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TRANSFORMAÇÃO DIGITAL: ONDE O CIDADÃO ESTÁ ENQUANTO OS GESTORES PLANEJAM ESTA ESTRATÉGIA?

Iria Almeida
Iria Almeida
Head de Relações Governamentais do Colab, com ações nas áreas de cidades inteligentes e inovação na gestão pública. Atuou como secretária do Gabinete de Governança da Prefeitura Maceió e presidente do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de vice-presidente de Desenvolvimento Regional do Fórum Inova Cidades (Frente Nacional dos Prefeitos) e elaboração da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes.

Em um Governo Digital numa cidade inteligente esta é uma reflexão que precisa ir além das discussões tecnológicas. 

Creio que quem vem lendo meus artigos publicados aqui na Coluna do CSCM já percebeu o quanto gosto de iniciar os textos com indagações e isto acontece porque estes três artigos nasceram de questionamentos reais que tenho me feito e discutido com nosso time de trabalho. Pensar qual o ponto de partida para a digitalização do serviços, qual o conceito de transformação digital e se o cidadão é entendido como parte ativa desses processos me fez chegar ao artigo de hoje.

A Lei de Governo Digital traz expressamente no Art. 1º que “dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o aumento da eficiência da administração pública, especialmente por meio da desburocratização, da inovação, da transformação digital e da participação do cidadão”. Temos a premissa posta de que participação cidadã e transformação digital são instrumentos fundamentais que levam a gestão pública a uma nova qualidade na oferta de serviços. Mas quem pensa na construção de processos de implementação de serviços públicos digitais? Talvez precisemos dar um passo atrás e revisitarmos alguns conceitos, conhecermos boas práticas para que a linha argumentativa desse texto seja sustentada. 



Teoria e prática

O Governo Federal elaborou o manual de instruções “10 passos para a transformação digital”, um esforço louvável de roteirizar e instrumentalizar o processo de transformação digital nos municípios. O passo 7 “Escute o usuário” se dedica a expor métodos de escuta ativa e de como incluir o usuário na construção desses serviços digitais prezando pela boa experiência. O que me causa certo incômodo é não ver o cidadão como ator na construção da política pública de transformação digital, tema do passo 2 “Institucionalize a Estratégia”. E assim o usuário/cidadão não é consultado e qualificado sobre a construção e implementação das políticas públicas de Transformação Digital, ele é introduzido no processo apenas em testes de usabilidade e validação do que está sendo proposto, por exemplo.  Ao meu ver, uma contradição ao já citado art 1° da Lei de Governo Digital. 

Se você, gestora pública ou gestor público, quer construir uma estratégia de transformação digital com foco no cidadão, comece abrindo espaço para o relacionamento cidadão. Tecerei em breves linhas o case da cidade de Niterói. É certo dizer que Niterói tem a gestão pública mais participativa e colaborativa do país, a cidade é a campeã no eixo Governança do Ranking Connected Smart Cities 2021. Niterói avançou bastante na consolidação da sua Carta de Serviços e, por meio do Comitê de Atendimento Cidadão e da Rede de Atendimento ao Cidadão de Niterói, lançou consulta pública para criar subsídios na regulamentação do Código de Defesa dos Usuários dos Serviços públicos (Lei Federal N°13.460/2017 complementar a lei de governo digital). Dia 13 de outubro de 2021, Enzo Tessarolo, Diretor de Governo Digital e Atendimento ao Cidadão na Prefeitura de Niterói, publicou os resultados desta consulta que, mais do que números, trazem a carga da participação do cidadão na construção colaborativa do que podemos chamar de início da estratégia de transformação digital da cidade. É o cidadão no centro da transformação, sendo parte ativa neste processo desde o início.  

Tanto sobre tecnologia quanto sobre pessoas

Diante de tantos textos lidos a respeito e de tantas vivências práticas, afirmo que construí colaborativamente um conceito que adoto sobre Transformação Digital. Para mim, é como se transforma uma cultura de uso de serviços públicos e se renova toda uma lógica de trabalho, e isto diz respeito a pessoas: as que usufruem dos serviços (cidadãos) e as que praticam os serviços (servidores públicos). Por isso afirmo que essa discussão vai muito além de tecnologia, ela só acontece se for centrada de fato e de direito em pessoas. E para essa transformação ser efetiva e de qualidade, ela precisa ser vivida, desejada e almejada pelas pessoas, respeitando diferenças e com mecanismos precisos de inclusão que afastem cada vez mais da realidade brasileira o abismo crescente da segregação digital.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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