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CIDADE INTELIGENTE NÃO PODE SER SINÔNIMO DE EXCLUSÃO

Leandro Garcia
Leandro Garcia
Leandro Garcia é o atual Diretor-Presidente da Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel) e atual Presidente da ANCITI – Associação Nacional das Cidades Inteligentes, Tecnológicas e Inovadoras. Professor de cursos de pós-graduação no Instituto de Ciências exatas e Informática da PUC Minas. Bacharel em Sistemas de Informação, pós-graduado em Gestão de Saúde Pública e em Engenharia de Software, especialista em Machine Learning e mestrando em Informática. Membro do conselho técnico-cientifico do BHTec, vice-presidente do conselho da Fundação Mineira de Software e consultor do Instituto Smart City Business América.

O advento das novas tecnologias, ao colocar as cidades na vanguarda do conhecimento, deve encontrar alternativas para a promoção  de políticas públicas que promovam a inclusão dos cidadãos em todos os campos, também no mundo digital

Por todo o mundo as cidades experimentam, nos últimos anos, um profundo processo de transformação. De um lado, a demanda do cidadão por serviços de melhor qualidade, ganho de agilidade e atendimento personalizado; por outro lado, as restrições financeiras e orçamentárias. Esses dois pontos, tão divergentes, parecem ter tido sua distância aumentada pela pandemia do novo Coronavírus, quando  grande parte dos recursos financeiros foram destinados para uma finalidade não prevista. Além do mais,  a necessidade de isolamento social  demandou transformação na entrega de serviços e informações para o cidadão, priorizando o contato mediatizado pela tecnologia.

Se a necessidade de atualizar a abordagem ganhou força com a emergência da pandemia, em proporção igualmente importante se discute a corrida pela transformação digital e inserção de novos elementos na vida das cidades, perpassando por uma nova relação que inclua qualidade de vida com o uso das tecnologias.



No entanto,  mudar processos existentes há décadas, em um cenário complexo e de grande volume, é mais difícil do que parece. Para materializar esta dificuldade, podemos lembrar das diversas temáticas que envolvem o dia a dia de uma cidade e a sua gestão: saúde, educação, assistência social, trânsito e mobilidade, segurança patrimonial, fiscalização, financeiro, obras, e outras diversas nuances referentes à coletividade.

Apesar do gigantesco desafio, muitas cidades pelo Brasil têm seguido essa jornada de transformação e conseguido dar passos importantes nesse caminho, ganhando a alcunha de  Smart City.  E isso não diz respeito tão somente a métricas, mas ganho em comutação de processos antes analógicos para digitais e que permitam que o cidadão tenha entregas de qualidade, seja nas políticas públicas, na garantia de direitos e, ainda, no bem estar social e ambiental. É por isso que essa mudança caminha na lógica de entregas sociais precisas, rápidas e que tenham seu impacto também na sustentabilidade. 

Mas um cuidado muito especial é necessário: onde está o cidadão e qual seu poder de acesso ao mundo digital?  

A pesquisa TIC domicílios 2019-2020 (Tecnologias da Informação e da Comunicação) mostra alguns dados que colaboram com essa preocupação. Existem hoje, no Brasil, mais de 20 milhões de domicílios que não possuem qualquer tipo de conexão com a internet. Isso corresponde a 28% da população. Dos domicílios mais pobres,  classes D e E, que possuem internet, 85% possuem com uso exclusivo em celular. Ainda nas classes D e E, apenas 14% dos domicílios possuem computador. Então, como essas pessoas acessam os serviços públicos digitais? Como estudam durante a pandemia, em formato EAD? Como trabalham em modelo de home-office? Como usam as redes sociais? A resposta vem da própria pesquisa: são os excluídos digitais. 

Inclusão digital

A Inclusão digital é a resposta para esse desafio, mas ao contrário do que possa parecer, não deve ser classificada como um custo adicional decorrente da implantação de ações de digitalização e transformações dessa natureza. Em tempos digitais é um direito, uma feliz obrigação que se impõe aos gestores públicos.

A capital de Minas Gerais também se colocou frente a esse desafio: modernizar-se e incluir o cidadão, ente prioritário da vida na urbi, como ser de direito, deveres e agente dessa transformação. Em poucos anos, marcada pela mineiridade do encontro, da música, dos bares, das celebrações da cultura popular tão presente em uma cidade com pouco mais de um século, Belo Horizonte se tornou um pólo gerador de mão de obra especializada para a indústria da tecnologia, setor que mais cresce e demanda profissionais para a área. E onde foi buscar esse efetivo? Nas vilas, favelas, na periferia, através de um grande projeto de inclusão digital. Em 2019, a cidade foi finalista no maior evento de Smart City do mundo, World Smart City Awards, em Barcelona, graças a um projeto de inserção de mulheres na tecnologia, chamado  Programando os Sonhos Delas.  

Neste ano,  a cidade lançou um ousado plano de inclusão digital, mesclando  conectividade, dispositivos e  capacitação para 370 mil moradores de vilas e favelas da capital. E por que tudo isso? Entendemos que Inclusão digital é também responsabilidade do gestor, que acredita no futuro. Não somente um tempo a frente, uma data no calendário vindouro, mas a antecipação do momento presente com qualidade de vida que envolva a todos, em especial aqueles menos favorecidos por uma colonização que criou um universo de excluídos, seja pela cor da pele, acesso às políticas públicas e outros padrões que criaram distância onde deveria existir proximidade, afinal, todos são cidadãos.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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