Como temos falado há algum tempo, cloud, inteligência artificial e infraestrutura de telecomunicações são os três pilares essenciais para qualquer plano de transformação digital, seja no setor público ou no privado
O ano de 2021 tem sido fértil em ações que devem impulsionar o desenvolvimento tecnológico no Brasil. Enquanto aguardamos o leilão para a implementação da rede 5G, o Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI) divulgou o Plano Nacional da Inteligência Artificial e o Ministério da Economia ampliou a oferta de soluções de computação em nuvem para os órgãos do governo. Ambas as iniciativas devem contribuir de forma significativa para o avanço dos projetos de cidades inteligentes. Como temos falado há algum tempo, cloud, inteligência artificial e infraestrutura de telecomunicações são os três pilares essenciais para qualquer plano de transformação digital, seja no setor público ou no privado. Essas frentes, somadas à Carta Brasileira de Cidades Inteligentes e ao Plano Nacional de IoT (internet das coisas, na sigla em inglês), lançados em 2019, formarão uma excelente base para apoiar diversos projetos de digitalização da gestão pública.
Tecnologia no Brasil
Não é de hoje que o Brasil busca saídas para conectar o país por meio da tecnologia. No ano passado, o Centro de Estudos e Debates Estratégicos (Cedes) da Câmara dos Deputados, divulgou um estudo intitulado “Cidades Inteligentes: Uma abordagem humana e sustentável”, que faz um balanço das ações públicas que contribuíram para promover a digitalização das cidades. Ao longo de quase vinte anos, iniciativas como: o Projeto ReMav – Redes Metropolitanas de Alta Velocidade (1997); o Plano Nacional da Banda Larga (2010); o projeto Gesac – Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (2002); e, até mesmo o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC (2007), buscaram incentivar a criação de uma infraestrutura de telecomunicações e um ecossistema de gestão pública digital e conectada.
No âmbito municipal, principalmente nas cidades onde há uma boa infraestrutura de telecomunicações, existem vários projetos que podem ser considerados “inteligentes” ou que visam promover, por meio da tecnologia, soluções para melhorar o dia a dia dos cidadãos. Recife investiu no Porto Digital para fomentar o empreendedorismo local. Belo Horizonte, por sua vez, conta com o Centro de Operações da Prefeitura (COP), onde se concentram os dados dos principais serviços do município, como defesa civil, saúde, segurança e limpeza urbana, entre outros. De acordo com o levantamento do Cedes, em cidades menores, como Juazeiro do Norte (CE), foi aprovado um Plano Diretor de Tecnologias para cidades inteligentes (Lei Complementar nº117/2018), que contempla diversas iniciativas, entre elas uma rede pública de iluminação inteligente, videomonitoramento para segurança municipal, wifi público e iluminação pública solar. Ainda segundo o estudo da Câmara, a transformação digital das cidades, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas, pode impulsionar a economia por meio do turismo, oferecendo novas experiências para quem visita esses locais.
Contradições e desigualdades
Além das preocupações técnicas, os planos nacionais de cidades inteligentes devem levar em consideração a dimensão continental do território brasileiro e o alto nível de desigualdade entre os municípios. O Brasil tem uma enorme diversidade socioeconômica e nem todos os gestores têm acesso a dados e informações e nem sempre podem fazer viagens internacionais para aprender com os casos bem-sucedidos do exterior. Por isso, documentos como a Carta das Cidades e o estudo do Cedes ganham ainda mais relevância, pois servem como um guia para todos os munícipios.
O Brasil possui 5.570 municípios, dos quais 60% são predominantemente rurais e que abrigam 16% da população, segundo o censo 2010 do IBGE. Tirando as cidades intermediárias, os 26% de áreas consideradas urbanas abrigam 77% da população. Quando se trata do acesso à internet, dados do Cetic.br, de 2019, apontados na Carta das Cidades, mostram que apenas 28% dos domicílios brasileiros têm conexão com a internet, sendo que grande parte dos brasileiros desconectados estão nas regiões norte e nordeste. Esses dados ilustram o grande vazio digital que existe no Brasil. Enquanto algumas regiões podem pensar em projetos de IoT, outras ainda estão buscando meios construir uma infraestrutura básica de rede. Por isso é tão importante que haja um plano nacional de cidades inteligentes. Precisamos de uma ação coordenada que crie os mecanismos para apoiar municípios em todos os estágios de desenvolvimento tecnológico a fim de reduzir as desigualdades e ampliar as oportunidades.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe, com contribuição significativa na construção de parcerias que alavancam a transformação digital no Brasil. O executivo já atuou como gestor de Rede e Data Center da Prodam – SP, passando por multinacionais como Cabletron, Enterasys e CISCO, onde foi responsável pela área de Diretorias Regionais de Vendas.