A adoção de uma postura ESG se torna um diferencial competitivo e gera uma concorrência positiva por bons financiamentos
A sigla ESG representa hoje uma condição de investimento e de sustentabilidade de projetos de infraestrutura: não bastam ser rentáveis do ponto de vista econômico-financeiro, mas devem ser sustentáveis na perspectiva ambiental e social e, ainda, devem promover boa governança e transparência. Estado, investidores, concessionárias e financiadores (tanto bancos, quanto mercado de capitais) estão incorporando essa dinâmica em sua atuação.
O respeito a esses pilares passou a ser, inclusive, fator diferencial para escolha de ativos atrativos. É que, em um ambiente de competição de projetos, a tendência é de que as melhores taxas e o maior acesso ao crédito estejam, mesmo, com os projetos ambiental e socialmente sustentáveis.
Talvez essa fosse uma realidade distante ou pouco percebida até agora. Vigorava, até então, a velha máxima de que há capital disponível; o que não há são bons projetos para investimento.
Com a oferta cada vez maior de projetos – o que é resultado da sofisticação das unidades governamentais de estruturação de parcerias e concessões, nas esferas federal, estadual e municipal -, cada vez mais haverá competição entre bons projetos. Nessa esteira, a adoção de uma postura ESG se torna um diferencial competitivo e gera uma concorrência positiva por bons financiamentos.
É interessante, nesse sentido, perceber como os projetos de concessões e PPP devem ser concebidos a partir da ideia central de “adequabilidade” dos serviços prestados. E esse é um conceito intrinsecamente ligado à sustentabilidade ESG e, também, ao financiamento de projetos.
É que um serviço pautado em responsabilidade ambiental, compromisso de transparência, inclusão de minorias, tendem a gerar conforto para os cidadãos atendidos por aquela política. Ora, o usuário que recebe conforto, segurança, acesso em boas condições é muito mais propenso a ser um bom pagador pelos serviços recebidos.
O usuário que se sente contemplado em suas necessidades com o serviço que é prestado, expressa alto grau de satisfação e se torna um bom e recorrente pagador; e isso acarreta a solidez das receitas do fluxo de caixa, mitiga os riscos de demanda e contribui para a sustentabilidade econômica e financeira do projeto: acesso a financiamentos mais baratos (melhores taxa e menores garantias exigidas pelas instituições financiadoras).
A solidez e a segurança da demanda são pontos fundamentais para a sustentação econômico-financeira e são o núcleo duro dos projetos financiáveis. Nesse particular, o respeito ao ESG é ferramenta para conhecer as demandas dos usuários e atendê-las com responsabilidade. E essa responsabilidade está a serviço, também, da lógica que sustenta as relações que a concessionária trava com o mercado financeiro e de capitais.
Conhecer seu usuário é uma ideia potente. Transforma o setor público, os financiadores e – claro – a própria governança das empresas concessionárias. Na ideia de que “não basta conhecer seu cliente; é preciso ser o seu cliente”, as concessionárias se modernizam para contemplar uma política inclusiva em suas estruturas de gestão.
Se no transporte público, por exemplo, mulheres ou pessoas trans se sentem mais vulneráveis, porque não ter pessoas que as representam nas camadas de tomada de decisões dessas empresas. Assim, as soluções pensadas pelas concessionárias possivelmente estarão mais próximas e adequadas a resolver os problemas e desafios que são de fato enfrentados pelos usuários.
A Associação Infra Women Brazil construiu um índice pioneiro de igualdade de gênero, que posteriormente servirá de base para as relações entre governo, concessionárias e financiadores.
Os pilares do referido índice são o recenseamento empresarial; publicidade e engajamento; contratação ativa de diversidade; capacitação profissional; retenção de talentos; e a ascensão nas cadeias empresariais. Além disso, o índice também visa coletar informações sobre o relacionamento das concessionárias com o governo.
Desenvolvimento sustentável
O Estado deve enfrentar o desafio de conferir incentivos para práticas sociais e ambientais responsáveis, sem, entretanto, afastar a sustentabilidade econômica e financeira dos serviços. A ideia de ESG não expurga a necessidade de se assegurar previsibilidade para as receitas esperadas pelo empreendedor.
É exigir transparência, inclusão e compromisso ambiental, mas sem estabelecer práticas que impeçam as concessionárias de perseguir o lucro e o retorno adequado para os investimentos realizados.
Artigo desenvolvido em regime de co-autoria com Carolina Carelli.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Cofundadora e entrevistadora do Infracast, presidente do Infrawomen e sócia da ICO consultoria. Também atua como co-coordenadora do Grupo de Estudos em PPPs, Concessões e Privatizações, na Escola de Direito da FGV/SP e do MBA, em infraestrutura, do CEDIN-MG. Desempenhou funções na Subsecretaria de Parcerias e Inovação do Governo de São Paulo e no Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização e, na Prefeitura de São Paulo, atuou como diretora da Companhia São Paulo de Desenvolvimento e Mobilização de Ativos.