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CIDADES INTELIGENTES: ENTRE O ‘SOLUCIONISMO’ E O DEBATE ETERNO 

Sarah Habersack
Sarah Habersack
Diretora do programa Transformação Urbana da cooperação técnica Brasil-Alemanha da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, onde coordenou, junto ao Ministério de Desenvolvimento Regional, a formulação da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes. Especialista em mudança organizacional, desenvolvimento urbano e transformação digital, com atuação na Índia, Europa e no Brasil.

Ou: a importância de políticas públicas para a transformação digital nas cidades

Estou segura que a maioria de nós já vivenciou a seguinte cena: sentado em um dos inúmeros eventos sobre Cidades Inteligentes, alguém levanta a mão e pergunta: “como definimos uma Cidade Inteligente? Precisamos esclarecer isso antes de discutir qualquer outro assunto.” Aí começa um debate longo sobre os diferentes aspectos e posições, cada um tem importantes pensamentos para contribuir. 

Mesmo que todas as colocações sejam interessantes, não escapamos do sentimento que de novo criamos um debate cujo resultado agrega pouco ao nosso entendimento dessa questão fundamental. Entramos no próximo evento onde escutamos apresentações sobre soluções concretas de Cidades Inteligentes como projetos de iluminação pública smart ou um novo aplicativo para registrar queixas dos cidadãos. 



E, apesar de estarmos felizes de finalmente ver projetos concretos implementados nas nossas cidades, ficamos com a dúvida sobre quais os problemas que foram resolvidos e quanta relevância esses projetos têm para lidar com os desafios fundamentais nas áreas urbanas do Brasil. 

A mensagem dessa pequena história não é que debates e soluções não sejam necessários para a transformação para Cidades Inteligentes. As duas coisas são elementos cruciais.

POLÍTICAS PÚBLICAS 

Para facilitar debates que efetivamente ajudam o nosso entendimento e a nossa atuação e para desenvolver soluções relevantes para problemáticas urbanas concretas e reais, é preciso levar em consideração o momento de conhecimento sobre a transformação digital em que estamos e o potencial de políticas públicas nesse contexto. 

A transformação digital com os seus impactos e possibilidades para as nossas cidades é um tema novo e inédito. Ao mesmo tempo é também um fenômeno histórico que inclui todos os aspectos da nossa vida – as nossas relações de trabalho e de produção, a nossa forma de morar, de nos mover, consumir e até as nossas relações íntimas. 

Nos setores ‘tradicionais’ do desenvolvimento urbano – mobilidade, saneamento, habitação – tivemos décadas para criar definições e uma linguagem conjunta, um sistema de conhecimento e uma coleção de experiências compartilhadas. Na transformação digital e no tema de Cidades Inteligentes estamos só no começo de criar a base para um debate democrático e bem-informado.

DESAFIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS  

Ao mesmo tempo, os desafios das nossas cidades são imensos. Sentimos a falta de serviços urbanos de qualidade, participação pública bem estruturada e nos deparamos com a desigualdade socioespacial gritante de todos os dias. Soluções digitais parecem nos oferecer uma luz no fim desse túnel. E como soluções para Cidades Inteligentes constituem um mercado enorme, há suficientes fornecedores que exploram essa necessidade oferecendo soluções prontas sem necessariamente entender as problemáticas reais. 

Políticas e estratégias públicas, como a Carta Brasileira para Cidades Inteligente (uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Regional, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, do Ministério das Comunicações e da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH), podem assumir um papel crucial. 

Idealmente tais estratégias facilitam um debate bem estruturado da nossa sociedade sobre as transformações que estamos passando. Nos levam a um entendimento mais profundo das realidades das nossas cidades para priorizar as intervenções e criar uma demanda crítica e bem informada para soluções digitais. 

Para que as políticas públicas realizem esse potencial, tudo depende do desenho do processo de suas formulações. Precisamos de uma abordagem colaborativa, pois temas complexos requerem uma diversidade de atores para desenvolver respostas adequadas. Precisamos de ferramentas que nos ajudem a criar uma linguagem em comum, estruturar e facilitar o nosso debate e saber quando é o momento para uma discussão ampla (divergência) e quando é o momento para negociar, consolidar e priorizar (convergência). 

E finalmente, precisamos criar identificação e apropriação dos resultados pelos atores envolvidos e pelos cidadãos em geral para fazer da implementação das Cidades Inteligentes uma responsabilidade coletiva. 

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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