A popularização do subsídio, sem uma mudança de percepção, resolve apenas momentaneamente um dos problemas do setor
No ano eleitoral, a discussão sobre subsídios no transporte público ganha relevância, pois muitas cidades já a estão adotando como forma de aliviar o ônus financeiro sobre o sistema. Contudo, a eficácia dessa estratégia está intrinsecamente vinculada à sua associação com melhorias tangíveis nos serviços, caso contrário, corre-se o risco de transformar a iniciativa em um argumento contraproducente para o setor.
Embora seja um avanço reconhecer a necessidade de equilibrar a tarifa e tornar o transporte público equânime, é imperativo compreender que a simples implementação dos subsídios não será suficiente. O verdadeiro impacto positivo virá apenas quando essa medida for acompanhada de ações que mudem a percepção da qualidade por parte do usuário. É vital que a percepção dos usuários sobre o transporte público transforme de forma significativa.
Antes de serem implementados os subsídios, muitos usuários enfrentavam desafios relacionados à oferta e qualidade dos serviços, porém, a mera adoção do subsídio e uma previsão de não aumento das tarifas não garante a satisfação, especialmente se não houver uma transformação da experiência do usuário.
A sociedade precisa compreender que a busca por equilíbrio financeiro no transporte público não é uma desculpa para a estagnação. Pelo contrário, é uma oportunidade única para transformar o sistema em um serviço eficaz, confiável, e mais atrativo. Deste modo, os subsídios devem ser percebidos como um instrumento para impulsionar a mobilidade urbana e não como uma mera estratégia de equilíbrio de contrato.
Assim sendo, é fundamental que fique claro, para operadores do transporte público coletivo e poder público, que o subsídio como mero objetivo de equilibrar o contrato trará uma percepção ainda pior do setor e, consequentemente, um efeito inverso ao esperado.
Deste modo, para consolidar a confiança da população no transporte público, como uma alternativa viável, é necessário que o poder público e os operadores olhem para o serviço pela perspectiva da demanda. Assim, entender o que o passageiro quer é o primeiro passo para um plano de ação de melhorias reais nessa percepção.
Da mesma forma, para esse novo modelo de negócios, o discurso fácil de atacar o sistema em detrimento dos mecanismos que permitam aprimorar a qualidade dos serviços, devem ser notados e combatidos por todos do setor. Portanto, o controle da narrativa, e o que de fato importa, será fundamental neste ano chave que está por vir.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
![](https://portal.connectedsmartcities.com.br/wp-content/uploads/2024/03/csc23_foto_Gustavo-Balieiro.jpg)
Mestre em transportes pela UFMG, com mais de 15 anos na área tendo atuado em transportes em duas copas do mundo e duas olimpíadas, sendo as duas últimas posições em eventos como consultor do COI e CONMEBOL. Sócio de uma consultoria tradicional de transportes (PLANUM) e sócio de uma startup de inovação de mobilidade (Bus2). Atualmente trata mais de 1 bilhão de registros por mês entre dados de planejamento, AVL, SBE e outros, independente de formato e fornecedores.