A conexão entre sociobiodiversidade, alimentação e qualidade de vida.
O que é uma cidade?
Historicamente, acreditou-se que a cidade seria a concentração territorial da população humana, provavelmente um centro administrativo de vastas regiões de produção agropecuária. Essa é a imagem de cidade que herdamos da Idade Média e boa parte da Era Moderna Pré-industrial.
Após a Revolução Industrial, a cidade se transforma na extensão da fábrica, um equipamento para sustentar a produção industrial, ao mesmo tempo que é o local para o escoamento dessa mesma produção, ali vivendo um novo tipo de cidadão: o operário-consumidor, que trabalha nas fábricas produzindo exatamente o que irá consumir no restante do território da cidade – lojas, clubes, escolas, equipamentos de entretenimento e convivência. A cidade vira uma entidade auto-centrada e aparentemente auto-suficiente.
Mas, paradoxalmente, a cidade industrial passa a se espalhar pelo território como se não existissem fronteiras de tipo algum: cidades deixam de ser enclaves territoriais, e passam a se “conurbar”, tornando-se uma espécie contínua de tecido urbanizado. Cidades deixam de ser as “sedes administrativas” de vastos territórios, e passam a se organizar tendo como objetivo sua própria perpetuação.
Outro aspecto importante no desenvolvimento da cidade é aquele relacionado às práticas da guerra: a cidade foi uma cidade murada porque o muro alto de pedra efetivamente repelia os ataques militares da época. Após a invenção das armas de fogo e canhões, a cidade se transformou em uma rede de entrepostos porque a guerra passou a se sistematizar como um processo contínuo de controle logístico territorial. Após a invenção da aviação e toda sua parafernália – radar, telecomunicação por rádio, porta-aviões, pistas de pouso, indústria aeroespacial – a cidade deixa de se concentrar no território, pois a guerra passa a ser um processo contínuo, mas de baixa intensidade: pense na Guerra Fria que assolou o mundo por quase 50 anos, pareceu ter terminado, e retorna em anos recentes, acrescida pela chamada “Guerra Híbrida”, a guerra de informação e contra-informação, sanções econômicas, ameaças e manipulação da percepção pública.
Paradoxalmente, a cidade deixa de ser um enclave a ser protegido de ataques, e se transforma em um campo de construção de pertença sócio-cultural e econômica. A cidade deixa de ser um fenômeno de concentração territorial, e passa a ser um fenômeno de “integração territorial”. Trata-se de uma mudança paradigmática que é ainda pouco estudada.
Um dos precursores desse entendimento foi o Prof. Nestor Goulart, da FAUUSP, propondo, há mais de 20 anos, o conceito da “Urbanização Dispersa”. Esse conceito teve relativa influência sobre os órgãos de planejamento urbano, como a SEMPLA-SP, quando esta propõe que a região da “Grande São Paulo” pode ser compreendida não mais apenas como uma “Região Metropolitana”, e sim como uma “Macro-Metrópole” com mais de 35 milhões de habitantes, composta por uma região de urbanização dispersa de vasta proporção e densidade variável, ocupando o quadrilátero definido pelos municípios de São José dos Campos, Campinas, Sorocaba e Santos.
Há uma transformação profunda do conceito de cidade, e há pouquíssimos projetos que propõem novos programas, funções e modos de articulação urbana baseados no conceito da Urbanização Dispersa.
Cidade Distribuída
Para aprofundar a noção da Urbanização Dispersa, e lhe dar mais consequência e aplicações práticas, minha proposta foi a criação de um novo conceito urbano, o que chamo de “Cidade Distribuída”: a cidade desprovida de centros preponderantes ou bem definidos; uma cidade em rede, dotada de uma multiplicidade de centros pequenos, médios e grandes, enorme variação de densidade populacional e de infraestrutura, e que tira proveito dos “efeitos de rede”: o incremento exponencial de eficiência de infraestrutura quando essa se organiza como uma “Rede Distribuída”, e não como uma “Rede Centralizada”.
