros estavam fora da vida digital, ou seja, esta expressiva parcela da população tem dificuldades de trabalhar, estudar e de se socializar.

A diferença que já é enorme tende a aumentar se não tivermos políticas públicas de inclusão digital. Se quisermos mudar o rumo desta história é preciso uma Política Nacional de Inclusão Digital, com planejamento e metas para os próximos 15, 20 anos. E que tal Política se desdobre em Políticas Estaduais e Municipais por todo o Brasil.

Considero que além do envolvimento dos Governos de todas as esferas, é preciso que haja também um enorme envolvimento da iniciativa privada, de associações, das universidades, da sociedade civil, enfim, de todo mundo.

Conheço boa parte das inúmeras iniciativas que tem sido feitas neste sentido, mas é preciso ter clareza de que é preciso muito mais. É preciso que este assunto realmente seja uma das grandes prioridades dos próximos Governos.

Ou seja, desigualdade social e exclusão digital tem tudo a ver…inclusão digital tem que fazer parte das políticas públicas essenciais para a modernização do Brasil e é fundamental para auxiliar a reduzir a enorme, a gigantesca desigualdade social brasileira. Inclusão digital, cada vez mais, é inclusão social.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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