Como os dados com foco no usuário impactam nas Políticas de mobilidade
A Transformação da Mobilidade Urbana: Dados, Política e Foco no Cidadão
Uma visão clara para a modernização do transporte público no Brasil está emergindo, fundamentada na convicção de que a tecnologia e a gestão de dados são os pilares para uma transformação real. No entanto, essa modernização não ocorre no vácuo; ela está intrinsecamente ligada à governança, às decisões políticas e ao financiamento do sistema. Nesse cenário, o padrão de dados abertos GTFS (General Transit Feed Specification) surge como um elemento central, não apenas como uma ferramenta técnica, mas como a base para uma gestão mais inteligente e políticas públicas mais eficazes e transparentes.
A Revolução Guiada por Dados e a Realidade Política
O avanço de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) promete revolucionar o transporte, mas seu sucesso depende diretamente da qualidade dos dados que a alimentam. A aplicação de IA para otimizar rotas e prever demandas só é viável com informações precisas. Para isso, a disponibilização de ferramentas acessíveis, como editores de GTFS, é fundamental para que os municípios possam gerenciar seus dados de transporte.
Essa padronização de dados ganha uma nova dimensão quando conectada ao tema dos subsídios. O GTFS pode se tornar um caminho estratégico para a criação de uma política nacional de financiamento mais justa, permitindo que a alocação de recursos seja baseada em dados operacionais claros. Contudo, essa abordagem técnica enfrenta a complexa realidade política, especialmente em anos eleitorais. A discussão sobre subsídios se torna uma “janela de oportunidade” que, se mal aproveitada, pode se transformar num “tiro no pé” para o setor. A tomada de decisões sobre o financiamento do transporte precisa ser blindada de interesses eleitorais de curto prazo e focada na sustentabilidade do sistema a longo prazo.
Para Além do Óbvio: Qualidade, Financiamento e Falsas Soluções
No debate sobre a melhoria do transporte, é crucial ir além das soluções aparentes. A ideia de que a “Tarifa Zero” é uma solução universal é questionável, sugerindo que a complexidade do sistema exige abordagens mais estruturadas. A verdadeira melhoria não está apenas na renovação da frota, mas na percepção de qualidade do serviço pelo cidadão — pontualidade, previsibilidade e conforto são os verdadeiros indicadores de sucesso.
Essa percepção de qualidade está diretamente ligada à previsibilidade do financiamento. A dependência de ciclos políticos para a liberação de subsídios cria um ambiente de incerteza que impede o planejamento e a melhoria contínua dos serviços. A solução passa por criar mecanismos de governança robustos, onde a alocação de recursos seja técnica e transparente, utilizando padrões de dados como o GTFS para justificar e medir o impacto do investimento público.
Inovação e Aprendizado Contínuo
Para resolver problemas complexos, como a contagem precisa de passageiros, é preciso buscar abordagens inovadoras. Ao mesmo tempo, a experiência adquirida em operações de transporte de altíssima complexidade, como as dos Jogos Olímpicos, oferece lições valiosas sobre planejamento e execução que podem ser adaptadas para melhorar a gestão do transporte no dia a dia.
Em suma, o caminho para um transporte público de qualidade no Brasil exige uma abordagem integrada. A modernização tecnológica e a gestão baseada em dados são essenciais, mas só trarão resultados duradouros se forem acompanhadas por uma governança sólida, que separe as decisões técnicas das pressões políticas. Ao construir um sistema onde o financiamento é previsível e a qualidade é constantemente medida, é possível criar uma mobilidade urbana que seja verdadeiramente eficiente, transparente e centrada nas necessidades dos cidadãos.

Mestre em transportes pela UFMG, com mais de 15 anos na área tendo atuado em transportes em duas copas do mundo e duas olimpíadas, sendo as duas últimas posições em eventos como consultor do COI e CONMEBOL. Sócio de uma consultoria tradicional de transportes (PLANUM) e sócio de uma startup de inovação de mobilidade (Bus2). Atualmente trata mais de 1 bilhão de registros por mês entre dados de planejamento, AVL, SBE e outros, independente de formato e fornecedores.