Evento marcou três dias de debates, trocas de experiências e negócios para repensar políticas públicas e inspirar soluções inovadoras para transformar as cidades do Brasil em espaços mais inclusivos, sustentáveis e conectados
O Cidade CSC 2025 encerrou a edição 2025 nesta quinta-feira (25/09) com a projeção de novos horizontes para a agenda urbana e as políticas públicas nas cidades brasileiras. Em sua edição comemorativa de 10 anos, o Cidade CSC reuniu em três dias de evento mais de 7.000 gestores públicos, representantes de empresas, consultores, urbanistas, acadêmicos, ONGs e especialistas em planejamento urbano.
“O sucesso desta edição mostra que estamos no caminho certo para tornar as cidades brasileiras mais inteligentes na forma de atender o cidadão. Mais do que a promoção de debates urgentes sobre urbanismo, inovação e sustentabilidade, construímos pontes entre setores, fortalecemos redes de colaboração e estimulamos ideias que certamente terão impacto real nas cidades do país”, avaliou a idealizadora do evento e CEO da Necta, Paula Faria.
Em 2025, o Cidade CSC se transformou em um ecossistema integrado em quatro pilares: Connected Smart Cities, AirConnected, Parque da Mobilidade Urbana (PMU) e CSC GovTech. “O novo formato do Cidade CSC reunindo conferências, feira de negócios e rodadas de conexões, amplificou as trocas efetivas de experiências, capazes de inspirar soluções mais inteligentes, inclusivas e sustentáveis”, completou Willian Rigon, diretor de novos negócios e sócio da Necta, organizadora do evento.
Um dos destaques da programação do último dia do maior hub de cidades inteligentes da América Latina foi o painel Inovação pública em movimento conduzido pela deputada federal e Fundadora do Movimento Acredito, Tábata Amaral, que trouxe ao centro da discussão a integração da tecnologia na gestão pública brasileira com foco em inclusão social, equidade e transparência.
Logo na abertura, Tábata defendeu a regulamentação das plataformas digitais e redes sociais como um passo essencial para garantir soberania e segurança no ambiente virtual. “A tecnologia deve estar a serviço das pessoas. Ela precisa aprimorar os serviços públicos e diminuir as desigualdades. Existe um falso dilema sobre regular ou não regular, arbitrar ou não arbitrar. Mas a verdade é que nossas vidas estão cada vez mais digitais, e precisamos estabelecer regras de convivência nesse espaço”, afirmou.
A deputada também destacou a aprovação do ECA Digital como um avanço no Congresso. O projeto, que surgiu após uma mobilização em decorrência de vídeo-denúncia do influenciador digital Felca, reforça a responsabilidade coletiva na proteção de crianças e adolescentes. “Foi uma vitória importante. Crianças e adolescentes são responsabilidade de todos nós, inclusive no mundo digital”, disse.
No campo da inovação pública, a diretora-executiva e vice-presidente da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), Natália Teles, ressaltou que o cenário brasileiro é fértil para avanços. Ela citou iniciativas como o Gov.br, que já reúne mais de 5 mil serviços digitais. “Plataformas como o Gov.br, o Pix, o Conecta SUS e a Identidade Digital mostram que o setor público pode liderar soluções tecnológicas que facilitem a vida da população”. Ela ainda acrescentou que as conexões entre os Estados é fundamental. “Acredito no fortalecimento da inovação por meio da conexão. O grande esforço é estar atento ao que acontece em todo o país para replicar boas práticas”, destacou.
Segundo Natália, apenas em 2024 a ENAP lançou 27 novos laboratórios de inovação, promoveu 43 desafios de inovação aberta e desenvolveu 32 soluções.
O debate também trouxe à tona a necessidade de garantir que a revolução digital não acentue desigualdades. Tábata reforçou a defesa da educação técnica e profissionalizante como ferramenta para ampliar oportunidades. “Precisamos preparar jovens e adultos para que a inovação seja um caminho de acesso e não de exclusão”, provocou.
Exemplo disso foi apresentado pelo diretor da Porto Marinho e fundador do Porto Digital, em Recife, Claudio Marinho, ao citar o programa Embarque Digital, realizado em parceria com a prefeitura da capital pernambucana. A iniciativa oferece bolsas em cursos de tecnologia para estudantes de escolas públicas, sendo metade das vagas reservada a alunos negros e pardos. “Nós somos cada vez mais inclusivos. O Embarque Digital mostra que inovação e inclusão caminham juntas”, afirmou.
Claudio ainda celebrou os 20 anos do Porto Digital, que se consolidou como um dos principais ecossistemas de inovação do país. “A ideia original, quando apresentei o projeto ao governo, era criar um ambiente da indústria do futuro. Hoje, o Porto Digital reúne 475 empresas, mais de 21 mil colaboradores e registrou faturamento de R$ 6,2 bilhões em 2024. Mais do que números, o projeto promoveu a regeneração do centro histórico do Recife. Meu compromisso hoje é com políticas públicas de desenvolvimento regional”, completou.
