Já temos o “mapa do caminho” do transporte público sustentável;
O desafio é fazer a travessia e transformá-lo em realidade
No final de novembro, um grupo de empresários, dirigentes de entidades, altos funcionários do governo e acadêmicos reuniu-se em Brasília para lançar um importante documento: “Diretrizes e Propostas para um Plano Nacional da Cadeia de Ônibus Elétricos no Brasil”.
É o primeiro grande esforço de sistematizar e organizar as bases de um programa de desenvolvimento da indústria brasileira de transporte público sustentável, com a meta de elevá-lo a referência global nesse segmento.
A ambição não é pouca. Segundo os autores, um programa robusto de nacionalização da cadeia de ônibus elétricos poderá gerar 280 mil novos empregos até 2030, gerar R$ 3,1 bilhões por ano e aumentar o PIB em 0,4 ponto percentual.
“A eletrificação da frota de transporte urbano associada com o desenvolvimento produtivo de sua cadeia é uma estratégia central para o desenvolvimento de uma mobilidade urbana de baixo carbono e de um futuro produtivo, inclusivo e sustentável” – diz um trecho.
O lançamento foi no auditório do Ministério do Desenvolvimento (MDIC), com a presença do ministro e vice-presidente da República Geraldo Alckmin.
O documento foi coordenado pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe das Nações Unidas (Cepal), em parceria com o governo brasileiro (MDIC) e o Ministério Federal Alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ/GIZ).
Faz parte do “Grande Impulso (Big Push) para a Sustentabilidade” lançado pela Cepal. Ou seja, “uma estratégia de mobilização e coordenação de investimentos transformadores do estilo de desenvolvimento, cujo ingrediente fundamental é a ampliação das políticas de desenvolvimento produtivo verde e inclusivo”.
O texto final, assinado pelo consultor Edgar Barassa, é o resultado de um ano de trabalho produtivo e de um sem-número de reuniões presenciais e online, com participação de mais de 100 dirigentes altamente qualificados.
Todos os que tinham algo relevante a dizer sobre a cadeia de ônibus elétricos no Brasil tiveram a oportunidade de fazê-lo.
Entre eles, executivos de empresas (Eletra, WEG, Caio, Marcopolo, BYD e outras), órgãos do governo (Presidência da República, Casa Civil, MDIC, Ministério das Cidades), agências de fomento (BNDES, Apex, Fundep, Embrapii), associações empresariais e sindicais (ABVE, Anfavea, Sindipeças, Fabus, CUT), instituições internacionais (UITP, ICCT, C-40) e centros de formação profissional e pesquisa (Poli/USP, FEI, Unicamp, Senai, Dieese).
As “Diretrizes”, portanto, são a síntese de um amplo consenso entre os principais atores públicos e privados vinculados ao transporte e mobilidade urbana. Elas se juntam a outros dois importantes documentos divulgados pelo MDIC: o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), em dezembro do ano passado, e o plano Nova Indústria Brasil (NIB), em janeiro.
Juntos, esses documentos delineiam o “mapa do caminho” da “neoindustrialização” anunciada pelo presidente Lula e pelo vice-presidente Alckmin no início do governo.
O desafio agora é fazer a travessia entre as boas ideias e as ações concretas para torná-las realidade.
Planos ousados exigem persistência e visão de futuro para atingir suas metas. Não são tarefa de um único governo e nem podem se submeter ao curto prazo do calendário eleitoral.
Num momento em que nuvens ameaçadoras voltam a se avolumar no horizonte econômico, é fundamental que o governo não perca o foco dos projetos estruturantes – aqueles cujos frutos serão colhidos não necessariamente por nós, mas pelas próximas gerações.
É essencial que as decisões políticas que serão tomadas hoje garantam regras estáveis, controle da inflação, redução sustentável da taxa de juros e acesso seguro ao crédito.
Os empresários brasileiros já demonstraram sua disposição de apostar na nova fase da industrialização brasileira. Em troca, eles esperam que o governo assegure um cenário econômico previsível e amigável ao risco e ao investimento produtivo de longo prazo.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.