O Brasil é um dos países mais urbanizados do mundo: segundo o IBGE (2022), mais de 85% da população brasileira vive em áreas urbanas, percentual bem acima da média mundial de 57% (ONU-Habitat, 2020). Esse processo de urbanização acelerado trouxe ganhos econômicos e sociais, mas também gerou graves desafios urbanos, como déficit habitacional, problemas de mobilidade, precariedade dos serviços públicos, poluição, enchentes recorrentes e forte desigualdade socioespacial (Rolnik, 2019).
Diante desse cenário, ganha força o debate sobre cidades inteligentes (smart cities). Uma cidade inteligente não pode ser reduzida apenas ao uso de tecnologia: ela deve ser também humana e sustentável. Isso significa colocar o cidadão no centro das decisões, promover qualidade de vida, garantir justiça social e adotar práticas de sustentabilidade ambiental — como o uso de energias limpas, a destinação adequada de resíduos sólidos e a proteção dos recursos naturais (Magrani, 2018).
Para que isso seja possível, alguns pilares fundamentais precisam estar presentes:
- Conectividade e interconectividade, permitindo acesso a internet de qualidade e integração entre os diferentes sistemas e serviços públicos;
- Governança urbana clara e participativa, em que cada ator (poder público, iniciativa privada, sociedade civil) tenha papéis definidos;
- Planejamento de curto, médio e longo prazo, que evite o crescimento desordenado e direcione o desenvolvimento urbano de forma sustentável;
- Eficiência na gestão pública, tanto na utilização de recursos quanto na entrega de serviços para o cidadão (Nam & Pardo, 2011).
No entanto, no contexto brasileiro, a implementação de cidades inteligentes enfrenta diversos obstáculos:
- Instabilidade política e institucional, que compromete a continuidade de projetos urbanos;
- Baixa conectividade digital em muitos municípios, tanto para a população quanto para os próprios órgãos públicos;
- Ausência de planejamento urbano consistente, dificultada pelo ciclo eleitoral curto;
- Déficit de capacidade técnica das equipes municipais para implementar projetos complexos;
- Restrição orçamentária severa: 40% do orçamento municipal é constitucionalmente vinculado a saúde e educação, e até 50% pode ser comprometido com folha de pagamento (Lei de Responsabilidade Fiscal). Isso reduz drasticamente a margem para investimentos em inovação, mobilidade, cultura e segurança (BNDES, 2021; ABDI, 2020).
Nesse cenário, muitos municípios só conseguem avançar em projetos inteligentes por meio de parcerias público-privadas ou outras formas de captação de recursos que ofereçam segurança ao investidor privado e sustentabilidade ao ente público.
Portanto, diante do contínuo crescimento das cidades, as soluções inteligentes não devem ser vistas como opção futurista, mas como necessidade estratégica para enfrentar os desafios urbanos do Brasil. Somente com cidades inteligentes — tecnológicas, humanas e sustentáveis — será possível promover um desenvolvimento urbano inclusivo, resiliente e alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.