O conceito da “rede distribuída” foi proposto por Paul Baran, em 1964, e é a base operativa da Internet. Trata-se de uma rede capaz de se formar e reconfigurar com grande velocidade, flexibilidade e adaptabilidade. Enquanto a “rede centralizada” depende intensamente de um ponto central que configura e controla todos os participantes dessa rede, a “rede distribuída” se organiza a partir de qualquer um desses participantes, e se configura a partir da conexão destes entre si, de modo relativamente espontâneo, sem exigir que seus participantes se reportem a uma entidade central de comando e controle.
Hoje, o conceito da “rede distribuída” é aplicado em muitas outras áreas da vida humana, desde a cultura organizacional das empresas, corporações e governo, como na organização de redes de distribuição e logística, passando pela famosa “economia compartilhada”, e ainda é a base para serviços de vasta utilização, como iFood, Uber, Netflix, Facebook, Instagram, etc.
Quando aplicado às cidades, o conceito da “rede distribuída” propõe um meio urbano de caráter muito diferente dos padrões tradicionais.
Infraestrutura Distribuída
Provavelmente o conceito mais transformador desse tipo de rede é a “infraestrutura distribuída”. Enquanto a “infraestrutura centralizada” depende de muitas centrais – central telefônica, de processamento de dados, termo- ou hidro-elétrica, de tratamento de esgotos, de distribuição e logística, terminais de ônibus, BRT ou VLT, etc. – a “infraestrutura distribuída” não depende destes centros para seu funcionamento.
O aspecto mais marcante da “infraestrutura centralizada” é aquele relacionado às distâncias: quanto mais “espalhada” estiver a cidade no território – como no caso do famigerado fenômeno do “urban sprawl”, que podemos reconhecer no contexto brasileiro como a “cidade de condomínios fechados” – maiores são as distâncias que devem ser cobertas pela infraestrutura centralizada: mais quilômetros de tubulação de esgoto, mais metros lineares de cabeamento de eletricidade, fibra óptica e telefonia, mais quilómetros percorridos pelos veículos de transporte coletivo e de massa, etc. E isso implica em um incremento brutal do investimento público e privado em instalação, manutenção e operação dessas infraestruturas.
No caso da “infraestrutura distribuída”, essas distâncias são irrelevantes porque a infraestrutura de caráter distribuído – que não depende de uma central de coordenação e operações – também não envolve grandes distâncias de conexão entre as partes do sistema de infraestrutura em questão. Em meu último artigo para o Portal Connected Smart Cities, descrevi como biodigestores podem ser utilizados para criar-se um “sistema metropolitano” de saneamento de básico que não depende de “centrais de tratamento de esgoto” já que todo ciclo de produção, processamento e reintrodução dos efluentes na natureza se resolve dentro do lote urbano, sem a necessidade de conexão das unidades de habitação (casas, edifícios, condomínios) nas vastas e profundamente ineficientes redes de transporte de efluentes seguidas de centrais de tratamento, as quais nunca poderão superar o processo localizado de biodigestão em sua eficiência e eficácia no tratamento e utilização dos subprodutos desses efluentes.
Mas, neste artigo, proponho questionar o caráter geral das cidades a partir da aplicação do princípio das “redes distribuídas” para o urbanismo e o planejamento das “macro-metrópoles”.
Creio que o caráter fundamental do “urbano” é a própria separação entre a cidade e natureza, que está ligada à oposição entre natureza e cultura, amplamente aceita em nossa cultura.
A Cidade e a Natureza
Historicamente, compreendemos a cidade como o “oposto” da natureza. O espaço de completa artificialidade, nenhum ser vivo que não seres humanos, repleta dos artefatos que compõem a vida urbana, um espaço completamente artificial.
Essa imagem é absurda. Especialmente porque não existe nenhuma região, no planeta, que não esteja repleta de seres vivos, além de seres humanos: mesmo nas cidades, estamos cercados pelos seres vivos que sabemos coabitar as cidades conosco (nossos pets, as infestações de pombos, ratos e insetos), além das milhões de espécies de microrganismos que fazem parte do bioma planetário, de nosso próprio corpo e de nossos alimentos.
Um imagem que dominou o imaginário dos urbanistas durante as décadas de 1950 à 1980 era a das “megaestruturas”: sistemas urbanos de grande escala, completamente isolados de seu entorno e construídos como sistemas auto-suficientes, contendo não apenas as habitações, mas todas as funções da cidade em um mesmo gigantesco edifício de proporções urbanas. Também chamados de “arcologias”, essas megaestruturas seriam grandes projetos contendo tudo o que seria necessário à vida humana.
