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MOBILIDADE A PÉ NO LUGAR QUE LHE É DE DIREITO

Kelly Fernandes
Kelly Fernandes
Assessora técnica da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ). Arquiteta e urbanista e especialista em economia urbana e gestão pública, atuando a cerca de seis anos profissionalmente e como voluntária na área de mobilidade urbana sustentável. Na coluna, desenvolve análises e constrói narrativas para evidenciar os efeitos das facilidades e dificuldades de mobilidade no desenvolvimento urbano.

Apesar da proporção dos deslocamentos a pé e do espaço prioritário dedicado ao meio de transporte em políticas públicas, códigos e normas, a infraestrutura que as cidades oferecem para quem caminha é insuficiente, escassa ou inexistente

Andar a pé é um dos meios de transporte mais utilizados nas cidades brasileiras. Pesquisas locais e nacionais indicam que cerca de 1/3 dos deslocamentos realizados são efetuados integralmente por pessoas que se deslocam com seus próprios pés. Considerando os deslocamentos iniciados ou concluídos a pé, o número sobe exponencialmente, tornando o modo de transporte majoritário entre os deslocamentos totais realizados em regiões metropolitanas.

Apesar da proporção dos deslocamentos a pé e do espaço prioritário dedicado ao meio de transporte em políticas públicas, códigos e normas, a infraestrutura que as cidades oferecem para quem caminha é insuficiente, escassa ou inexistente. Nas ruas, pedestres disputam calçadas estreitas, esburacadas e com presença de inúmeros desníveis. Isso quando não precisam caminhar no leito viário, dada a impossibilidade de utilização das calçadas, o que atinge sobremaneira pessoas com mobilidade reduzida ou com deficiência.



Conceitos como o “Cidades de 15 minutos” – base do projeto urbano que surgiu na capital francesa para incentivar o desenvolvimento de comunidades autossuficientes em cada distrito da cidade –, deixam evidente que o transporte a pé pode ser um indicador importante de acesso às oportunidades como estudo, trabalho, lazer etc. Enquanto isso, no Brasil, estudos dedicados a entender a desigualdade das cidades confirmam a relação entre maior renda e menores distâncias a percorrer. Assim, a mobilidade a pé torna-se um “termômetro” da desigualdade de acesso à cidade.

Apesar do desequilíbrio, recursos humanos e financeiros dedicados à resolução do problema são pequenos frente ao desafio colocado pelas cidades brasileiras, que ainda podem variar muito conforme a região, o porte populacional e as dinâmicas socioeconômicas locais. Isso a revelia da urgência de ao menos manter o espaço que a mobilidade a pé ocupa na matriz modal das cidades brasileiras, em vistas dos benefícios que o meio de transporte gera para a saúde de quem o utiliza e para o meio ambiente, aqui considerando questões relativas à poluição, mudança do clima, segurança urbana etc.

Para tanto, é indispensável buscar inspiração em iniciativas dedicadas a mobilizar recursos, rever padrões culturais, redistribuir o espaço viário e mudar a forma de integrar pedestres à cidade, reconhecendo o lugar que lhes é de direito. Nesse sentido, os projetos contemplados pela premiação Cidade Caminhável 2021, promovida pelo Movimento SampaPé! com apoio nacional do ITDP Brasil e internacional da organização Walk 21, são referências importantes.

Dois projetos de infraestrutura de priorização e proteção de quem anda a pé ganharam o primeiro e segundo lugar, respectivamente, localizados nos municípios de Conde/PB e Caruaru/PE. Em terceiro lugar está o Plano Municipal de Caminhabilidade de Fortaleza/CE, que constitui um guia para a promoção da caminhabilidade na capital cearense. Esses são alguns exemplos de como cidades pequenas, médias e grandes podem se conectar com o desafio de promover espaços adequados para a mobilidade a pé.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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