O transporte está cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas. A COP-30 é uma oportunidade para abordar essa realidade
Em 2024, o Rio Grande do Sul vivenciou uma das piores tragédias climáticas de sua história: enchentes que submergiram cidades inteiras, destruíram rodovias e paralisaram ferrovias e sistemas de transporte público.
O impacto gerou perdas estimadas em bilhões de reais e milhares de pessoas isoladas e essa cena se repete em todo o mundo. Em 2023, o metrô de Nova York suspendeu as operações após enchentes recordes, enquanto trilhos foram deformados pelo calor intenso na Europa. Esses incidentes são sinais de que o transporte está cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas.
A COP-30, que está sendo realizada em Belém, representa uma oportunidade decisiva para abordar essa realidade. A questão é: a COP finalmente vai dar ao transporte a atenção que merece?
É preciso reduzir drasticamente as emissões provenientes de fontes de transporte, expandindo meios comprovados como o transporte ferroviário, bem como com as medidas que devemos tomar para garantir que estes sistemas sobrevivam ao clima de 2050, que será ainda mais quente, mais instável e mais extremo.
O acesso à mobilidade sustentável é o primeiro passo na transformação do transporte em uma força para a mitigação das mudanças climáticas. Isso significa levar opções de transporte de baixa emissão para regiões que atualmente dependem do transporte rodoviário e de combustíveis fósseis.
Favorável ao clima
No Brasil, o transporte sustentável deve combinar investimentos em trens de média e longa distância, sistemas urbanos integrados e a eletrificação das frotas regionais. Cada nova linha ferroviária ou corredor de transporte limpo é mais do que um projeto de infraestrutura, é uma política de desenvolvimento favorável ao clima.
A transição para uma mobilidade sustentável só será bem-sucedida se gerar crescimento econômico inclusivo. Os projetos de infraestrutura ferroviária têm o potencial de criar empregos qualificados, estimular cadeias produtivas locais e atrair investimentos.
Ao adotar altos padrões ambientais e sociais em novas concessões e contratos públicos, países como o Brasil podem utilizar a expansão ferroviária como ferramenta de desenvolvimento, beneficiando as comunidades e não apenas os centros empresariais.
Eventos extremos
A resiliência é o elo que garante que todo esse progresso resista ao tempo e às mudanças climáticas. As infraestruturas de transporte precisam ser projetadas para suportar o novo regime climático do planeta.
Isso envolve desde soluções de engenharia até políticas públicas que incorporem o risco climático. Os eventos no Rio Grande do Sul são um alerta: é necessário antecipar o futuro para que os sistemas de transporte não entrem em colapso diante do próximo evento extremo.
Construir resiliência significa prevenir e adaptar-se para que a capacidade de movimento não seja interrompida pela próxima tempestade. Envolve projetar sistemas capazes de operar em temperaturas extremas, instalar sistemas de drenagem inteligentes, usar sensores para prever falhas e integrar a manutenção preditiva às operações diárias.
Isso requer colaboração entre engenheiros, climatologistas e administradores públicos. Uma “engenharia do futuro” que combina tecnologia, planejamento e a compreensão de que a infraestrutura resiliente protege vidas, empregos e dignidade.
O Brasil possui todos os elementos para se tornar um líder regional em mobilidade sustentável: sua matriz energética é predominantemente renovável, seu capital humano é tecnicamente avançado e seu vasto território exige soluções de transporte integradas. No entanto, transformar esse potencial em realidade requer políticas públicas estruturadas.
Urgência
Essa transformação é urgente porque as mudanças climáticas não esperam. Cada atraso na adaptação e no planejamento traz um custo humano, ambiental e econômico ainda maior, especialmente para as populações mais vulneráveis.
A COP-30 representa uma oportunidade para que o transporte deixe de ser apenas parte do problema e para que o transporte ferroviário se torne uma parte essencial da solução climática, servindo como modelo para combinar desenvolvimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental.
Fonte: Mobilidade Estadão