Na realidade, tais projetos nunca aconteceram na proporção que se imaginou, e fica cada vez mais claro que a maior parte das coisas que nos mantém vivos fazem parte do ecossistema planetário, e sequer compreendemos direito como essas coisas funcionam: como o ar que respiramos é purificado pelo ecossistema? Como a água é purificada? Como as toxinas que produzimos são filtradas e processadas pelo ecossistema, que nos devolve alimentos frescos, ar puro e água limpa?
A bem da verdade, os ecologistas têm muitos modelos, descrições, mapas e diagramas que utilizam para descrever os complexos caminhos feitos pelas moléculas na natureza, desde sua origem em nossos sistemas urbanos e industriais, até retornarem a nós como os insumos necessários para a vida. Mas, os detalhes permanecem tão desconhecidos quanto nossa incapacidade de os reproduzir em um contexto puramente artificial.
Serviços Ambientais ou Ecossistêmicos
O que importa é que precisamos do ecossistema planetário – sobre o qual ainda pouco sabemos – para permanecermos vivos. Esse é um fato tão aceito, hoje em dia, que a governança global, em suas mais diversas manifestações – das Nações Unidas à OCDE – reconhecem o que chama-se “serviços ambientais” ou “serviços ecossistêmicos”: a coleção de “serviços” que a natureza nos provê para que nossa vida seja possível. Inclusive a ONU criou a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) para dar conta da complexidade da regulamentação e remuneração dos serviços ecossistêmicos.
De um certo ponto de vista, trata-se de uma tentativa de encarar esses serviços como parte de uma complexa infraestrutura que, em muito, transcende nossa capacidade de sustentar nossa própria vida.
De outro ponto de vista, é assumir publicamente que não temos, nem de longe, a autonomia ou o controle sobre nossas próprias vidas: dependemos de um ecossistema que pouco compreendemos, e estamos destruindo.
Como uma criança que desmonta um equipamento eletrônico sem compreender como ele funciona, ou sequer como remontá-lo, estamos manipulando o ecossistema planetário como se não precisássemos dele para sobreviver. No entanto, extraímos valor desse ecossistema todos os dias, quando respiramos, bebemos água ou comemos.
Superando a separação humanidade x natureza
Com cada vez mais frequência e intensidade, vemos falas, pesquisas e propostas que vislumbram um mundo futuro em que essa impossível separação entre humanidade e natureza está superada.
De falas de Ailton Krenak, dizendo que “cidades são florestas em ruínas”, e que “florestas poderiam ser cidades em ruínas”, à pesquisa “Ligue os Pontos”, que demonstra que a maior parte dos alimentos consumidos na Região Metropolitana de São Paulo provém da agricultura familiar que está localizada dentro dessa própria região urbana dispersa, distribuída – fazendo uso da miríade de espaços não edificados para produção agrícola, vemos que a separação entre natureza e cidades é uma visão obsoleta, frente à visão de futuro mais arrojada e aos fatos vividos nas grandes cidades.
Não apenas a separação entre humanidade e natureza é impossível, como sua integração já acontece, mesmo contra todas os modelos de urbanização e de legislação urbana, que continuam a descrever a cidade como sendo definida por um “perímetro urbano”, o qual separa a cidade do campo, a fronteira entre “onde se dá a vida humana”, de um lado, e “onde se dá a produção de alimentos”, do outro lado. O reducionismo grosseiro desse conceito é cada vez mais óbvio, cada vez menos aceitável.
Como sempre digo: a “ontologia urbana” que utilizamos para pensar e construir as cidades está obsoleta, e precisamos atualizá-la com urgência. “Ontologia” é o nome dado pelos filósofos para a coleção de conceitos, ideias e palavras que utilizamos para descrever o mundo em que vivemos. E ontologias precisam ser revistas periodicamente, sob o risco de impedirem a transformação da sociedade e, em nosso caso, das cidades. A ontologia urbana que separa a cidade da natureza está obsoleta, e impede que vejamos o óbvio: precisamos produzir nossos alimentos perto de onde vivemos, e precisamos criar espaço nas cidades para que a natureza se desenvolva e nos provenha de suas benesses.
