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A TECNOLOGIA DEVE ESTAR A SERVIÇO DAS PESSOAS

Atilio Rulli
Atilio Rulli
Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe, com contribuição significativa na construção de parcerias que alavancam a transformação digital no Brasil. O executivo já atuou como gestor de Rede e Data Center da Prodam – SP, passando por multinacionais como Cabletron, Enterasys e CISCO, onde foi responsável pela área de Diretorias Regionais de Vendas.

As cidades geram muitas riquezas para o país e uma parte dessa contribuição deveria voltar para os cidadãos na forma de soluções que permitissem a eles produzirem mais e melhor, além de garantirem saúde e bem-estar

Imagine a seguinte situação: você tem que pegar um voo no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, para uma importante viagem internacional. Você se planejou, chamou o táxi e está tudo bem até que, no meio do caminho, uma chuva torrencial cai, o rio transborda e a via para, atrasando totalmente seus planos.

Na mesma via, em um ônibus lotado parado ao seu lado, uma senhora digita aflita para sua filha menor de idade, que cuida dos irmãos mais novos. A mãe está com medo de que a casa seja inundada. Ela trabalhou o dia inteiro do outro lado da cidade e está presa na metade de seu trajeto.

Logo à frente está uma ambulância, mais atrás, um ônibus escolar, adiante um caminhão de bebidas e assim vai. Cada um desses veículos carrega histórias, planos, aflições, destinos agora interrompidos pela tragédia da cidade em luta com uma chuva.

Todos sabemos que experiências como essas são recorrentes e acontecem não só em São Paulo, mas em outros municípios brasileiros, grandes ou pequenos. Elas nos fazem refletir sobre como os espaços urbanos, em pleno século XXI, ainda precisam evoluir para se tornarem ambientes mais amigáveis e mais sustentáveis para seus moradores. 

As cidades geram muitas riquezas para o país e uma parte dessa contribuição deveria voltar para os cidadãos na forma de soluções que permitissem a eles produzirem mais e melhor, além de garantirem saúde e bem-estar. Nesse contexto, muitas instituições, empresas, governos e organizações da sociedade civil têm se debruçado para entender e discutir as cidades inteligentes.

O que caracteriza, de fato, uma cidade inteligente? É, em essência, um lugar que oferece aos seus habitantes boas condições para que possam realizar suas tarefas cotidianas, como trabalhar, estudar, cuidar da saúde, ter acesso a áreas de lazer e a centros culturais. A diferença é que as tecnologias digitais surgem como as grandes aliadas na criação de soluções que satisfaçam essas necessidades. 

Um exemplo recente está em Santo André (SP). Trata-se de um projeto de instalação de sensores em cestos acondicionados dentro dos bueiros. Quando eles enchem de lixo, os mecanismos enviam os dados para uma central que emite um alerta de limpeza, evitando, por exemplo, entupimentos e alagamentos em casos de chuva. O projeto é da própria prefeitura, feito com recursos de um banco de desenvolvimento. Muitos exemplos criativos como esse estão à espera de gestores que saibam usar a tecnologia para solucionar problemas concretos.

Rankings estimulam uma competição saudável entre as cidades

Os estudos sobre como as tecnologias podem impactar positivamente no cotidiano das pessoas remontam à década de 1970. No entanto, nos últimos anos, com o advento da conectividade 5G e a ampliação do uso da inteligência artificial, esse assunto tornou-se muito mais relevante.

Em todo o mundo, têm surgido rankings que classificam cidades de acordo com as tecnologias que usam para oferecer serviços públicos, diminuir a burocracia e ajudar o cidadão a economizar tempo e recursos. Há rankings nacionais, como esse do Portal Connected Smart Cities, e internacionais que avaliam também algumas cidades brasileiras.

Este ano, por exemplo, foi publicada uma pesquisa digna de atenção que avaliou 141 cidades, sendo três do Brasil. Trata-se do IMD Smart City Index 2023, uma parceria entre o International Institute for Management Development (IMD) e a World Smart Sustainable Cities Organization (WeGO).

O index, instituído em 2019, é baseado em entrevistas que tentam avaliar a percepção do cidadão em relação aos problemas de suas cidades. A classificação leva em consideração dados sociais das Nações Unidas, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a expectativa de vida, a escolaridade média e a renda per capita. 

Nas entrevistas, as pessoas são convidadas a responder perguntas sobre mobilidade, oportunidades de emprego e educação, governança, segurança, saúde e atividades de lazer. Em especial, está um questionário voltado para o uso das tecnologias digitais.

Na pesquisa, os 20 primeiros lugares foram ocupados por municípios europeus ou asiáticos, com Zurique em primeiro lugar. Desses vinte, 17 estão no ranking desde 2019, incluindo Pequim, que ocupa a 12a posição. No continente americano, a melhor colocada é Nova York, no 22o lugar e, na América do Sul, à frente de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, está Medelin, na Colômbia, no 118o. As cidades brasileiras ocupam as posições 128, 130 e 136, respectivamente.

Uma comparação entre Pequim e São Paulo, por exemplo, mostra como os cidadãos percebem e entendem as políticas públicas. Para os habitantes de Pequim, por exemplo, o trânsito é o principal problema. Para os paulistanos, é a segurança. No quesito governança, a pesquisa mostra que o morador chinês considera que tem muito mais acesso a serviços de cidadania participativa online do que o paulistano, além de reconhecer o uso das tecnologias em serviços públicos. O paulistano percebe facilidades digitais na emissão de documentos, por exemplo.

A tecnologia a serviço das pessoas

Resultados como esses mostram que há muito a ser feito para melhorar o bem-estar das populações que vivem nos centros urbanos brasileiros. Uma atitude séria, focada na solução dos problemas, por parte dos tomadores de decisão é necessária para mudar essa realidade. Mais do que isso, o cidadão precisa ter consciência de que a vida cotidiana pode e deve ser mais fácil e tranquila. Não é possível naturalizar que uma chuva traga tantos prejuízos e chegue a colocar vidas em risco.

A tecnologia existe para ajudar, mas ela não é um fim em si mesma. Mais do que uma cidade centrada em tecnologias de ponta, precisamos de cidades centradas em seus habitantes. Dessa forma, a tecnologia é uma aliada, geradora de renda, de riquezas, de investimentos e de oportunidades.  

Com a ampliação da infraestrutura 5G, muitas ideias, como a do bueiro de Santo André, podem ser criadas e facilmente adotadas por gestores públicos de todo o país. A integração entre as diferentes esferas de governo ajuda a unificar as políticas públicas, tornando-as de alcance nacional. Imagine o impacto nos serviços de saúde e de educação que as tecnologias digitais podem oferecer. Nesse caminho, aumentar o alcance da conectividade e melhorar o acesso aos dispositivos móveis é de fundamental importância para que a inclusão aconteça em todos os bairros e não somente em poucos lugares.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities. 

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