Entre os dias 1º e 5 de setembro de 2025, participei do City Leaders, programa internacional de capacitação sediado na University College London (UCL), promovido em parceria com a Connected Smart Cities. Estar em Londres, no coração de uma das universidades mais prestigiadas do mundo, classificada em 8º lugar no QS World University Rankings e referência global em inovação urbana, foi, ao mesmo tempo, um reconhecimento à trajetória de Criciúma no cenário de cidades inteligentes e uma grande responsabilidade pessoal e profissional.
A seleção para o City Leaders não se restringiu a um simples processo de inscrição. O programa foi desenhado para reunir 40 gestores públicos, lideranças políticas, especialistas e profissionais do setor privado que estão na linha de frente da transformação urbana no Brasil. Ser parte desse grupo é assumir o compromisso de trazer de volta experiências, reflexões e caminhos possíveis para a construção de cidades mais humanas, sustentáveis e tecnologicamente preparadas para o futuro.
O valor da certificação internacional
O curso somou 40 horas de formação intensiva, com certificação internacional emitida pela UCL, uma credencial de peso, reconhecida mundialmente, que atesta não apenas a qualidade do conteúdo, mas também a seriedade do processo acadêmico envolvido.
A Development Planning Unit (DPU) da UCL, responsável pela coordenação acadêmica, é uma referência mundial em planejamento urbano, desenvolvimento sustentável e inovação. É nesse ambiente de excelência que foram conduzidas as aulas e debates. Professores de renome internacional, como Michael Batty, Ayona Datta, Jennifer Schooling, Chen Zhong e Stephen Lorimer, compartilharam pesquisas, metodologias e experiências que estão moldando a forma como cidades do mundo inteiro se organizam e enfrentam seus desafios.
Receber um certificado dessa instituição vai além do valor curricular: simboliza pertencer a uma rede global de profissionais comprometidos em repensar o futuro urbano, sob uma perspectiva crítica, inclusiva e inovadora.
A dinâmica do programa
O City Leaders foi estruturado em cinco dias intensivos, cada um dedicado a um eixo estratégico:
- Introdução às cidades inteligentes: conceitos, gêmeos digitais e lições latino-americanas.
- Digitalização e valor público: sensoriamento remoto, dados urbanos e inovação responsável.
- Mobilidade urbana inteligente: visita técnica ao laboratório PEARL, espaço onde projetos urbanos podem ser simulados em escala real.
- Governança de cidades inteligentes: debates sobre ética, inclusão digital, desigualdades e decisões baseadas em dados.
- O futuro das cidades: visões prospectivas e consolidação do aprendizado com a cerimônia de certificação.
Além das aulas expositivas, o programa promoveu sessões de trabalho em grupo, apresentações de experiências brasileiras, estudos de caso e eventos de networking, ampliando o diálogo entre teoria e prática, entre academia e gestão pública.
Londres como sala de aula a céu aberto
Se a UCL foi o espaço formal de aprendizado, Londres foi a sala de aula viva. Cada caminhada pelas ruas, cada deslocamento de metrô ou ônibus, cada visita a parques e espaços públicos foi uma oportunidade de observar, na prática, os pilares de uma cidade inteligente:
- Mobilidade urbana eficiente, com integração entre modais, clareza na comunicação e acessibilidade universal.
- Planejamento urbano de longo prazo, evidenciado pelo cabeamento subterrâneo, pela arborização planejada e pela valorização dos espaços públicos.
- Sustentabilidade como política de Estado, presente no transporte, na gestão de resíduos e na preservação de áreas verdes.
- Cultura e identidade preservadas, em museus gratuitos, prédios históricos restaurados e políticas que unem tradição e inovação.
Percebi que, em Londres, a tecnologia é apenas uma ferramenta, o que realmente sustenta a inteligência urbana é a visão estratégica, a continuidade das políticas públicas e o compromisso com a qualidade de vida das pessoas.
Lições para Criciúma e o Brasil
Participar do City Leaders reforçou convicções que já orientam nossa gestão em Criciúma: a transformação digital precisa ser inclusiva, a inovação deve sempre buscar valor público, e o planejamento urbano deve conciliar desenvolvimento econômico, sustentabilidade e bem-estar social.
Algumas ideias práticas que emergem dessa experiência são:
- Estruturar um Observatório de Dados Municipais, para orientar decisões baseadas em evidências.
- Ampliar iniciativas de inclusão digital, garantindo conectividade em áreas vulneráveis.
- Reforçar o planejamento urbano sustentável, priorizando arborização, mobilidade ativa e espaços de convivência.
- Explorar gêmeos digitais e tecnologias de simulação para planejar projetos urbanos de maior impacto.
Mais que um certificado, um compromisso
Voltar ao Brasil com um certificado internacional da UCL é motivo de orgulho, mas acima de tudo é um compromisso renovado: transformar conhecimento em ação, inspirar equipes e continuar posicionando Criciúma no cenário nacional como referência em governança, inovação e cidades inteligentes.
O City Leaders foi mais que um curso: foi um marco na minha trajetória profissional e pessoal, um encontro com ideias globais que precisam se traduzir em realidades locais. Londres ensinou que cidades inteligentes não são feitas de tecnologia, mas de visão, estratégia e pessoas. O desafio agora é aplicar essas lições, para que nossas cidades brasileiras sejam, de fato, mais inclusivas, humanas e preparadas para o futuro.
