A crescente mudança nas experiências de consumo das pessoas, que exigem cada vez mais serviços e produtos sustentáveis, realinhou modos de produção e modificou as estratégias comerciais, competitivas e de reputação das empresas
Assim como a transformação digital ganha contornos de fenômeno irreversível, a sustentabilidade ambiental ganha centralidade no planejamento estratégico empresarial de companhias de todo o mundo, em um caminho sem volta. Os três pilares que sustentam a marca ESG (em português, meio ambiente, social e governança) consolidam-se como premissas necessárias para o processo de remodelagem dos negócios.
A crescente mudança nas experiências de consumo das pessoas, que exigem cada vez mais serviços e produtos sustentáveis, realinhou modos de produção e modificou as estratégias comerciais, competitivas e de reputação das empresas.
Ao virar o foco para a gestão pública, verificamos que esse movimento guarda profunda convergência com os princípios norteadores das cidades inteligentes. Como preconiza a Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, a maior conectividade e o uso das tecnologias devem favorecer a construção de espaços urbanos com serviços públicos mais eficientes, inclusivos e sustentáveis do ponto de vista ambiental.
A ABDI tem como principal missão contribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico do país. Para tanto, é grande a atenção da nossa equipe a esse horizonte. Seja nas cidades, no campo, no comércio, nos serviços ou na indústria – setores onde atuamos -, estimulamos a transformação digital como meio para a maior eficiência dos negócios em um contexto de maior bem-estar social. E, na execução dos nossos projetos, entendemos cada vez mais que a adoção de tecnologias constrói a ponte para a sustentabilidade.
Paralelo aos nossos projetos de Cidades Inteligentes, trabalhamos, desde o ano passado, com a ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) na elaboração de novos modelos de negócios com base nos princípios da Economia Circular. A ideia é mapear e buscar sistemas para aperfeiçoar as práticas em logística reversa de RSU (Resíduos Sólidos Urbanos), e incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias de coleta e processamento de resíduos.
De acordo com a Ellen MacArthur Foundation (2020), mudanças climáticas e questões ambientais, sociais e de governança (ESG) se tornaram os principais tópicos para empresas de serviços financeiros, seus clientes e reguladores. Ainda segundo a entidade, desde o início de 2020, os ativos administrados por meio de fundos de ações públicos, tendo a economia circular como foco de investimento único ou parcial, aumentaram seis vezes, de US$ 0,3 bilhão para mais de US$ 2 bilhões. Esses fundos, em média, tiveram desempenho 5% melhor do que seus benchmarks no primeiro semestre.
Estudo realizado pela consultoria Accenture em 2021 mostra o Brasil como o quarto maior produtor de lixo plástico, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Estima-se que a taxa de reciclagem não chega a 25%. Numa estimativa do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), o valor potencial que deixa de voltar para a economia sem a reciclagem é de cerca de R$ 5,7 bilhões por ano.
Com a comparação com materiais que possuem taxas de reciclagem mais altas, como o alumínio, papel e aço, que chegaram a 98%, 67% e 47% respectivamente (Brasil, 2019), vislumbra-se que há grande potencial e espaço para iniciativas de reuso de plásticos.
Os dados indicam, portanto, que a transição para a economia circular mostra grande potencial para a emergência de negócios inovadores, que vão trazer ganhos relevantes de competitividade para a indústria e, ao mesmo tempo, oportunidades de o Brasil se posicionar globalmente, ampliando sua base de negócios no exterior.
Portanto, o que verificamos é a sustentabilidade afirmando-se como um novo padrão de produção e de investimento. Para as cidades inteligentes, essa é a agenda a ser perseguida. Acreditamos que o crescimento econômico será́ pautado pela capacidade de as lideranças corporativas e públicas direcionarem mudanças orientadas a esse novo modelo sustentado pelo tripé do meio ambiente, social e da governança. E, nós, da ABDI estamos seguros de nossas potencialidades para contribuir na construção dessa rota.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Atuou como Secretário Especial Adjunto do Ministério da Economia, e Secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do extinto Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Também foi Chefe da Assessoria de Assuntos Regulatórios e Internacionais do Ministério da Saúde e analista de Negócios e Projetos da Apex-Brasil.