Manejo sustentável consolida-se como uma alternativa viável para escalonamento da produção, geração de renda e preservação ambiental e cultural na Amazônia maranhense
A comunidade tradicional do Maracanã, área rural de São Luís (MA), conhecida por sua forte ligação com a produção do açaí nativo da região, popularmente chamado de juçara na capital maranhense, recebeu de 10 a 13 de junho uma importante capacitação voltada à recuperação dos açaizais em processo de degradação, intitulada “Curso de Manejo de Mínimo Impacto de Açaizal Nativo”. O evento foi coordenado pela Embrapa Maranhão e reuniu os especialistas da Embrapa Amazônia Oriental José Antônio Leite, João Tomé e Michell Costa. A capacitação contou com uma parte teórica e outra prática, em que os participantes montaram uma unidade de referência tecnológica (URT) em uma área de juçara (açaí) em processo de degradação.
A iniciativa
Fruto de uma parceria entre a Embrapa, Vale, Estação Conhecimento de Arari e Instituto de Formação, o curso tem como objetivo principal a formação de multiplicadores em manejo e recuperação de açaizais nativos e fortalecer práticas sustentáveis, preservar a biodiversidade e garantir a continuidade da produção da juçara, elemento central da economia e da cultura local. A capacitação reuniu produtores da região e técnicos que atuam diretamente com o manejo da cultura, promovendo o intercâmbio de conhecimentos tradicionais e científicos.
Localizado em uma área de conservação, o Maracanã abriga fontes de água, brejos e nascentes que dependem da manutenção da vegetação nativa. A recuperação dos juçarais (açaizais) é essencial para a proteção desses recursos naturais. Além disso, a comunidade tem uma profunda relação cultural com a juçara. Realiza, anualmente, a Festa da Juçara.
O projeto, que envolve um acompanhamento técnico contínuo, busca o engajamento dos agricultores locais. Segundo o pesquisador José Mário Frazão, da Embrapa Maranhão, com o passar do tempo, os juçarais vão definhando e, consequentememente, perdendo a capacidade de produção. “O manejo sustentável do açaí se consolidade como alternativa viável para recuperar a capacidade produtiva, preservando a biodiversidade da Amazônia maranhense e a renda os produtores”.
O analista Michell Costa avaliou a aplicação das soluções tecnológicas da Embrapa, incluindo os aplicativos digitais apresentados durante o curso. “Muito gratificante perceber que o aplicativo Manejatech-açaí atende as necessidades de manejo de açaizais em outras áreas além das várzeas do Pará e Amapá. Ademais, é muito bom perceber que a adoção de tecnologia de manejo de mínimo impacto de açaizais nativos pode proporcionar a recuperação das áreas na comunidade de Maracanã e apoiar manutenção de frutos para realização de evento cultural tradicional na comunidade. Assim, as tecnologias da Embrapa cumprem sua missão de recuperar áreas produtivas, que alimentam, geram renda e também apoiam a manutenção da cultura local”.
Avaliação
A produtora Emília Sá avaliou a semana como enriquecedora e garantiu que vai multiplicar os conhecimentos no povoado. “Foi um curso multidisciplinar e de fácil entendimento para a variada classe de público presente (produtores, alunos do projeto, entre outros). Com aulas teóricas e uso de plataforma digital, tivemos esclarecimentos na área de pesquisa e complementamos com a observação das atividades práticas em campo. Agradeço às instituições envolvidas a oportunidade”.
Luiz Carlos, produtor rural de açaí no município de Teto do Rosário, na Baixada Maranhense, disse que há muito tempo buscava esse conhecimento. “Tenho uma área de açaizal nativo onde preciso fazer umas intervenções de manejo e não tinha parâmetro para executá-lo. A oportunidade de ter participado desse curso me forneceu conhecimento para o mínimo de desperdício e mais assertividade. O curso foi excelente, muito além das minhas expectativas”.
Manejo de mínimo impacto de açaizais nativos
Os juçarais nativos vêm enfrentando um processo de degradação, causado principalmente pelo superpovoamento de plantas por hectare. Esse excesso leva à competição entre as plantas, o que reduz a produtividade por área. Em muitos casos, essa baixa produtividade faz com que os agricultores substituam os juçarais por outras culturas, levando à perda de biodiversidade e à degradação do solo.
Busca equilibrar a população de açaizeiros que ocorrem naturalmente na floresta de várzea garantido mais alimento e renda às famílias ribeirinhas. Com essa técnica que não exige investimento em infraestrutura, a produtividade do açaizeiro pode dobrar. Ela baseia-se na eliminação das plantas de espécies arbustivas e arbóreas de baixo valor comercial, cujos espaços livres são ocupados por plantas de açaizeiros oriundas de sementes que germinam espontaneamente, de mudas preparadas ou transplantadas das proximidades e por outras espécies de valor econômico, como fruteiras e florestais. O segredo está na relação e no equilíbrio entre as plantas de açaí e outras espécies na mesma área.
Fonte: Embrapa
