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A BUSCA POR MELHORES SOLUÇÕES EM MOBILIDADE URBANA

Glaucia Pereira
Glaucia Pereira
Glaucia Pereira é diretora do instituto de pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana, que desenvolve metodologias para a construção de cidades melhores. Graduada em Física e mestre em Administração, contribui com o campo da mobilidade urbana com foco em pesquisas e dados, atuando principalmente nos temas de mobilidade ativa, segurança viária e redução de desigualdades.

Para enfrentar esses problemas complexos é preciso que a gestão pública recorra a abordagens inovadores, como o Método Cynefin

A mobilidade urbana é um dos maiores desafios enfrentados pelas cidades modernas em todo o mundo. A expansão das áreas urbanas somada à opção pelo rodoviarismo em detrimento da mobilidade ativa e coletiva têm levado a desperdício de tempo, mortes e lesões, poluição do ar, e perda da qualidade de vida. Para enfrentar esses problemas complexos é preciso que a gestão pública recorra a abordagens inovadores, como o Método Cynefin.

O Método Cynefin, desenvolvido por Dave Snowden, é uma estrutura que ajuda a compreender e categorizar problemas com base na sua complexidade. Ele define quatro domínios principais: óbvio, complicado, complexo e caótico.

No domínio “Óbvio”, as relações de causa e efeito são claras e bem compreendidas. As soluções do tipo melhores práticas funcionam bem aqui. No domínio “Complicado”, as relações de causa e efeito são compreensíveis, mas não são evidentes para todos. Especialistas podem ajudar a encontrar soluções. Já no domínio “Complexo”, as relações de causa e efeito são imprevisíveis e emergentes. Soluções requerem experimentação, iteração e aprendizado contínuo. Por fim, no domínio “Caótico” não há relação aparente de causa e efeito. A resposta é agir rapidamente para estabilizar a situação.

O segredo para trabalhar bem com mobilidade urbana é saber determinar abordagem adequada a depender da complexidade do problema. Por exemplo, uma questão de temporização semafórica em um cruzamento pode ser considerada óbvia, já que há manuais prontos para isso. Porém, ao considerar a preferência a pedestres e ciclistas, a abordagem da questão fica complicada, com a necessidade de soluções propostas por especialistas. Quando a situação é entendida e novos manuais são feitos, a situação volta a ser óbvia. 

Por sua vez, ainda vemos cenários caóticos na mobilidade, principalmente em dias atípicos, como em greves ou eventos climáticos. Nessas situações, ainda é comum governos locais não saberem o que fazer, e acabarem incentivando o uso de modos individuais. 

Entretanto, as maiores questões da mobilidade urbana atualmente se encaixam claramente no domínio “Complexo” do Método Cynefin. Envolvem múltiplos atores, incluindo governos, empresas de transporte, cidadãos e organizações da sociedade civil. As interações entre diferentes variáveis, como serviços, modos de transporte, infraestrutura, comportamento humano e regulamentações, são imprevisíveis e emergentes. Portanto, a abordagem apropriada é a experimentação e a aprendizagem contínua.

Neste sentido, as cidades devem incentivar a experimentação com soluções de mobilidade inovadoras. Isso inclui o teste de tecnologias de transporte sustentável, a criação de infraestrutura amigável para pedestres e ciclistas, e o incentivo à modicidade tarifária, para citar alguns. Além disso, a cooperação e engajamento devem fazer parte das soluções, envolvendo as partes interessadas a colaborar ativamente. A gestão da informação em mobilidade urbana e a participação dos cidadãos podem ajudar a entender as necessidades específicas de cada localidade.

E como esperado em situações complexas, as soluções eficazes podem mudar ao longo do tempo. As cidades precisam adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo, adaptando suas abordagens à medida que novas informações e desafios surgem.

A mobilidade urbana é um desafio que exige abordagens inovadoras e adaptáveis. O Método Cynefin fornece uma estrutura valiosa para entender essa complexidade e orientar a tomada de decisões nas cidades. Ao adotar a experimentação, a colaboração e o aprendizado contínuo, as cidades podem avançar na direção de sistemas de mobilidade mais sustentáveis e adaptados às necessidades específicas de suas comunidades.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

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