Adultos entre 18 e 22 anos e as mulheres são as mais acometidas por doenças relacionadas à falta de saneamento. Esta foi a principal constatação de um mapeamento realizado pela Neurotech, empresa especialista na criação de soluções avançadas de Inteligência Artificial, Machine Learning e Big Data. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças diarreicas ainda hoje estão entre as dez principais causas de morte no mundo, com mais de 430 mil óbitos ao ano, sendo que 88% dos casos são causados pelo saneamento inadequado.
O levantamento realizado pela Neurotech cruzou dados públicos que possibilitaram correlacionar a incidência dessas doenças com a taxa de saneamento por cidade e planejar intervenções que geram redução dos casos e, consequentemente, uma economia para a sociedade. A metodologia utilizou soluções da plataforma de Big Data Neurolake para processar as informações e gerar variáveis. Vale destacar que o estudo exclui a população abaixo de 18 anos porque a empresa não trabalha com informações de menores de idade.
Trata-se de uma análise que pode ajudar na construção de políticas públicas diante de um cenário que não é nada bom, apesar do novo Marco Legal do Saneamento, que prevê a universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil, prevista pelo Governo Federal para ocorrer até 2033. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostram que apenas 83,6% dos brasileiros são abastecidos por rede de água e 53,2% têm o esgoto coletado, mas somente 46% é tratado. Em números absolutos, são 34 milhões de pessoas que vivem sem água e quase 100 milhões sem esgoto em todo o país.
“São casos que geram impacto no custo Brasil e no preço de planos de saúde, que precisam se adequar a uma realidade em que milhões de reais são gastos anualmente em internações e medicamentos para o tratamento dessa população”, diz Cláudio Alves Monteiro, Cientista de Dados da Neurotech, responsável pelo levantamento. Em 2019 foram gastos 142 milhões de reais com internações por conta dessas doenças no Brasil.
Ações baseadas em evidências que geram eficiência na gestão de saúde
Como em qualquer outra área, as ações de prevenção são mais eficientes quando são baseadas em evidências. Na Saúde não é diferente. “Ao relacionar a distribuição das doenças por falta de saneamento a partir de dados do Datasus e da taxa de saneamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) foi possível traçar um perfil das pessoas que podem ser alvo de um programa de saúde que busque melhorar a qualidade de vida dos brasileiros”, diz Monteiro.
Mas, com base nas informações, uma instituição pode, por exemplo, direcionar campanhas de conscientização sobre a higiene numa linguagem adequada para a faixa etária jovem. Também é possível planejar um formato de campanha generalista em relação ao sexo e outro formato focado em mulheres, tendo em vista as especificidades relacionadas ao sexo feminino, já que se observa que essas internações são ligeiramente mais comuns no público feminino.
Previsão de sazonalidade
– “É interessante notar também uma distribuição sazonal, no qual há picos e vales no número de internações e isso levanta a hipótese de que há uma previsibilidade em quando esses casos voltam a subir e que poderia ser explorada para construir um modelo de previsão da quantidade de casos nos próximos meses ou ainda explorar quais as causas dessa sazonalidade e qual tipo de intervenção poderia ser feita antecipadamente”, diz o cientista.
Uma explicação possível, segundo Monteiro, é o aumento de chuvas e baixa na temperatura nos períodos em que há um aumento nesses casos, entre maio e agosto. A evidência ajuda a prever uma alta na demanda por medicamentos, leitos e profissionais, de modo a antecipá-la e não sobrecarregar o sistema nos meses de alta.
Análises como essas permitem o direcionamento de medidas preventivas por parte de gestores públicos e privados para a população mais atingida e que gera mais ônus, produzindo uma melhora na saúde da população como um todo. Além disso, garantem que as pessoas passem menos tempo internadas e mais tempo trabalhando e movimentando a economia. A promoção de saneamento de qualidade também gera mais dignidade para as comunidades e diminui níveis de estresse e ansiedade.
Segundo o Instituto Trata Brasil, a universalização do sistema de saneamento custaria quase R$ 400 bilhões nos próximos 20 anos, mas geraria R$ 1,5 trilhões de benefícios para economia com a redução dos custos com a saúde, aumento da produtividade do trabalho, renda da valorização imobiliária, do turismo, além da redução de sinistralidade para as operadoras de saúde, não onerando custos aos beneficiários.