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A MOBILIDADE URBANA PELA ÓTICA FEMININA

Os desafios que as mulheres enfrentam para se locomover dentro das cidades

Historicamente, o planejamento urbano de uma cidade se dá a partir de uma ótica de neutralidade, ou seja, não se diferenciam os cidadãos por gênero, etnia e condição social, sendo apenas levada em conta as necessidades urbanas de uma cidade para mapear o transporte. Cada vez mais, contudo, estudiosos e entidades públicas têm percebido que, para se entender mobilidade, é preciso ir a lém do planejamento urbano: é preciso entender que as pessoas transitam de formas diferentes a partir de seus gêneros, classes sociais, sexualidade e raça. 

O acesso ao transporte é o acesso ao trabalho, lazer, saúde, educação e outros diversos direitos do cidadão. O acesso que não é feito de maneira justa, entendendo as limitações que diferentes indivíduos têm para se locomover, contribui para as desigualdades sociais, raciais e de gênero. 

Enfrentando jornadas duplas no trabalho e em casa, as mulheres são maioria no transporte público: de acordo com a última Pesquisa Origem Destino divulgada pelo metrô de São Paulo em julho de 2019, elas ultrapassam em 10% os homens na utilização de ônibus, metrôs e trens. Apesar disso, sofrem diariamente com assédio sexual e a insegurança, sendo obrigadas muitas vezes a utilizarem trajetos mais longos para evitarem lugares de risco. 

SE ESSA CIDADE FOSSE MINHA

Entre 2008 e 2018, de acordo com a Secretária de Segurança Pública, os registros de crimes sexuais nos transportes coletivos cresceram 256%. Como resposta a esse problema, foi criada em 2018 uma lei federal nº13.718 que define como crime atos de importunação sexual (toque em partes íntimas, masturbação e ejaculação em local público). Outra medida implementada foi a do ‘vagão rosa’ destinado apenas para mulheres em alguns sistemas de metrô- medida essa que não tem sido muito eficiente já que muitos homens não respeitam a lei e a Polícia Militar retira, em média, 50 homens por dia desses vagões no Rio de Janeiro. 

Apesar disso, as mudanças não têm sido eficazes: de acordo com a pesquisa do Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, 97% das entrevistadas já foram assediadas no transporte público e metade dessas mulheres não se sentem confiantes de utilizar ônibus, metrôs e trens. 

Além disso, o problema não é exclusivo ao transporte: de acordo com a Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, mulheres caminham nas ruas 12% a mais que homens, sendo que a Pesquisa realizada pela ActionAid feita com mulheres moradoras de áreas periféricas de diversos estados do país aponta que 75% das entrevistadas já desviou do seu trajeto por conta da falta de iluminação na rua e 70% já deixou de sair de casa em determinados horários por medo de sofrer assédio. 

O modo como a mobilidade urbana se dá em uma cidade é fruto de processos históricos de desigualdades de gênero, como também é intensificador desses: quando não se tem o mesmo acesso a locomoção, não se tem o mesmo acesso à cidade. É preciso pensar em maneiras de se garantir que as mulheres ocupem esse espaço que é seu por direito, conseguindo exercer o seu direito de ir e vir sem ser restringida por um vagão, ou um determinado horário. 

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