As ações vão desde doações até investimento e mentoria
Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade dos indígenas brasileiros vivem em território urbano. Se for parar para pensar nas razões que explicam a mudança para a cidade ou o deslocamento diário até ela, as respostas estão na busca por trabalho, melhores condições de acesso à saúde e educação e perda de terras.
Um exemplo claro é a votação da PL 490, que tramita no Congresso desde 2007 e determina que são terras indígenas aquelas que estavam ocupadas pelos povos tradicionais em 5 de outubro de 1988. Ou seja, seria necessária a comprovação da posse da terra no dia da promulgação da Constituição Federal. Portanto, se aprovado, o PL 490 também colocará em risco comunidades quilombolas e outros povos tradicionais brasileiros. Embora sejam povos originários, os indígenas ainda são invisíveis ao poder público e à própria população. Em meio às ameaças de violência, riscos de perda de direitos em decorrência da pressão dos latifundiários, mineradoras e usinas, os povos indígenas lutam para sobreviver.
O Instituto Aromeiazero, organização que desenvolve projetos através da bicicleta para reduzir as desigualdades sociais e tornar as cidades mais verdes e resilientes, vem atuando, desde o início da pandemia, para promover o uso da bicicleta entre os indígenas, facilitar a locomoção nas aldeias e fortalecer a geração de renda. “Estimular o uso da bicicleta nas aldeias vai além da proteção ao meio ambiente, também ajuda a garantir acesso à direitos e mais qualidade de vida nas aldeias”, explicou Renata Cirillo, Coordenadora de Projetos do Instituto.
Foi assim que, entre abril e maio deste ano, a organização através da campanha Bike Parada Não Rola doou 40 bicicletas, entre adultas e infantis, a duas aldeias localizadas no Estado de São Paulo: Tenondé Porã, em Barragem e Guyra Pepo, em Tapiraí. A iniciativa se deu a partir do entendimento que bicicletas podem contribuir para a vida dessas comunidades, apoiando a mobilidade de forma sustentável, favorecendo, portanto, maior autonomia dos que lá habitam.
Outro projeto foi a Jornada Para Multiplicadores do Rodinha Zero, voltada para educadores, pais, funcionários de escola e organizações sociais, que busca sensibilizar e formar multiplicadores para ampliar a cultura ciclista em diferentes territórios e promover ações que impulsionem o uso da bicicleta como ferramenta para o desenvolvimento integral das criança. Os participantes desenvolveram planos mobilizadores que estão presentes no E-book Rodinha Zero e os projetos selecionados receberam mentorias do Aromeiazero para desenvolverem.
Um deles foi o Pedal na Aldeia, projeto que tem o objetivo de mobilizar os alunos da Escola Estadual Indígena Itaawyak, localizada no norte do estado do Mato Grosso, entre os municípios de Apiacás (a 1.010 km de Cuiabá) e Jacareacanga, no estado do Pará. O acesso saindo da Aldeia, só é possível pelas águas do Rio Teles Pires. As crianças enfrentam não apenas dificuldades de acesso geográfico, mas também falta de acesso às novas tecnologias, ferramentas e equipamentos de lazer e recreação, o que limita bastante as condições para um saudável desenvolvimento motora.
No mês de março, o Aro realizou com o patrocínio do Instituto Phi, a Bike-a-thon Cicloturismo,uma maratona de inovação social que ofereceu apoio técnico e financeiro para ideias, negócios e projetos de turismo de bicicleta que querem estruturar seu plano de negócio e sua operação diante dos desafios da pandemia. Um dos quatro projetos selecionados foi a Muriki Cicloturismo, responsável por propor o desenvolvimento de uma rota de cicloturismo na Unidade de Conservação da Floresta Nacional do Tapajós no Pará, articulando três comunidades tradicionais/indígenas, fortalecendo o turismo sustentável e gerando renda para as famílias que vivem nas reservas.
Em 2020, o Instituto apoiou o projeto Renova Bike, idealizado pela Família Terena do Mato Grosso do Sul. O apoio se deu após a seleção de projetos da Bike-a-thon, patrocinada pelo Itaú Unibanco. O objetivo era de levar mobilidade, promover interação social e fazer com que as crianças da aldeia indígena da cidade de Aquidauana pudessem usar bicicleta como ferramenta de lazer e de meio de transporte até as escolas. Ao todo, 21 crianças foram contempladas. Quinze tiveram suas bicicletas consertadas e seis ganharam uma nova.
Para Everton Silvério Ferreira, responsável pelo Renova Bike, o apoio do Aromeiazero foi fundamental para levar lazer, mobilidade e interação para a vida dessas crianças. “A maioria dos pais dos pequenos não tinha condições financeiras para comprar uma bicicleta ou consertar uma antiga, e graças ao Aro isso foi possível”. Alguns meses depois, as bicicletas seguem rodando com as crianças de Aquidauana.