A concepção de projetos precisa se sofisticar conferindo soluções integradas
Independentemente do tamanho das cidades no Brasil observa-se uma divisão semelhante na organização da gestão de suas pastas através de secretarias – obras, transporte ou mobilidade, saneamento, verde e meio ambiente, saúde e afins. A lógica pode ter servido no passado, hoje o que observamos é que esta divisão tem se mostrado contraproducente, promovendo ações isoladas que não otimizam recursos tão pouco são capazes de novas captações ou mesmo de mensurar impactos das ações sejam esses negativos ou positivos.
Ações em transporte são um bom termômetro para entender a complexidade e oportunidades perdidas pela falta de integração entre secretarias municipais. Uma ação promovendo a mobilidade sustentável, seja ela na descarbonização do transporte público por ônibus, no incentivo à mobilidade ativa ou no desestímulo ao uso do transporte individual reduzem emissões de gases de efeito estufa e de poluentes locais e por consequência trazem impactos positivos na saúde da população. Entretanto, há pouca ou nenhuma integração entre secretarias para otimizar investimentos entendendo que seu impacto pode ser colhido em muitas áreas.
A concepção de projetos precisa se sofisticar conferindo soluções integradas. Na área de transporte, projetos precisam ser encarados na sua complexidade, dentro de um sistema, facilitando integrações e estimulando modais mais sustentáveis. Ou seja, a concepção de um corredor de ônibus também deve prever ciclovias e estacionamentos de bicicletas integradas, acesso por calçadas qualificadas e sempre que possível integrados a outros modos como transporte sobre trilhos. Também é necessário avançar na quantificação de impactos a partir da implantação deste tipo de infraestrutura, sejam estes em nível de indicativos ou na mensuração de fato de redução de gases poluentes, redução de internações causadas pela poluição do ar, ou de ganhos econômicos pelo maior dinamismo conferido às economias locais.
Projetos com estas características se mostram elegíveis além de financiamentos tradicionais, cada vez mais escassos, mas também a financiamentos “verdes” que focam em projetos que comprovadamente contribuem para cidades com ar mais limpo e de baixas emissões de gases de efeito estufa.
Algumas cidades brasileiras têm avançado neste sentido. A cidade de Curitiba está em processo de revisão de seu sistema de transporte e já inclui em seus projetos futuros de expansão as premissas de descarbonização e de uma mobilidade mais sustentável. Belo Horizonte fez a revisão do seu Plano de Redução de Gases de Efeito Estufa, o PREGGE que organiza as várias ações previstas em planos setoriais para mitigação de ações de efeito climático. Com apoio da rede de cidades C40, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo desenvolveram Planos de Ação Climáticas, ambicionando metas e traçando rotas para sua efetivação. Além disso vale o destaque que São Paulo avançou na governança do clima criando uma secretaria ligada à casa civil para através dela alavancar ações previstas no Plano de Ação Climática.
Cidades sustentáveis
Este tipo de iniciativa municipal dá indícios de uma necessária revisão da governança subnacional, integrando temas e avançando na implementação de soluções que qualificam a vida da população e contribuem para cidades mais sustentáveis.
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Marcel é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Planejamento e Gestão de Território pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Entre suas experiências profissionais, trabalhou com a coordenação de grandes projetos na área de planejamento urbano, transporte e mobilidade com equipes multidisciplinares. De 2009 a 2016, Marcel atuou como desenvolvimento de estudos de transporte dentre eles, Planos Diretores e de Mobilidade. De 2016 a 2018, trabalhou no Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) com a gestão e coordenação técnica dos produtos previstos do programa de mobilidade urbana de baixo carbono fruto da parceria entre Ministério das Cidades e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) . No iCS, ele coordena o portfólio de transportes, monitorando projetos relacionados à mobilidade urbana, fomentando o conhecimento e o debate sobre transportes de baixo carbono, além de explorar as interfaces entre qualidade do ar e saúde com as políticas e tecnologias de transporte.