Os cortes de geração de usinas renováveis devem encarecer a precificação de novos contratos de compra e venda de energia renovável no mercado livre, com custo adicional estimado em pelo menos R$40 por megawatt-hora, segundo estudo da Aurora Research divulgado nesta quinta-feira.
A limitação da produção de usinas solares e eólicas, ou “curtailment”, tornou-se o principal problema do segmento de geração de energia brasileiro, impondo perdas milionárias às empresas que atuam na área nos últimos anos.
Quando suas usinas são cortadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), seja por gargalos na rede de transmissão ou falta de consumo suficiente, as geradoras precisam comprar energia no mercado spot para honrar seus contratos, também chamados de “PPAs”.
A alta de preços afeta grandes consumidores, como indústrias, que tendem a ser os clientes “âncoras” de grandes projetos de geração no Brasil, o que pode desestimular novos investimentos das principais geradoras.
De acordo com os cálculos da Aurora, consultoria global de mercados de energia, a precificação dos novos contratos deveria aumentar em pelo menos R$40/MWh para cobrir custos adicionais relacionados aos cortes.
A consultoria observou ainda que outros riscos estruturais do setor elétrico, como volatilidade intradiária de preços e aumento dos diferenciais de preço de energia entre diferentes regiões do país, também tendem a crescer e encarecer os PPAs. Combinados, esses riscos podem adicionar mais de R$110/MWh, apontou.
“Hoje, o curtailment é o principal fator de risco, mas nossas análises indicam que, nos próximos 15 anos, o risco de modulação (associado à variação horária de preços) deve se tornar ainda mais relevante, superando o impacto do próprio curtailment”, afirmou Rodrigo Borges, diretor geral da Aurora no Brasil.
Os cortes de geração aumentaram expressivamente no Brasil desde meados de 2023, em meio ao forte crescimento das fontes solar e eólica na matriz, que têm geração variável e desafiam a operação de atendimento à carga em tempo real pelo ONS.
O problema afeta praticamente todos os geradores solares e eólicos, principalmente os instalados no Nordeste, em diferentes magnitudes. Nos casos mais graves, os cortes superam 50% da produção estimada total das usinas — a Gerdau, por exemplo, disse ver restrições de 70% em seu parque solar em Minas Gerais.
A Aurora projetou que em certos Estados, como Bahia, os projetos solares terão taxas de corte superiores a 30% de forma consistente até 2030, com variações mensais significativas.
COMPENSAÇÕES
Embora cobrem soluções técnicas e estruturais para reduzir os cortes, os geradores de energia reconhecem a necessidade física e operativa dessas restrições colocadas pelo ONS, que maneja uma série de diferentes usinas, fontes e recursos para atender o suprimento de energia.
As elétricas questionam, porém, a concentração dos prejuízos financeiros exclusivamente nas empresas e cobram ressarcimento. As associações do setor eólico e solar calculam que já existe um passivo acumulado de cerca de R$5 bilhões desde meados de 2023.
Segundo a Aurora, entre 40 mercados analisados globalmente, quase dois terços (65%) não oferecem compensação financeira para o curtailment, deixando os geradores com todo o risco. Mercados da América do Norte e Latina geralmente não possuem mecanismo de compensação de custos, acrescentou a consultoria.
Nesta semana, um grupo de associações do setor elétrico, ligadas ao segmento de geração, consumo e distribuição de energia, divulgou carta defendendo que a geração distribuída precisa ser incluída no compartilhamento dos custos associados ao curtailment.
Somando mais de 40 gigawatts (GW) já instalados no país, os pequenos sistemas solares distribuídos, como fachadas e telhados solares, não são gerenciados pelo ONS, de forma que “passam na frente” de outras fontes no atendimento à carga. Isso acaba agravando as restrições aos grandes geradores.
O relatório da Aurora aponta que a socialização de custos, embora seja a opção mais debatida, “tem impacto limitado”.
“Entre renováveis centralizadas, o alívio para a solar fotovoltaica na Bahia é praticamente nulo, e mesmo com a inclusão da micro e minigeração distribuída a redução é de apenas 24%”, disse Matheus Dias, gerente de projetos da consultoria.
Fonte: Terra
