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OS MERCADOS PÚBLICOS COMO FERRAMENTA PARA CIDADES INCLUSIVAS

Pedro Lira
Pedro Lira
Sócio-fundador da Natureza Urbana. Arquiteto e urbanista com mais de 15 anos de experiência no Brasil e exterior, com ampla experiência no planejamento e projetos de grande escala nos âmbitos público e privado.

Modelos colaborativos favorecem enfrentamentos mais resilientes, especialmente quando garantida a atenção social e econômica que os equipamentos públicos necessitam

Poder participar de um espaço de discussão sobre o futuro das cidades é algo que me desperta grande alegria e, ao mesmo tempo, evidencia um senso de urgência e de responsabilidade coletiva. Temos a chance de qualificar e aprofundar conversas e trocar referências sobre as melhores práticas para o desenvolvimento urbano, o que é ótimo. Ao mesmo tempo devemos compreender a importância e necessidade  de construirmos juntos locais mais inclusivos, sustentáveis e diversos. 

Um ponto de partida possível é olharmos para algo que está na raiz do surgimento das cidades: a troca de mercadorias e o comércio que evoluiu a partir daí. Mais precisamente, podemos nos atentar para os grandes mercados públicos ao redor dos quais várias cidades se expandiram e se consolidaram, e que recentemente tem sido objeto de propostas de requalificação via modelos de parceria.



O Mercado Público Central de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, segue desempenhando desde 1869 papel fundamental para a identidade local e o funcionamento de diversos setores produtivos. Quando as cadeias de distribuição de alimentos ainda não haviam evoluído, os pequenos comerciantes eram a única fonte para a compra de insumos. Dessa forma, os mercados se tornaram o endereço onde é possível achar de tudo e também o coração pulsante das relações humanas e urbanas..

A história dos mercados em geral, e a do Mercado de Porto Alegre especificamente, está intimamente ligada aos povos de nações africanas, tanto pela construção da edificação como pela ocupação de seus espaços. A história se conecta principalmente pelas floras existentes (bancas de artigos religiosos) e pelo Bará, símbolo imaterial de proteção, fundamental para as religiões de matriz africana e tombado, em 2020, como patrimônio histórico-cultural do município. Além de ponto comercial, o mercado é palco de manifestações culturais e religiosas

Resgatar esses legados e atualizar a edificação para as demandas contemporâneas de logística e abastecimento se tornaram as premissas do estudo de viabilidade das obras de revitalização do mercado, documento recentemente apresentado à prefeitura. A principal novidade proposta, no entanto, está no modelo de gestão. Acreditamos nesse caso que ninguém melhor do que os próprios mercadeiros para administrar e zelar pelo local, efetivados assim guardiões da tradição comercial e de culturas ancestrais. Uma administração pautada por fortes relações de conhecimento, vivência e domínio da estrutura existente se refletirá em uma alta capacidade de organização estratégica.

Modelos colaborativos favorecem enfrentamentos mais resilientes, especialmente quando garantida a atenção social e econômica que os equipamentos públicos necessitam. O mercado de Porto Alegre contém uma peça importante do quebra-cabeças que juntos vamos tentando montar por aqui: afinal, como obtermos cidades mais inclusivas, sustentáveis e diversas? Certamente parte da resposta emana das cores, aromas e pessoas que frequentam os mercados públicos desde os primórdios dos centros urbanos.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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