Parque Palafitas
No final da manhã, o painel “Viver com Dignidade: Inclusão Social e Infraestrutura” trouxe ao debate a importância de políticas públicas que garantam o direito à cidade de forma plena e inclusiva. Durante a sessão, o prefeito de Santos, Rogério Santos, apresentou o projeto-piloto Parque Palafitas, considerado uma iniciativa inédita no país. O programa está em fase de implementação na comunidade do Dique da Vila Gilda, a maior favela sobre palafitas do Brasil, localizada na Zona Noroeste da cidade.
A proposta foi elaborada em 2018 pelo escritório do arquiteto Jaime Lerner, dentro do plano Santos 500, e busca transformar uma realidade marcada pela precariedade habitacional. Segundo o prefeito, uma das etapas já em andamento prevê a construção de 60 unidades habitacionais em uma área de mil metros quadrados, utilizando a técnica de palafitas estruturadas.
As novas moradias contarão com piso e paredes em painéis de madeira laminada, preservando a identidade da comunidade e oferecendo uma alternativa sustentável de ocupação em áreas de mangue. “Moradia é dignidade humana, não apenas um teto sobre a cabeça, mas infraestrutura, segurança e acesso a serviços públicos”, ressaltou Santos.
O projeto deve beneficiar diretamente 9.707 pessoas em situação de vulnerabilidade, sendo que 60% delas vivem sem acesso ao saneamento básico. “A entrega desta fase está prevista para o final deste ano”, disse o prefeito. Além da melhoria habitacional, a iniciativa busca recuperar o ambiente natural.
O prefeito lembrou ainda de outras ações já realizadas na região, como a implantação da primeira Policlínica do Dique da Vila Gilda, a unidade do Bom Prato, a Ponte do Rio São Jorge e a entrega de mais de 1.400 moradias nesta gestão, com outras 1.200 em fase de construção.
A cidade de Santos conquistou a oitava posição na 11ª edição do Ranking Connected Smart Cities, divulgado no na última terça-feira (23/09).
Drones e intervenções urbanas
Abrindo a agenda do dia no eixo temático AirConnected o painel Entrega Aérea: Drones como Solução Logística nas Cidades trouxe à tona uma das inovações mais promissoras para a mobilidade urbana: o uso de drones para entregas rápidas e seguras.
O secretário de Mobilidade Urbana de Jacareí, Edinho Guedes, falou sobre o Plano Municipal de Mobilidade Aérea (PMMUA), descrito como um projeto pioneiro no país para integrar soluções aéreas urbanas como drones e eVTOLs (veículo elétrico de pouso e decolagem vertical) à malha de transportes da cidade. Segundo ele, o documento contempla os estudos de viabilidade, diretrizes legais e regulatórias.
O secretário destacou que o objetivo é posicionar o município como referência no setor e atrair o mercado de logística aérea de forma segura e regulada. “Temos uma pandemia de mortes por acidentes com motocicletas em todo o Brasil. Por isso, uma das etapas do planejamento é firmar uma parceria com o Senai para oferecer cursos de operações de drones, especialmente para motoboys, criando uma alternativa de transição de carreira”, disse Guedes.
Na visão do setor privado, o fundador e Chief Innovation Officer da Speedbird Aero, Samuel Salomão, ressaltou os ganhos já obtidos em operações reais. Ele citou a experiência em Salvador, onde drones transportam materiais biológicos em uma rota de 40 quilômetros, ligando o bairro da Barra a Stella Maris, próximo ao aeroporto. “Esse processo acelerou as análises clínicas, reduzindo o tempo de transporte de até uma hora de carro para poucos minutos”, explicou.
Salomão também abordou os avanços regulatórios que devem destravar o potencial do setor. “Com a evolução do regulamento, os drones serão operados pelas cidades. A escalabilidade vai vir quando a regulamentação avance para que as autorizações sejam concedidas e os drones entrem nos espaços aéreos urbanos”, disse. Ele destacou ainda a importância do RBAC nº 100, proposta da Anac que substitui o atual RBAC-E nº 94. “A principal mudança é a transição de uma classificação baseada em peso para uma classificação baseada no risco operacional”, completou.
Já no palco ‘Parque da Mobilidade Urbana (PMU)’, a pauta abordada foi a transformação dos espaços urbanos. No painel Ruas Completas São Paulo – Estudos de Caso foi apresentado o projeto Rede de Ruas Completas São Paulo. Na conversa, representantes de diferentes municípios compartilharam experiências e resultados das intervenções urbanas que vêm mudando a forma de se deslocar nas cidades.
