No segundo dia da Conferência da PNME, especialistas apontam como a mobilidade elétrica pode ajudar a mudar os espaços urbanos
Para muitas pessoas a mobilidade elétrica é enxergada como modismo e única solução para vários dilemas urbanos. De fato, quando bem aplicada pode resolver muitos problemas, mas não todos. A mobilidade elétrica já não é mais uma questão de escolha e sim de necessidade, possibilitando a oportunidade de se transformar num importante instrumento para humanizar – ainda mais – os espaços urbanos.
Para isso se tornar realidade, é necessário entender o sistema como algo complementar e interdependente. É o que apontam os especialistas que discutiram o tema nesta terça-feira (17). O debate ocorreu durante a 1ª Conferência da PNME (Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica), que acontece até quinta-feira (19), em formato 100% digital e gratuito.
Em painel sobre como tornar o transporte público elétrico uma realidade, Ana Jayme, assessora de Investimentos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), defendeu a necessidade de entender os benefícios e cobenefícios de fazer a aposta para a mobilidade elétrica. “Muitas vezes precisamos quebrar barreiras e encontrar caminhos que justificam fazer a transição. Isso significa rever modelos de negócio e mudar padrões de comportamento da sociedade. É necessário pensar fora da caixa para, assim, tornar a mobilidade elétrica uma ação factível dentro de nossos processos”, explicou.
Além disso, pensar de maneira mais holística envolve investir em políticas públicas que garantam informação ao usuário, governança do transporte, bilhetagem e tarifas inteligentes. De acordo com Sergio Avelleda, Urban Mobility Director do WRI – World Resources Institute, se não o fizermos, corremos o risco de substituir ônibus a diesel vazios em ônibus elétricos vazios. “É preciso uma coordenação de níveis de governo junto com agências multilaterais de investimento para criar soluções robustas que permitam terminar com as barreiras financeiras. Isso ocorre com o auxílio de fundos de investimento que viabilizem compras maiores, mobilizando a indústria e criando essa cadeia produtiva”, justificou.
Compreendida como uma medida necessária, a mobilidade elétrica precisa ser combinada com a dimensão do planejamento das cidades. Mas, segundo Kelly Fernandes, analista em mobilidade urbana no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), um primeiro ponto a se discutir é nos perguntarmos “que espaço urbano é esse?”. De acordo com a especialista, as cidades se desenvolveram de forma fragmentada, segregada e desigual.
Dentro desse contexto, Flávia Consoni, professora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), complementou a discussão propondo apresentar para a população a mobilidade elétrica como uma tecnologia acessível e não segregada. “É necessário ter a inteligência de combinar diferentes modais de transporte, viabilizando ainda a mobilidade ativa.”
Especialistas ligados à mobilidade ativa e micromobilidade explicaram sobre o uso da bicicleta elétrica, por exemplo, um modo de transporte que promove atividade física e amplia o leque de participação de usuários. Sobre esse contexto, Victor Andrade, coordenador do Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB-UFRJ), defende um olhar sistêmico com relação ao assunto e o papel transformador que as bicicletas desempenham, principalmente no bem-estar e na saúde. “A questão do crescimento da obesidade no Brasil é alarmante. É necessário que as políticas de saúde e sociais passem também por políticas de mobilidade”, complementou.
Além do desafio das pessoas se tornarem mais ativas, o setor de mobilidade elétrica passa pelo desafio de trazer os cidadãos de volta ao transporte público, evitando que, por conta da pandemia, os indivíduos se voltem ao transporte individual. Para Ilan Cuperstein, vice-diretor regional para a América Latina do C40, é fundamental apoiar sistemas públicos de transporte e aproveitar o momento para mudar pendências e o que já estava errado antes.
Ainda nesta linha, Marcus Régis, coordenador de projeto da GIZ e coordenador-executivo da PNME, comentou sobre a expectativa do setor. “A mobilidade elétrica não é uma bala de prata, que vai solucionar todos os problemas climáticos, mas pode sim, ser uma solução para humanizar as cidades e a vida das pessoas”, complementou.
O evento acontece até a próxima quinta (19/11) e as inscrições podem ser feitas AQUI.
Fonte: Com informações da 1ª Conferência da PNME (Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica)
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