Cidade Agroflorestal
Trabalho há anos na reformulação dessa ontologia, com especial atenção para o seguinte aspecto: cidades e florestas não precisam ser coisas diferentes e separadas – poderíamos ter cidades repletas de natureza, nas quais os alimentos seriam produzidos na distância a pé das casas e estabelecimentos onde seriam preparados e consumidos; assim como os problemas ambientais oriundos da ausência de vegetação nas cidades – como ilhas de calor, ausência de áreas sombreadas, biodiversidade reduzida – não seriam uma questão.
Na convergência de numerosas abordagens para a produção sustentável e regenerativa de alimentos – desde a permacultura, até a agroecologia, passando pela agricultura biodinâmica, manejo florestal e a integração lavoura-pecuária-floresta – está o conceito da “Agrofloresta”: um sistema florestal complexo e organizado a partir das relações simbióticas entre os seres vivos que o compõem, e ainda capaz de prover a humanidade com a produção que lhe é necessária. Agroflorestas podem ser projetadas para que diversos serviços ecossistêmicos sejam providos, desde alimentos vegetais, até água limpa, passando por madeira e fibras vegetais (como algodão e sisal), proteína animal, sombreamento, proteção aos ventos, e mitigação de impactos da mudança climática.
Proponho a “Cidade Agroflorestal”: um novo tipo de cidade, na qual a distinção entre o artificial (construções humanas) e o natural (aquilo que sustenta nossa vida) não estão em conflito ou são vistas como coisas necessariamente distintas e opostas. Essa seria uma cidade em simbiose com a natureza, na qual os aspectos dessa simbiose seriam o primeiro e mais importante aspecto do urbanismo.
O formato exato de implementação da Cidade Agroflorestal poderia ser bastante variado: uma certa proporção dos lotes urbanos poderia ser dedicada à sua instalação, ou ainda regiões inteiras das cidades, como parques agroecológicos e de fruição da natureza; ou então parques lineares com regiões da malha viária sendo convertida em agroflorestas. Ou ainda a extensão completa da cidade poderia ser convertida em uma área em que agroflorestas estão intimamente integradas com as edificações, habitações e equipamentos sócio-urbanos, de fato uma cidade em que não se segrega natureza e vida humana. O que podemos esperar é que o tecido urbano será uma paisagem muito diferente da qual estamos habituados.
Uma nova ontologia urbana exige uma nova administração urbana.
A articulação entre os sistemas agroflorestais e o tecido urbano implicam uma série de transformações no modo como concebemos, projetamos, desenvolvemos e administramos as cidades.
Em primeiro lugar, é necessário transformar o modo como a densidade populacional das cidades é projetada e implementada. Tradicionalmente, os urbanistas acreditam que quanto maior a densidade populacional de uma cidade, dentro de limites razoáveis, melhor é o desempenho ambiental da cidade. Mas, uma cidade na qual convida-se a natureza a coabitar o tecido urbano com as construções humanas implica em dar espaço para essa natureza.
O que nos leva a perguntar: qual é a densidade ideal para os assentamentos humanos? A resposta está entre duas demandas: vida urbana repleta de ricos encontros sociais, e a necessidade de espaços e sustentação para as formas biodiversas de vida que compõem a agroecologia. Ou seja, essa é uma pergunta que será respondida por projetos específicos de tecidos urbanos reais. E não um número fixo que será imposto a todas as cidades e a todos os biomas. A densidade urbana precisa emergir do concreto desenho das simbioses que comporão a Cidade Agroflorestal.
Mas, certamente, aquela demanda tradicional de máximo adensamento das Cidades Centralizadas cederá espaço para a uma grande variação de densidade ao longo do território urbano, pois a Agrofloresta, como todo serviço ecossistêmico, é uma entidade distribuída no território, uma “Infraestrutura Distribuída”, e convida a cidade a operar desta forma.
O que podemos ter certeza é que o Plano Diretor Urbano deverá incorporar as necessidades, critérios e conhecimentos técnicos do Plano Diretor Agroflorestal, que é utilizado para orientar a implantação de agroflorestas. Ao articular as necessidades da chamada “cidade compacta” e dos sistemas produtivos sustentáveis, teremos um novo tipo de tecido urbano em que a vida cotidiana está integrada com um bioma vibrante que a alimenta e sustenta.
