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ESTAMOS SENDO INTELIGENTES AO USAR CLASSIFICAÇÕES DE “CIDADES INTELIGENTES”?

Julio Ribeiro
Julio Ribeiro
CEO da Hubse Tecnologia da Informação, responsável pelo Instituto GEOeduc e execução dos treinamentos da Academia GIS Imagem (Esri BR). Professor na FGV, PUC, FACENS e IBEC. Coordenou o premiado projeto de SmartCity #CIHE2030, em Monteiro Lobato/SP. Atuação nos campos da licenciatura, bacharelado e empreendedorismo e consultor em gestão do conhecimento e geotecnologias.

No quesito “inteligência”, deveríamos analisar o sucesso de planejamento de algumas cidades do País para entender quais os seus recursos intelectuais, financeiros e tecnológicos

Gostaria de ampliar a visão sobre INTELIGÊNCIA. Toda cidade é um construto social, cultural, econômico e, sim, tecnológico. Desde a primeira cidade de que se tem registro na história até a mais atual em algum canto do mundo, temos uma aglomeração de pessoas que usam as tecnologias disponíveis para criar um ambiente que produza condições para a vida em comunidade.

Mas quem diz o que é uma cidade bem-sucedida? Se uma cidade cumpre bem o seu propósito, no seu contexto e com o atingimento de seus objetivos, podemos dizer que ela é uma cidade inteligente? Ou esse título está reservado apenas para aquelas altamente tecnológicas?



A reflexão que quero trazer é a de que parte do “julgamento” de que algumas cidades são mais inteligentes do que outras vem de comparações indevidas e até injustas. Uma pequena cidade, no interior do Brasil, pode lidar muito bem com os seus desafios. Assim, a comparação dela com Nova York, Tóquio ou São Paulo seria indevida se olharmos somente certos critérios.

Em 1994, o psicólogo Howard Gardner, publicou um artigo discutindo a existência de “inteligências múltiplas”, que em resumo é a ampliação do entendimento sobre o que é ser inteligente. Ele questionou o fato de até então supervalorizarmos as pessoas que eram boas em cálculos matemáticos ou línguas e desconsiderarmos outros tipos de inteligência, como a inteligência corporal ou a interpessoal. Os avanços dos seus estudos apontam para pelo menos 9 tipos de inteligência.

É com esse argumento que gostaria de refletir sobre o que estamos chamando de cidades inteligentes: São apenas as cidades que possuem mais tecnologia? Será que essas são cidades que respeitam os mais velhos? Como é o índice de desigualdade social nas cidades mais tecnológicas do Brasil?

No quesito “inteligência”, deveríamos analisar o sucesso de planejamento de algumas cidades para entender o contexto em que elas estavam inseridas, quais seus recursos (intelectuais, financeiros, tecnológicos) e começar a incluir aquelas pequenas e médias cidades (que, dentre as 5.570 cidades do Brasil, são mais de 85%).

Quais são as cidades mais hospitaleiras no Brasil? Quais são as cidades que possuem os melhores indicadores de saúde populacional? Quais cidades mais preservaram seus atributos naturais e os integraram à dinâmica urbana? 

A intenção não é negar a importância das tecnologias nos serviços públicos e na gestão das cidades, mas trazer uma provocação sobre a definição de cidade inteligente.

Comparar a “inteligência” entre cidades priorizando o viés tecnológico é praticamente o mesmo que comparar a “inteligência” de alunos de diferentes regiões e contextos socioeconômicos julgando o quanto eles sabem de robótica. Deveríamos considerar que as crianças crescem e vivem em diferentes contextos, e nesse sentido, ser inteligente é algo que deveria ser avaliado a partir das necessidades e exposição que aquele sujeito teve. Ainda nesse exemplo, algumas crianças que têm pouco contato com “tecnologia de ponta”  podem ser melhores na expressão corporal, no entendimento existencial ou na lida com um instrumento musical. E portanto, também são muito inteligentes.

As cidades deveriam ser uma versão melhor de si mesmas. Considerar uma cidade inteligente deveria iniciar com a proposição de uma análise mais inteligente, considerando as múltiplas inteligências que as cidades podem ter.

No entanto, se tivermos que reduzir a poucos indicadores para estabelecer o nível de inteligência de uma cidade, que a pergunta seja na direção de entender se as pessoas que lá vivem estão felizes, se a relação delas com a natureza é sustentável e se as oportunidades e as desigualdades são tratadas com empatia e humanidade. De resto, tudo que for tecnologia no meio do caminho é muito bem-vindo.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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