É um desafio equilibrar a tecnologia com o mundo real, mas sentir um vento no rosto e o simples ir e vir em uma bicicleta, por exemplo, que já era sinônimo de liberdade, se tornou algo realmente desejado e necessário
Para cada inovação apresentada ao mundo, é comum ouvirmos questionamentos como “até onde vamos chegar?” ou “não tem mais o que inventar”. Nas últimas semanas de 2021, um dos assuntos que mais se destacou – e agora vem ganhando holofote – é o Metaverso. Apesar das muitas críticas contra Mark Zuckerberg por ter apresentado o termo a um produto que, na verdade, já existia, o recurso ainda assim pretende dominar a tecnologia este ano – e, assim como toda tendência inovadora, gera muitas curiosidades e discussões. Por exemplo, como será trabalhada a mobilidade dentro desse conceito que explora tantos cenários virtuais?
Até pouco tempo, a ideia de criar uma realidade paralela para ser acessada através de dispositivos, como óculos de realidade virtual e luvas, parecia algo futurista, mas hoje algumas inovações desse tipo já fazem parte da vida de muitas pessoas, como é o caso da NFT. Seria inacreditável ler notícias informando que tem pessoas investindo em imóveis e diversos bens criptografados? Não mais! Há poucos dias, a primeira casa do mundo real foi colocada à venda no metaverso.
As compras online e o home office, comuns na vida de algumas pessoas, tornam o simples ato de se locomover para fora de casa quase nulo. Mas não podemos nos esquecer que ficamos por muitos meses em isolamento social e experimentamos uma incerteza angustiante -, e a ansiedade para sair na rua e socializar foi avassaladora. É um desafio equilibrar as tecnologias com o mundo real, mas sentir um vento no rosto e o simples ir e vir em uma bicicleta, por exemplo, que já era sinônimo de liberdade, se tornou algo realmente desejado e necessário, junto a outras ações que eram simples e faziam parte do nosso dia a dia.
Metaverso é uma realidade e vai crescer. Mas, como sociedade, entendo que deveríamos gastar mais energia em trabalhar problemas do mundo real. Não quero que a vida, no futuro, seja todo mundo dentro de casa, plugado em uma máquina e vivendo em um mundo virtual. Imagine viver dentro do filme Matrix. Parece algo assustador e ilusório, mas está acontecendo.
Somos seres sociais e precisamos interagir, comer e dormir. Não faz sentido vivermos apenas na nossa cabeça em um mundo paralelo. Deveríamos gastar muito mais energia e esforço para resolver de uma vez por todas os problemas do mundo real.
O termo “cidades inteligentes” é justamente o conjunto de integração da tecnologia da informação e dispositivos físicos conectados à rede IoT, com o objetivo de otimizar a eficiência das operações e serviços de uma cidade e conectar-se aos cidadãos. Precisamos estabelecer conexões e trocas de experiências entre as pessoas do mundo inteiro, presencialmente também (ou principalmente!).
Não sou alheio a essas evoluções, de forma alguma. Represento, antes de mais nada, uma empresa de tecnologia, e por meio dessas inovações é que somos capazes de melhorar cada vez mais a forma como as pessoas vão se locomover, sempre pensando em um bem geral. Por outro lado, o questionamento que trouxe inicialmente vem à tona, mas com um pequeno ajuste: afinal, o que estamos buscando de fato e até onde queremos chegar?
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Sócio-fundador e COO da Tembici, empresa líder em micromobilidade na América Latina. Especialista em mobilidade urbana e precursor da entrada da tecnologia de bicicletas compartilhadas com estações no Brasil, tendo criado e implementado o projeto PedalUSP, o primeiro sistema de compartilhamento de bikes da Universidade de São Paulo.