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SMART CITIES E OS DESAFIOS DA MOBILIDADE URBANA

Sergio Avelleda
Sergio Avelleda
ADVOGADO COM MBA EM GESTÃO EXECUTIVA PELO INSPER. Foi secretário de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo, quando a cidade aderiu ao Visão Zero, programa de redução para zero de mortes no trânsito. Foi presidente do Metrô de São Paulo e presidente da CPTM, diretor de Mobilidade Urbana do WRI Ross Center for Sustainable Cities em Washington e, Membro do Conselho de Administração da Partnership on Sustainable, Low Carbon Transport (SLOCAT). É Coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana no Laboratório de Cidades Arq.Futuro do Insper e Sócio-fundador da Urucuia. Consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento e Membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB/SP e Articulista da Revista Ferroviária e de outras publicações especializadas.

Uma cidade inteligente é antes de tudo uma cidade que tem como centro das suas políticas a otimização do uso dos recursos, a inclusão social, econômica e digital, a desburocratização e a capacidade de ser inovadora e disruptiva

Sempre que ouvimos a expressão Smart Cities a nossa imaginação viaja para robôs limpando as ruas, sensores super sofisticados coletando dados e imagens, drones sobrevoando nossas cabeças fazendo entregas ou transportando pessoas. Esse cenário futurista poderá compor o que chamamos de cidade inteligente, mas não será nunca a sua essência.

Uma cidade inteligente é antes de tudo uma cidade que tem como centro das suas políticas a otimização do uso dos recursos, a inclusão social, econômica e digital, a desburocratização e a capacidade de ser inovadora e disruptiva. Isso tudo pode acontecer – e é bom que aconteça – com uso de tecnologia, mas também pode acontecer com soluções simples e baratas.

No campo da mobilidade urbana eu penso que temos três grandes desafios que podem ser resumidos nestas três palavras : Evitar, Substituir e Melhorar. Evitar a realização de viagens ou reduzir suas distâncias, Substituir viagens motorizadas por mobilidade ativa e melhorar a oferta do transporte público, com política de uso do espaço e investimentos em infraestrutura.

Como uma cidade inteligente pode realizar essas três ações e alcançar uma mobilidade mais sustentável, segura e inclusiva?

Eu costumo dizer que quando visitamos uma cidade que tem sérios problemas de mobilidade urbana é como se estivéssemos diante de um paciente que tem febre. Sabemos que a febre não é a doença, mas apenas o sintoma dela. Linhas de metrô e ônibus lotadas, trânsito congestionado e que provoca muitas mortes são sintomas de uma doença que é o inadequado planejamento urbano. 

Cidades inteligentes focam em promover um novo desenvolvimento urbano que replique as centralidades econômicas em diversas áreas, diminuindo o desejo de viagem, porque as pessoas terão oportunidade de empregos nos bairros onde moram, ou em regiões bem mais próximas, evitando os imensos deslocamentos que, em geral, são necessários com o desenho atual das cidades brasileiras. Essa é a solução mais eficiente para uma mobilidade sustentável.

Depois disso, as cidades inteligentes promovem a mobilidade ativa. Criam infraestrutura e desenvolvem soluções destinadas a incrementar a caminhada e o uso da bicicleta. Nada menos inteligente do que cuidar apenas do pavimento asfáltico para carros. Carros são responsáveis por apenas 26% dos deslocamentos no Brasil. As pessoas andam muito mais a pé e de transporte público.  Paris, recentemente, redesenhou suas ruas centrais para os pedestres e para as bicicletas, além de outras políticas de incentivo à mobilidade ativa. Rapidamente viu uma explosão de novos ciclistas que viajam sem emitir nenhum gás contaminante, sem causar barulho e praticamente sem riscos à segurança. O que pode ser mais inteligente?

Por fim, a prioridade ao transporte público, que, depois da mobilidade ativa, é o modo de transporte mais sustentável, inclusivo e seguro. Um ônibus Padron pode transportar quase 80 passageiros. A média de uso dos automóveis na cidade de São Paulo é de apenas 1,1 passageiro por carro. Ou seja, um ônibus costuma transportar o equivalente a 72 carros. Em uma cidade inteligente, esse ônibus teria 72 vezes mais espaço que o automóvel. Priorizar o transporte público, em uma cidade inteligente, significa garantir espaços exclusivos. Idealmente com a construção de corredores de ônibus em pistas centrais, praticamente eliminando a interferência de congestionamentos sobre a operação dos coletivos. Mas uma faixa exclusiva, à direita, já ajuda muito, tendo potencial de incrementar em até 30% a produtividade dos ônibus. Fica uma dica: implantar faixas exclusivas não demanda vultosos investimentos. É preciso apenas tinta, para sinalização horizontal, placas, para sinalização vertical, e um eficiente sistema de fiscalização. 

Planejar um desenho de rede de ônibus que integre diferentes níveis de serviço (linhas locais e troncais), com terminais e pontos de ônibus confortáveis e seguros. Implantar tecnologia que permita ao usuário o completo gerenciamento de suas viagens, diminuindo o tempo de espera pela passagem dos ônibus. Um sistema de cobrança de tarifas inteligente e que permita integrações tarifária.

Outra prioridade fundamental em uma cidade inteligente é a eliminação das mortes e ferimentos graves no trânsito. Nenhuma morte no trânsito deveria ser aceitável. E neste campo, com inteligência e pouco dinheiro se pode fazer muito. Gerenciar as velocidades das vias (maior fator de risco), redesenhar os espaços para proteção a pedestres e ciclistas, fiscalizar o comportamento no trânsito e engajar a sociedade em torno de uma agenda segura são características de inteligência. Fortaleza e Bogotá são duas cidades que demonstram o sucesso de uma política inteligente voltada para a segurança viária: reduziram em mais de 50% as mortes no trânsito na última década.

Como se vê, falamos muito de soluções inteligentes e quase nada sobre drones ou robôs. A inteligência às vezes está apenas em aplicar soluções simples, mas que implicam em ampliar a sustentabilidade a inclusão social e a segurança viária.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.  

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