A ficção associa desenvolvimento tecnológico com degradação humana e devastação ambiental. Nas histórias, é comum encontrar futuros onde a tecnologia provocou uma destruição sem precedentes, tudo em nome do “progresso”. Em meio a tanto pessimismo, é difícil imaginar uma realidade onde o avanço das tecnologias esteja aliado aos benefícios sustentáveis. Porém, o surgimento de “cidades inteligentes” é um passo nessa direção.
De acordo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI), o conceito de cidades inteligentes “envolve a combinação de investimentos em capital humano e social com tecnologias de informação e comunicação (TIC) voltadas ao desenvolvimento econômico sustentável e melhoria da qualidade de vida”.
Leonardo Vasconcellos, engenheiro, CEO da startup General Energy e professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA), explica que o conceito, porém, surgiu na década de 1970, em Los Angeles, quando a cidade começou a utilizar dados de sensores e imagens aéreas para melhorar a gestão pública e o bem-estar da população.
O conceito principal de cidades inteligentes envolve entender porque você está deixando a cidade mais inteligente, que é para prover maior qualidade de vida para a população”, destaca Vasconcellos.
Para Hélder Uzêda, doutor em Desenvolvimento Regional e Urbano, algumas práticas de desenvolvimento sustentável caracterizam a definição de cidades inteligentes. São elas:
- eficiência energética;
- energia renovável;
- gestão de resíduos;
- mobilidade urbana;
- monitoramento e qualidade do ar;
- uso racional de recursos;
- infraestrutura digital, segurança e resposta a emergências;
- governança pública.
Tudo isso, reforça o doutor, “a partir de um modelo conectado e compartilhado de serviços urbanos, voltados à eficiência operacional e transformação positiva da vida de seus habitantes, igualmente reduzindo a desigualdade, a partir da promoção de um ambiente urbano mais inclusivo e equitativo”.
Tudo isso, reforça o doutor, “a partir de um modelo conectado e compartilhado de serviços urbanos, voltados à eficiência operacional e transformação positiva da vida de seus habitantes, igualmente reduzindo a desigualdade, a partir da promoção de um ambiente urbano mais inclusivo e equitativo”.
Desde então, essa ideia evoluiu para incorporar diversas tecnologias, com um objetivo central: melhorar a qualidade de vida dos cidadãos por meio de soluções eficientes e sustentáveis.
Tecnologia não se resume ao digital
Para Leonardo Vasconcellos, a tecnologia nas cidades inteligentes vai além do digital e eletrônico, envolvendo qualquer inovação que melhore a gestão pública e o bem-estar dos habitantes.
Esse conceito é amplo e também passa pelo lado social. Você tem que ouvir a população, qual a sua necessidade, qual é o problema. (…) A solução pode ser operacional, pode ser uma alteração nas vias de trânsito, mas também pode ser através da instalação de sensores”, explica Vasconcellos.
O uso de dados é um pilar das cidades inteligentes. A coleta de dados de sensores, imagens e diretamente da população permite uma gestão mais eficaz e responsiva. Porém, Vasconcellos destaca que a tecnologia deve ser acessível a todos. Sem a inclusão digital, as soluções tecnológicas não atingem seu pleno potencial.
Desenvolvimento sustentável em diversas áreas
Para Hélder Uzêda, as cidades inteligentes podem ser aliadas no desenvolvimento sustentável, a partir de ações significativas na prevenção de danos para evitar desastres ambientais, como a tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul ao longo do mês de maio.
O escopo ambiental adiciona reduções de emissões de carbono, gestão eficiente de recursos, preservação da biodiversidade urbana e resiliência às alterações climáticas”, reforça Uzêda.
Para o doutor em Desenvolvimento Regional e Urbano, além do desenvolvimento sustentável, as cidades inteligentes promovem inovações em diversas áreas, principalmente na esfera empresarial, potencializando os esforços voltados para os cidadãos.
Inovação e tecnologias; oportunidades econômicas; infraestrutura digital; responsabilidade corporativa, social e ambiental; e integração com a gestão pública, facilitando compliance, transparência e responsabilização, além de posicionar a participação cidadã como componente essencial no processo de planejamento, tomada de decisões e melhoria contínua da cidade”, pontua Uzêda.
Incentivos em políticas públicas para a adesão às cidades inteligentes
Para Leonardo Vasconcellos, o incentivo ao uso de veículos elétricos é uma parte importante do planejamento urbano sustentável. Cidades como Curitiba e São Paulo lideram no Brasil em termos de desenvolvimento de cidades inteligentes, mas Salvador também se destaca no Nordeste, com iniciativas como o IPTU verde e amarelo, que oferecem descontos para edificações sustentáveis e uso de energia solar.
Hélder Uzêda também destaca os diversos incentivos para a adesão de projetos ambientais e sustentáveis.
Vale adicionar políticas para gestão pública, que versam preferência por aquisições de produtos sustentáveis. Muitas entidades de classe mundial estão surgindo para alargamento das discussões sobre as cidades inteligentes, instrumentalizando governo, empresas e profissionais para a elaboração de políticas e iniciativas cada vez mais assertivas”, destaca Uzêda.