Com a tendência da entrada de novos modelos de mobilidade urbana cada dia mais forte, é preciso preparar um sistema de transporte que seja capaz de integrar diferentes modais
Um dos principais desafios dos grandes centros urbanos é o de garantir a mobilidade cotidiana. Fornecer condições adequadas para que as pessoas possam se locomover é essencial para a troca de bens e serviços, além de possibilitar o contato com o lazer e cultura presentes na cidade. Com isso, é preciso reconhecer que o automóvel individual promove uma maior poluição, desigualdade social e intensifica a dificuldade de locomoção. É necessário desenvolver um plano de mobilidade que integre diferentes modais como alternativas ao transporte individual, possibilitando uma locomoção mais democrática no espaço urbano.
A PROMOÇÃO DA BICICLETA
De acordo com a Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), a venda de bicicletas cresceu 50% em 2020 em comparação com 2019. Com as medidas de isolamento social, aumento dos serviços de delivery e diminuição da frota de veículos do transporte público, a bicicleta se tornou uma alternativa importante para a mobilidade urbana.
A promoção desse meio de transporte, contudo, não é tão simples: a bicicleta só funcionaria para grande parte da população se estivesse integrada com sistemas de transportes já existentes. Em uma realidade em que os deslocamentos em grandes centros urbanos são extensos, é impossível imaginar uma pessoa cruzando uma cidade como São Paulo todos os dias de bicicleta, por exemplo. Apesar disso, de acordo com a Pesquisa Origem Destino 2017, 95,2% dos deslocamentos realizados em bicicleta são feitos de maneira exclusiva: ou seja, utilizar bicicleta como meio de locomoção ainda é um privilégio para quem consegue morar próximo do trabalho/escola/lazer.
Além disso, o risco para quem seleciona o modal é grande. Em 2019, São Paulo apresentou um aumento de 64% nas mortes de ciclistas, sendo que grande parte dessas tragédias poderiam ter sido evitadas com a redução da velocidade nas principais vias. Com o limite de velocidade nas marginais paulistas chegando a 90 km/h, São Paulo está fazendo o oposto do que cidades referências em mobilidade estão fazendo no mundo, como Tóquio, Nova York e Londres.
Mesmo apresentando dificuldades para a implementação da bicicleta como meio de transporte seguro e viável, São Paulo se manteve na primeira posição no recorde de mobilidade e acessibilidade do Ranking Connected Smart Cities desde 2015, sendo que esse resultado deve-se justamente a quilometragem de ciclovias- a cidade possui 504,0 km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 473,7km de ciclofaixas e 30,3km de ciclorrotas.
Grande parte do problema está na falta de políticas públicas que vão além da implementação das ciclofaixas: é preciso entender que a bicicleta deve ser integrada a um sistema maior de transporte, sendo uma alternativa complementar a metrôs, ônibus e etc. É preciso que exista segurança para os ciclistas, reduzindo a velocidade das vias, garantindo iluminação pública e fazendo a manutenção das ciclofaixas regularmente.
Nesse sentido, a maneira como se entende a mobilidade urbana mudou muito com a chegada de novas tecnologias: cada vez mais o número de aplicativos voltados para a mobilidade aumentam, assim como novas maneiras de se realizar o mapeamento e gestão do transporte público. Com soluções inovadoras, a mobilidade inteligente passa a ser essencial para garantir o cotidiano das cidades e promover um futuro sem congestionamentos, utilizando a bicicleta como alternativa aos meios de transporte tradicionais.
A mobilidade é um indicador diário que aponta para as desigualdades do espaço urbano: o acesso ao transporte é o acesso ao trabalho, lazer, saúde, educação e outros diversos direitos do cidadão. O acesso que não é feito de maneira justa, entendendo as limitações que diferentes indivíduos têm para se locomover, contribui para as desigualdades sociais, raciais e de gênero.
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