Um terceiro ponto de articulação metodológica e técnica será o Planejamento da Paisagem, que necessariamente será integrado às necessidades do bioma local: já existem, hoje, abordagens de paisagismo sustentável que privilegiam espécies nativas do bioma. Na Cidade Agroflorestal, essas práticas se somariam às necessidades dos chamados “jardins comestíveis” (ou “florestas comestíveis”), assim como seriam desenvolvidos novos critérios de projeto, implementação e avaliação das paisagens urbanas.
Uma quarta referência seria a sócio-biodiversidade, em que os critérios de convívio, não apenas entre seres humanos, mas entre outras espécies e seres humanos deverão ser criados, desenvolvidos e continuamente reavaliados. Hoje, vivemos no que chamo de “monoculturas de gente”: cidades que contém apenas as pessoas e as espécies oportunistas que a coabitam conosco (ratos, vírus, pombos e pets). A Cidade Agroflorestal seria habitada por um número muito maior de espécies.
Potencialmente, isso poderia reduzir a probabilidade da proliferação de epidemias e pandemias, reduzindo o contato intenso e massivo entre seres humanos, e incrementando a complexidade do bioma que habitamos. Por outro lado, nossa vida seria mais complexa, incluindo outros animais e vegetais hoje raros no meio urbano (de animais peçonhentos e curiosas visitas de pássaros e macacos). Como será habitar uma cidade biodiversa? Saberemos no futuro.
Agrofloresta Urbana como Serviço Metropolitano de Massa
Assim como, em meu último artigo, propus o biodigestor e o biogás como parte de um serviço de uso metropolitano, aqui também proponho a agrofloresta como um serviço urbano a ser desenvolvido e implementado segundo a lógica do Design de Serviço, criando-se um sistema de fácil adesão, amplo reconhecimento, que conta com legislação e regulamentação adequada, e capaz de transformar o tecido urbano com o mínimo de esforço do cidadão isolado, fragilizado frente às enormes demandas da criação de uma Sociedade Regenerativa.
Acredito que é cruel esperar que o cidadão solitário, ou o consumidor em suas escolhas diárias, sejam capazes de gerar pressão sócio-econômica suficiente para induzir a uma transformação de práticas produtivas e ajustes de regulamentação em escala e forma suficiente que, desse movimento, emerja a chamada “Sociedade Regenerativa”.
Para que essas mudanças aconteçam, de fato, é necessária a oferta de serviços e sistemas de adesão simplificada, capazes de tornar as práticas regenerativas um processo descomplicado e facilitado. A automação digital, por meio de sistemas integrados de informação, característico das Cidades Inteligentes, pode ser um componente importante desses serviços. Mas, é crucial que se desenvolva seu desenho completo, envolvendo todos os entes sociais necessários para que essa oferta exista como parte de um novo ecossistema urbano regenerativo.
Neste sentido, novos empreendimentos imobiliários podem ser concebidos tendo as agroflorestas como parte integral de sua proposta urbana e socioambiental. Os serviços de planejamento, implementação, manutenção e manejo de sistemas agroflorestais seriam a peça-chave desses empreendimentos.
A Cidade Agroflorestal é uma rede distribuída de serviços integrados. E o desenho desses serviços – em especial aquele dedicado à criação e implementação de sua agroecologia, o tecido vivo da cidade – é a criação de um ecossistema em simbiose, capaz de sustentar a biodiversidade integrada à infraestrutura urbana. Essa rede de serviços é um conjunto extenso de inovações urbanas, manifesto em serviços acessíveis à toda população.
Este é o segundo artigo de uma série que dedico a essas inovações. No próximo artigo, falarei sobre o inusitado papel que os condomínios urbanos poderão ter na produção de proteína animal para alimentação e na redução drástica dos resíduos orgânicos.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Head de inovação na Kyvo e fundador da Bootstrap. Arquiteto e urbanista, há mais de 25 anos pesquisa as complexas relações entre urbanidade, tecnologia, comunidades e inovação. Professor e pesquisador coordenador do grupo Cenários Urbanos Futuros (RITe-FAUUSP), além de consultor em projetos de inovação e transformação organizacional, com abordagem do Metadesign para processos de transformação cultural e urbana.