Os benefícios da mobilidade urbana elétrica, além da sempre propagada sustentabilidade de zero emissão de CO2 e de ruídos, passam obrigatoriamente pela razão
A discussão sobre a mobilidade urbana se inicia com o foco em quem habita e utiliza os espaços da cidade, e consequentemente em como se locomovem: a pé, de ônibus, metrô e transportes individuais. Discutir o futuro do transporte urbano, e consequentemente a evolução da matriz energética, tem fomentado debates acalorados que lembram muitas vezes torcidas apaixonadas de futebol.
Na mobilidade elétrica, como toda a evolução tecnológica, pode acontecer aos poucos ou como está acontecendo, de forma disruptiva. Estamos presenciando uma mudança muito rápida de como locomovemos, utilizamos, produzimos e como adquirimos nossos meios de transporte.
Os benefícios da mobilidade urbana elétrica, além da sempre propagada sustentabilidade de zero emissão de CO2 e de ruídos, passam obrigatoriamente pela razão. Quando se fala de sustentabilidade, não podemos falar apenas de poluição, e sim de eficiência, economia, bem-estar e de novo pela razão. E para benefício desse entendimento, recentemente presenciamos bons exemplos.
Veículos – Ranking de deficiência energética
Em recente pesquisa do Inmetro sobre os veículos leves vendidos no Brasil classificados por menor consumo de combustível, o mais bem colocado o Chevrolet Onix, cai de 1º colocado para um desastroso 41º lugar quando adotado o critério de economia e eficiência energética para todos os carros vendidos no Brasil. Na frente dele estão 40 veículos, todos eletrificados.
Essa comparação entre matriz energética diferentes, pode ser medida em eficiência, por uma equivalência à gasolina. A versão final da conta é o consumo medido em MJ/l (mega joules por litro). Esse é o índice final, reconhecido internacionalmente, para avaliar a eficiência de qualquer veículo.
O campeão dos carros a combustão interna é 70% menos eficiente que o campeão dos elétricos, constatado pela Tabelas de Consumo / Eficiência Energética Veículos Automotores Leves do Programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE / INMETRO 2021.
Venda de veículos elétricos e painéis solares
Nada mais natural de associar veículos elétricos, seja ônibus, caminhões ou carros de passeio, a energias renováveis. Abastecidos “pelo sol ou vento”, os usuários da mobilidade elétrica ficam livres da sazonalidade da cana e variações de mercado do petróleo, sem falar da usual adulteração e periculosidade dos combustíveis.
Recentemente foi anunciado pela empresa chinesa BYD, a venda de veículos elétricos de passeio no Brasil, para o consumidor final. A novidade, ou melhor evolução do conceito de mobilidade, é de oferecer na mesma concessionária os seus carros elétricos e um pacote de solução energética. Serão oferecidos painéis solares e baterias, possibilitando ao comprador gerar, em sua própria casa, a energia a ser usada pelo seu automóvel.
Uma ideia inovadora, possibilitando uma autonomia energética e de locomoção, independente de variações de mercado, inimagináveis a alguns anos.
Carros elétricos e o racionamento de energia
A grande discussão, em época de possível racionamento de energia, é a infraestrutura existente e a necessidade de recarga com o aumento das vendas de veículos elétricos. Vale lembrar que os veículos leves de passeio 100% elétrico devem fechar o ano de 2021 em pouco mais de 4.000 unidades emplacadas, representando apenas 0,0093% da atual frota em circulação no Brasil.
Em estudos recentes, demonstram que a atual infraestrutura de geração e distribuição de energia no Brasil, sustenta até um percentual de 5% da frota totalmente elétrica. Estamos prevendo esse crescimento em 15 anos, nas visões mais otimistas, e concomitante, esperamos uma evolução na quantidade e qualidade da geração de energia no país.
Bons exemplos e atitudes, em prol da mobilidade sustentável, estão cada dia mais frequentes e próximos do consumidor. Apesar da falta de políticas públicas, o setor privado e a sociedade civil organizada, vem protagonizando essa mudança.
A escolha pelo meio de transporte elétrico, como matriz principal para os nossos centros urbanos, ultrapassou as questões de poluição e saúde pública para se tornar uma questão de razão!
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Presidente da ABRAVEi – Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores; Conselheiro do CAU/BR – Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo do Brasil; sócio da MKZ Arquitetura; diretor Técnico ADEMI/DF – Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do DF; e diretor da AEarq – Associação dos Escritórios de Arquitetura e Urbanismo de Brasília.