Segundo o especialista em Mobilidade Ativa do WRI Brasil, Reynaldo Mello Neto, o projeto busca repensar o desenho das ruas, priorizando pessoas em vez de veículos. “A Rede de Ruas Completas é voltada para redefinir ruas e espaços urbanos para que sejam seguros, acessíveis e confortáveis para todos os usuários, com foco em pedestres, ciclistas e transporte público. Atualmente, são 20 cidades participantes, que juntas abrigam cerca de 8 milhões de pessoas”, afirmou. Ele destacou que a iniciativa faz parte do 3º ciclo da Iniciativa Bloomberg para a Segurança Viária Global, em execução até 2025.
Entre os exemplos apresentados, Jundiaí aliou cultura e mobilidade. De acordo com Paula Siqueira, autora do estudo de caso do município, a proposta surgiu em 2021 com a criação da Fábrica das Infâncias, espaço cultural fruto de um estudo de impacto de vizinhança. “Em 2023, a Rua Lacerda Franco recebeu uma intervenção com materiais de baixo custo, como bancos, vasos e balizadores, para criar mais espaços para usuários vulneráveis. O projeto destinou 55% da área para pedestres e ciclistas e limitou a velocidade dos veículos a 20 km/h”, explicou.
Já em Ribeirão Preto, a transformação busca enfrentar um desafio cultural. “É uma cidade com características de clima quente e de alto poder aquisitivo dos moradores, onde mais de 50% das viagens são feitas de carro”, relatou Juliano Palacini, autor do estudo de caso local. A intervenção, realizada na Praça Pedro Biagi, ainda está em andamento e foi desenvolvida com materiais de baixo custo. “O objetivo é provocar um novo olhar sobre o espaço público. Até agora, tivemos 58% de aprovação da intervenção e 37,5% de satisfação com a acessibilidade”, destacou.
Outro exemplo veio de Registro, no interior do Estado, onde a intervenção aconteceu em uma área do centro da cidade com índices de sinistros envolvendo ciclistas e pedestres. A chefe da Divisão do Plano Estadual de Segurança Viária do Detran-SP, Luciana Suguinoshita, ressaltou a importância da participação popular. “A ação foi realizada na Rua João Batista Pocci Júnior, com mobiliário urbano e sinalização viária. O engajamento da sociedade civil e dos comércios foi essencial. Quando a população se sente pertencente ao projeto, tudo flui muito melhor”, disse.
Ranking CSC 2025
O Ranking Connected Smart Cities deu início a um novo ciclo ao chegar à marca de dez anos, com mudanças que ampliam seu alcance e relevância para o planejamento urbano no Brasil. A 11ª edição do levantamento foi apresentada em 23/09, primeiro dia do Connected Smart Cities 2025, em São Paulo.
Pela primeira vez, o estudo contempla todos os 5.570 municípios do país, permitindo comparações mais abrangentes e diagnósticos mais precisos sobre os desafios e oportunidades de cada localidade. Desenvolvido pela Plataforma Connected Smart Cities, em parceria com a SPIn – Soluções Públicas Inteligentes e a Scipopulis, o ranking adota os indicadores das normas internacionais ISO ABNT 37120, 37122, 37123 e 37125, além de métricas inéditas.
Com 75 indicadores distribuídos em 13 áreas temáticas, o estudo amplia a capacidade de orientar políticas públicas e investimentos privados. Os resultados são apresentados em quatro dimensões: posição geral, por eixo temático, por região e por faixa populacional.
Entre os eixos temáticos analisados estão: Economia e Finanças, Governança, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Resíduos Sólidos, Esgotos e Água, Educação, Habitação e Planejamento Urbano, Mobilidade Urbana, Saúde, Agricultura Local/Urbana e Segurança Alimentar, Telecomunicações, Energia, Inovação e Empreendedorismo, População, Condições Sociais e Segurança.
A metodologia do ranking foi atualizada e agora conta com o suporte da plataforma digital Plancity, da Scipopulis, que permite acesso dinâmico e análise comparativa por níveis de desenvolvimento. A ideia é apoiar a construção de estratégias mais eficazes para acelerar a transformação das cidades brasileiras até 2035.2026
Este ano, a 11ª edição do Ranking Connected Smart Cities foi liderada pela cidade de Vitória (ES), que foi reconhecida a cidade mais inteligente e conectada do Brasil. A capital capixaba superou Florianópolis (SC), que havia liderado o ranking em 2024 e agora ocupa a segunda posição. A cidade de Niterói (RJ) conquistou o terceiro lugar.
O desempenho de Vitória reflete um conjunto de investimentos consistentes na modernização dos serviços urbanos e na integração entre sustentabilidade e governança digital — fatores decisivos para sua liderança nacional.
Completando as dez cidades mais inteligentes e conectadas do Brasil, as cidades de São Paulo (SP) e Curitiba (PR), ocupam o 4º e 5º lugar respectivamente. O ranking segue com a cidade de Recife (PE), Barueri (SP), Santos (SP), Salvador (BA) e o Rio de Janeiro (RJ).