Além da tecnologia, as cidades inteligentes também devem promover o engajamento comunitário e a inclusão na construção da resiliência urbana
Em um cenário de emergência climática, a relação entre resiliência urbana e o enfrentamento de desastres com as cidades inteligentes é tema de grande relevância no planejamento urbano contemporâneo. As cidades inteligentes utilizam tecnologias avançadas e dados para melhorar a qualidade de vida e a segurança de seus habitantes, desempenhando um papel crucial na construção de resiliência urbana.
A resiliência urbana refere-se à capacidade das cidades de se prepararem, responderem e se recuperarem de desastres e eventos adversos, como enchentes, terremotos, deslizamentos de terra e tempestades. As cidades inteligentes utilizam uma combinação de tecnologias, como Internet das Coisas (IoT), big data, inteligência artificial (IA) e redes de sensores para monitorar e gerenciar infraestruturas críticas e serviços urbanos. Essas tecnologias permitem a coleta e análise de dados em tempo real, essenciais para prever e mitigar os impactos.
Por exemplo, sistemas de sensores podem monitorar níveis de água e prever enchentes, permitindo que as autoridades tomem medidas preventivas. Câmeras de vigilância e drones podem ser utilizados para monitorar áreas de risco e coordenar respostas de emergência. Além disso, aplicativos móveis podem alertar os cidadãos sobre emergências iminentes e fornecer instruções sobre como proceder. Segundo Godschalk (2003), o uso de tecnologias inteligentes pode aumentar significativamente a capacidade de resposta e recuperação de uma cidade frente aos desastres.
É preciso ampliar a pesquisa em sistemas urbanos, refletindo sobre a educação e colaboração entre urbanistas, advogados, engenheiros, arquitetos, gestores de crise, programadores e outros especialistas urbanos envolvidos na construção das cidades e na mitigação de riscos. Essa troca de conhecimentos resulta em uma atuação multidisciplinar e a conscientização sobre o planejamento e o design de cidades resilientes, promovendo um esforço colaborativo a longo prazo para aumentar a resiliência urbana.
O uso de big data e IA nas cidades inteligentes permite um planejamento urbano mais eficaz e uma gestão de desastres eficiente. Dados coletados de várias fontes podem ser analisados para identificar áreas vulneráveis, qualificar os riscos existentes e desenvolver estratégias de mitigação. Esta abordagem baseada em dados facilita a alocação de recursos de maneira mais precisa e eficiente, durante e após um evento climático. De acordo com Salehi & Sharifi (2022), a análise de big data tem o potencial de transformar a maneira como as cidades enfrentam desastres, fornecendo insights críticos para a tomada de decisões.
Além da tecnologia, as cidades inteligentes também devem promover o engajamento comunitário e a inclusão na construção da resiliência urbana. Plataformas digitais podem ser usadas para envolver os cidadãos no planejamento urbano e na tomada de decisões, garantindo que as necessidades e opiniões da comunidade sejam consideradas. Isto é particularmente importante para assegurar que as soluções desenvolvidas sejam equitativas e atendam às diversas necessidades da população urbana. A participação ativa dos cidadãos é essencial para a efetividade das estratégias de resiliência urbana (DE GODOY & BENINI, 2024).
A descentralização da autoridade e dos recursos é fundamental para uma resposta eficaz a desastres, pois fortalece as capacidades institucionais e promove a cooperação entre os diferentes setores. Adotar práticas de resiliência urbana é essencial para mitigar os efeitos de eventos climáticos adversos, promovendo a sustentabilidade ambiental, a justiça social e o desenvolvimento econômico local. Isso capacita gestores urbanos e comunidades a tomar decisões informadas e proativas, construindo cidades mais seguras e inclusivas.
A integração da resiliência urbana com as tecnologias das cidades inteligentes oferece uma abordagem promissora para enfrentar os desafios crescentes dos desastres e dos eventos climáticos extremos. Utilizando inovações tecnológicas, gestão de dados e engajamento comunitário, as cidades podem não apenas se preparar melhor para prevenir desastres, mas também se recuperar de maneira mais rápida e eficiente. A construção de cidades inteligentes e resilientes é, portanto, essencial para garantir um futuro urbano sustentável e seguro.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Pesquisadora do USP Cidades Globais – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, docente do Programa de Pós-graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis – PPGCIS da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e Autora dos livros “Cidades Inteligentes e Sustentáveis” e “Mudanças Climáticas: do global ao local.