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SE ESSA RUA FOSSE MINHA – A MOBILIDADE URBANA PELA ÓTICA FEMININA

Paula Faria
Paula Faria
CEO da Necta e idealizadora do Connected Smart Cities & Mobility. Especialista no mercado de cidades inteligentes, mobilidade, aeroportos, segurança pública, Parcerias Público-privadas (PPPs) e inovação social. A executiva se destaca, principalmente, por fomentar iniciativas voltadas ao desenvolvimento das cidades brasileiras.

Para se entender mobilidade, é preciso ir além do planejamento urbano: temos que entender como as pessoas transitam de formas distintas a partir de seus gêneros, classes sociais, sexualidade e raça.

A mobilidade urbana em uma cidade inteligente não é apenas a quantidade de deslocamentos feitos em um dia. A discussão sobre o tema está atrelada às necessidades populacionais, econômicas e ambientais das metrópoles, deixando de ser apenas um tópico circunstancial: o acesso à locomoção também é o acesso ao trabalho, lazer, saúde e educação. 

Para se entender mobilidade, é preciso ir além do planejamento urbano: temos que entender como as pessoas transitam de formas distintas a partir de seus gêneros, classes sociais, sexualidade e raça. É indispensável construir uma cidade que reconheça os desafios diários que diferentes pessoas enfrentam ao se deslocar e que projete soluções para uma sociedade mais justa e igualitária.



Um dos grupos que mais sofre com a falta de políticas voltadas para sua mobilidade são as mulheres que, enfrentando jornadas duplas no trabalho e em casa, são maioria no transporte público. Os deslocamentos realizados por esse grupo estão muito associados também ao papel social em que estão inseridas: ainda somos nós que somos responsáveis pelo cuidado diário com os filhos, levando no médico, buscando na escola e levando em outros compromissos. 

A pesquisa Informes Urbanos, feita em 2016 pela Prefeitura de São Paulo, aponta que as mulheres são as que mais utilizam modais coletivos e ativos, o equivalente a 74,6% dos deslocamentos feitos dessas duas maneiras. Um estudo mais recente, feito em 2021 pela Younder, revela que, apesar de representarem 51,7% da população brasileira, as mulheres são proprietárias de apenas 14% dos automóveis e 6% das motocicletas. 

O problema não está no fato de que os deslocamentos são feitos de maneira coletiva, mas na maneira como esses deslocamentos estão decorrendo. De acordo com um levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo, o transporte público segue em destaque como o local no qual as paulistanas acreditam correr mais risco de assédio, sendo que quase metade delas já foi vítima desse crime. 

Apesar da criação da lei federal nº13.718 em 2018, que define como crime atos de importunação sexual, o número de mulheres assediadas no transporte público segue crescendo ano após ano, correspondendo a um aumento de 4% entre 2020 e 2021. Como resultado disso, é comum que esse grupo opte por caminhos mais longos para evitar riscos e, como consequência, demore mais tempo para se locomover.

Pensar em mobilidade é também trabalhar políticas para a segurança das mulheres, tornando os deslocamentos mais seguros. Soluções como os “vagões rosas”, destinados apenas para mulheres em alguns sistemas de metrô, são, embora bem intencionadas, ainda medidas paliativas.

O direito à locomoção compõe e reitera as fronteiras não ditas da cidade. Por muitas vezes o planejamento urbano é pensado pela ótica da tecnologia e inovação, mas não leva em conta os desafios mais concretos, que dizem respeito ao bem-estar social e promovem igualdade. 

As medidas podem ser muitas: aumentar a fiscalização, garantir uma punição mais efetiva, promover campanhas contra o assédio, melhorar a iluminação pública, educar a população, etc, mas qualquer medida só irá funcionar na prática se partir da necessidade de se pensar a cidade pela ótica feminina. 

Pensando nisso, o Parque da Mobilidade Urbana, que acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo, entre os dias 23 e 25 de junho, planejou uma ação destinada a mapear e promover soluções inteligentes para segurar a mobilidade de mulheres. Além de diversas palestras que abordam o assunto, o evento irá contar com a elaboração de um mapa afetivo feito por mulheres.

O levantamento tem como objetivo estruturar o sentimento com relação ao território onde vivem, trazendo experiências pessoais, fragilidades e potenciais da mobilidade urbana na visão desse grupo. O propósito do mapa afetivo é colocar mulheres como protagonistas de soluções que permitam um acesso mais equitativo às cidades.

A criação do PMU, realizada pelo Connected Smart Cities em parceria com o Mobilidade Estadão, vai compartilhar experiências, engajar discussões e realizar ações concretas que serão desenvolvidas de forma colaborativa com diversos parceiros. A proposta inovadora do Parque vai proporcionar a conexão dos atores do ecossistema de mobilidade urbana no Brasil, contando com exposição de produtos, serviços e tecnologias; demonstrações interativas; test-drive e test-ride; atividades recreativas; espaços de convivência e muito conteúdo relevante acerca desse universo.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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