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ONDE ESTÁ O MEIO AMBIENTE NA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL?

Sarah Habersack
Sarah Habersack
Diretora do programa Transformação Urbana da cooperação técnica Brasil-Alemanha da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, onde coordenou, junto ao Ministério de Desenvolvimento Regional, a formulação da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes. Especialista em mudança organizacional, desenvolvimento urbano e transformação digital, com atuação na Índia, Europa e no Brasil.

A mudança do clima e a transformação digital são realidade e precisam de estratégias, investimentos e ações para mitigar seus impactos negativos e identificar suas oportunidades

A cidade é tanto cultura quanto natureza. Mesmo assim, o planejamento urbano, o mercado imobiliário e nós mesmos, como consumidores e cidadãos, esquecemos disso. Uma cidade só funciona pelos serviços que a natureza nos oferece. A água que tomamos, a sombra da árvore no parque preferido, a praia de Ipanema que atrai pessoas para se divertir.

Desde o começo da pandemia da Covid-19 ficamos ainda mais felizes sobre cada parque, cada avenida onde as árvores ganharam a luta contra o cimento, que nos permitiu sair (com máscara) do isolamento para caminhar.



As transformações da sociedade 

Nossas cidades e nossa sociedade estão passando por duas grandes transformações que estão mudando a forma como pensamos, agimos e nos relacionamos. A mudança do clima e a transformação digital são realidade e precisam de estratégias, investimentos e ações para mitigar seus impactos negativos e identificar suas oportunidades. 

Para gestores urbanos e cidadãos não é opcional trabalhar com esses temas, mas sim uma responsabilidade. Há inúmeros eventos sobre cidades inteligentes e a mudança do clima, mas poucas vezes esses mundos se encontram. Não podemos pensar a transformação digital sem olhar para os impactos ao meio ambiente, bem como não podemos definir estratégias para a mudança do clima sem considerar as possibilidades e riscos das soluções digitais.

Os impactos ao meio ambiente

A transformação digital precisa de recursos da natureza. Cada dispositivo que usamos é produzido com metais especiais como lítio, cuja exploração tem um impacto significativo no meio ambiente. No deserto chileno do Atacama, onde existem grandes reservas deste metal, entre 2000 e 2015, foram extraídos quatro vezes mais água do que chega por chuva e descongelamento[1]. Para cada atividade com nossos telefones ou laptops precisamos de eletricidade que pode vir de fontes de energia renovável ou não.

Cada um dos nossos dispositivos com obsolescência programada para aumentar o consumo, se transformarão em lixo eletrônico, para cuja gestão as nossas cidades não estão preparadas. 

 Tecnologia pode ajudar?

Ao mesmo tempo, soluções digitais podem aumentar os impactos positivos na mitigação e adaptação do clima, como aplicativos para alertar sobre inundações ou ferramentas para aumentar a eficiência no trânsito.

A transformação digital muda o tipo de cidades que criamos com os nossos comportamentos. Trabalho remoto e comércio online reduz viagens de pessoas, mas aumenta viagens de produtos. O comércio local está perdendo consumidores e no mesmo momento é preciso achar espaço para a construção de centros de processamento de dados. 

Novos atores entraram na disputa pelo solo urbano que já existia entre a natureza e o ambiente construído. Nossas ações no mundo virtual se manifestam no mundo analógico, por exemplo, pelas fibras óticas que começaram a ocupar o subsolo e pelas antenas ocupando os postes das nossas cidades.

Humanos, meio ambiente e máquinas 

Finalmente, a transformação digital questiona o nosso entendimento do que significa ser humano. Quais são as nossas características únicas e como imaginamos construir a nossa relação com a inteligência artificial e com as máquinas que começaram a assumir papéis que tradicionalmente eram nossos?

A nossa relação com a natureza faz parte do entendimento sobre sermos humanos por muito mais tempo. Com o começo da industrialização e da urbanização, esta interação se caracterizou por um abuso dos recursos naturais sem levar em consideração as interdependências.

Como então imaginamos construir essa relação entre humanos, meio ambiente e máquinas para coexistir com respeito e cooperar para cidades sustentáveis e inteligentes? Para isso precisaremos de decisões políticas corajosas, de um reconhecimento da importância dos serviços ecossistêmicos e aprender da inteligência ambiental como esses serviços se organizam.

[1] https://www.dw.com/de/zunehmender-lithium-abbau-verst%C3%A4rkt-wassermangel-in-chiles-atacama-w%C3%BCste/a-52039450
[2]https://s22.q4cdn.com/959853165/files/doc_downloads/2020/02/0220_Netflix_EnvironmentalSocialGovernanceReport_FINAL.pdf

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities 

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