A popularização do subsídio, sem uma mudança de percepção, resolve apenas momentaneamente um dos problemas do setor
No ano eleitoral, a discussão sobre subsídios no transporte público ganha relevância, pois muitas cidades já a estão adotando como forma de aliviar o ônus financeiro sobre o sistema. Contudo, a eficácia dessa estratégia está intrinsecamente vinculada à sua associação com melhorias tangíveis nos serviços, caso contrário, corre-se o risco de transformar a iniciativa em um argumento contraproducente para o setor.
Embora seja um avanço reconhecer a necessidade de equilibrar a tarifa e tornar o transporte público equânime, é imperativo compreender que a simples implementação dos subsídios não será suficiente. O verdadeiro impacto positivo virá apenas quando essa medida for acompanhada de ações que mudem a percepção da qualidade por parte do usuário. É vital que a percepção dos usuários sobre o transporte público transforme de forma significativa.
Antes de serem implementados os subsídios, muitos usuários enfrentavam desafios relacionados à oferta e qualidade dos serviços, porém, a mera adoção do subsídio e uma previsão de não aumento das tarifas não garante a satisfação, especialmente se não houver uma transformação da experiência do usuário.
A sociedade precisa compreender que a busca por equilíbrio financeiro no transporte público não é uma desculpa para a estagnação. Pelo contrário, é uma oportunidade única para transformar o sistema em um serviço eficaz, confiável, e mais atrativo. Deste modo, os subsídios devem ser percebidos como um instrumento para impulsionar a mobilidade urbana e não como uma mera estratégia de equilíbrio de contrato.
Assim sendo, é fundamental que fique claro, para operadores do transporte público coletivo e poder público, que o subsídio como mero objetivo de equilibrar o contrato trará uma percepção ainda pior do setor e, consequentemente, um efeito inverso ao esperado.
Deste modo, para consolidar a confiança da população no transporte público, como uma alternativa viável, é necessário que o poder público e os operadores olhem para o serviço pela perspectiva da demanda. Assim, entender o que o passageiro quer é o primeiro passo para um plano de ação de melhorias reais nessa percepção.
Da mesma forma, para esse novo modelo de negócios, o discurso fácil de atacar o sistema em detrimento dos mecanismos que permitam aprimorar a qualidade dos serviços, devem ser notados e combatidos por todos do setor. Portanto, o controle da narrativa, e o que de fato importa, será fundamental neste ano chave que está por vir.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Mestre em transportes pela UFMG, com mais de 15 anos na área tendo atuado em transportes em duas copas do mundo e duas olimpíadas, sendo as duas últimas posições em eventos como consultor do COI e CONMEBOL. Sócio de uma consultoria tradicional de transportes (PLANUM) e sócio de uma startup de inovação de mobilidade (Bus2). Atualmente trata mais de 1 bilhão de registros por mês entre dados de planejamento, AVL, SBE e outros, independente de formato e fornecedores.