spot_img
HomeEIXOS TEMÁTICOSTecnologiaO IMPACTO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO UNIVERSO DA ESTRUTURAÇÃO DE PPPS E...

O IMPACTO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO UNIVERSO DA ESTRUTURAÇÃO DE PPPS E CONCESSÕES

Gustavo Gusmão
Gustavo Gusmão
Formado pela PUC-Minas em Administração. Tem pós-graduação em marketing pela Fundação Dom Cabral (FDC), em finanças pelo IBMEC, extensão em parcerias público-privadas pela  Partnerships UK, além de ter participado da EY Harvard Leadership Program. Gusmão trabalha na EY desde agosto de 2007 e hoje atua como sócio na área de infraestrutura, além de ser coordenador do Comitê de Iluminação Pública da ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).

A partir das interações humanas com a IA, que se intensificará nos próximos meses, começaremos a vislumbrar os possíveis efeitos dessa simbiose

Arrisco dizer que as expressões “Inteligência Artificial” ou as iniciais “IA” ou “AI” (em inglês) estão entre os termos mais lidos e ouvidos nos últimos meses. O lançamento do ChatGPT em novembro de 2022 aproximou a IA junto do grande público. À medida que pessoas, organizações e governos vêm descobrindo as potencialidades práticas disso, surgem – no mesmo ritmo – as tentativas de prever (em alguns casos profetizar) os impactos dessa nova tecnologia no nosso cotidiano.

A partir das interações humanas com a IA, que se intensificará nos próximos meses, começaremos a vislumbrar os possíveis efeitos dessa simbiose. Honestamente, não sinto necessidade de ceder ao imediatismo das previsões de como essa tecnologia deve mudar a sociedade, seja para o bem ou para o mal. Há muito que não sabemos e que ainda iremos descobrir. E está tudo bem! No entanto, pretendo fazer algumas reflexões iniciais acerca desse novo salto tecnológico na vida prática de quem lida com projetos de infraestrutura, em especial nas PPPs (Parcerias Público-Privadas) e concessões. 

Inquestionavelmente a aplicação das ferramentas de IA vai permitir acelerar substancialmente a coleta e tratamento de dados na estruturação de projetos. Diversas etapas de concepção de projetos de PPP e concessão serão revolucionadas: pesquisas de origem/destino, projeções de demanda, projetos de arquitetura e engenharia, modelagem operacional, modelagem financeira, estruturação de matriz de riscos e contratos. É fácil perceber como diversas etapas do processo serão otimizadas, fazendo com que os prazos extensos de estruturação de projetos sejam reduzidos drasticamente. 

Nos próximos meses e anos, veremos diversas ferramentas que irão sustentar essa transformação digital no setor de infraestrutura. Certamente as consultorias especializadas e a iniciativa privada terão um papel fundamental nesse processo. Por outro lado, o desafio para os entes públicos é o de conseguir acompanhar essas transformações e conseguir capturar seus benefícios com tempestividade. Aí talvez resida um dos principais pontos de preocupação. 

Nos últimos anos e décadas já temos observado como é desafiadora e morosa a incorporação de tecnologias transformadoras e inovações nos ativos de infraestrutura no país. Apenas para citar um exemplo emblemático, temos a tecnologia do Free Flow nas rodovias, um sistema aplicável às rodovias pedagiadas que dispensa a necessidade das praças de pedágio, permitindo que os pagamentos sejam processados com o veículo em movimento proporcionais à quilometragem percorrida. Os princípios são: reduzir o tempo de viagem, aumentar a eficiência do sistema e promover mais equidade entre os usuários. Pois bem, essa tecnologia já existe em rodovias europeias desde a década de 80 e somente nos últimos anos começou a ser implementada no Brasil.

Em geral, a dificuldade da Administração Pública em absorver essas transformações em projetos de infraestrutura está associada a um ou mais dos seguintes fatores: insegurança jurídico-regulatória, insuficiência orçamentária, ausência de incentivos para inovar na gestão pública (traduzindo esse último ponto: cultura de evitar questionamentos dos órgãos de controle e mitigar risco de responsabilização pessoal por decisões tomadas).

Portanto, diante desse iminente cenário de convívio com a Inteligência Artificial na estruturação de projetos de Infraestrutura, questões importantes me inquietam. Cito aqui apenas algumas delas:

  • Será o ente público capaz de transcrever em seu futuros Termos de Referência para contratação de modelagem de projetos as exigências e limitações do uso da IA na prestação do serviço?
  • Como os entes públicos valorizarão a experiência e a capacidade na utilização de IA em seus processos seletivos futuros para contratação de empresas especializadas em estruturação de PPPs e Concessões?
  • De que forma os entes públicos utilizarão a IA na avaliação e revisão de estudos de modelagem de projetos?
  • Quais serão os limites de aceitabilidade de estudos que se valerem de IA em sua elaboração?
  • A IA deverá trabalhar com um universo maior de dados, que pode resultar em mais complexidade na avaliação das variáveis e cenários referentes aos projetos. Como assegurar que esses aspectos não tornem ainda mais difícil o processo de tomada de decisão pelos gestores públicos e as entidades de controle?
  • O ente público saberá lidar com o trade-off de poder desenvolver um maior número de projetos renunciando à forma convencional de estruturação e aprovação (que vigora há mais de 25 anos)?

Não resta dúvidas de todas essas questões serão eventualmente respondidas, mas devemos começar a enfrentá-las desde já. Do contrário, aumentaremos ainda mais o gap entre aquilo que o mundo moderno disponibiliza de soluções para melhorar a eficiência dos serviços e o que é efetivamente ofertado pelo setor público.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

Artigos relacionados
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img

Mais vistos