No contexto brasileiro, sabemos que algumas cidades enfrentam desafios na implementação de políticas de micromobilidade sustentável, incluindo a regulamentação e utilização dos patinetes elétricos
As cidades inteligentes têm se tornado uma realidade cada vez mais presente em todo o mundo, com o objetivo de promover um ambiente urbano mais eficiente, sustentável e inclusivo. Durante uma viagem de lua de mel pela Europa, visitando cidades como Roma e Genebra, pude observar de perto diferentes abordagens e políticas públicas adotadas por essas cidades, especialmente em relação à micromobilidade e ao planejamento urbano.
Micromobilidade e Patinetes Elétricos em Roma
Durante minha estadia em Roma, um aspecto que chamou minha atenção foi a presença abundante de patinetes elétricos espalhados pelas ruas. Essa forma de micromobilidade ganhou popularidade em várias cidades ao redor do mundo, mas também trouxe desafios e dilemas regulatórios.
Em relação às políticas de micromobilidade, Roma adotou regulamentações específicas para lidar com a presença dos patinetes elétricos em suas ruas. A cidade estabeleceu zonas delimitadas para estacionamento de patinetes e impôs regras claras para a velocidade máxima permitida. Essas medidas visam garantir a segurança dos pedestres e a organização do espaço público.
No entanto, mesmo com essas regulamentações, muitos usuários não têm respeitado as regras, resultando em más experiências para os pedestres e moradores. Os patinetes inundam calçadas em diversos pontos da cidade, inclusive em pontos turísticos, podendo permanecer por dias no mesmo local, obstruindo as vias públicas e dificultando a passagem.
Relatos de acidentes envolvendo patinetes elétricos e pedestres destacaram a necessidade de uma maior conscientização e educação dos usuários, além da importância da fiscalização por parte das autoridades. Esses incidentes servem como alerta para que outras cidades, ao implementar políticas semelhantes, considerem cuidadosamente a regulação, a fiscalização e a educação dos usuários como elementos-chave para garantir uma micromobilidade segura e eficiente.
No contexto brasileiro, sabemos que algumas cidades enfrentam desafios na implementação de políticas de micromobilidade sustentável, incluindo a regulamentação e utilização dos patinetes elétricos. Em São Paulo, houve uma rápida expansão dos serviços de compartilhamento de patinetes, mas também surgiram problemas, como estacionamento inadequado e conflitos com pedestres. Embora a cidade tenha implementado regulamentações, como limites de velocidade, estacionamentos específicos e penalidades por má utilização, não foi o suficiente para que a Grow, empresa que operava os patinetes elétricos na cidade, mantivesse as operações.
A empresa enfrentou desafios relacionados à regulação e fiscalização por parte das autoridades municipais. A falta de uma regulamentação clara e abrangente para o uso de patinetes elétricos nas ruas da cidade gerou incertezas e dificultou a operação das empresas do setor, além de impedir um modelo de negócios rentável, um dos motivos de a Grow ter suspendido suas operações em São Paulo. As questões envolvendo estacionamento inadequado, desrespeito às regras de circulação e conflitos com pedestres também contribuíram para uma imagem negativa dos patinetes elétricos e influenciaram a decisão de suspensão das operações em São Paulo.
Essas experiências destacam a importância de um ambiente regulatório favorável e de políticas públicas bem definidas para o sucesso de iniciativas de mobilidade sustentável, como o compartilhamento de patinetes elétricos. É fundamental que as cidades estabeleçam regras claras, promovam a fiscalização adequada e desenvolvam infraestrutura apropriada para garantir uma convivência harmoniosa entre os diversos modos de transporte, visando a segurança de todos os usuários e o uso eficiente do espaço urbano.
Carros elétricos na Europa: avanço notável e desafios no Brasil
Ainda no contexto da mobilidade sustentável, outro aspecto que chamou a atenção durante a viagem foi a presença dos carros elétricos e seus diversos pontos de abastecimento. Uma diferença notável em comparação com o cenário brasileiro.
O avanço dos carros elétricos na Europa tem sido significativo nos últimos anos. Vários países europeus têm implementado políticas de incentivo e regulamentações favoráveis aos veículos elétricos, como subsídios na compra e benefícios fiscais. Além disso, a infraestrutura de recarga está em constante expansão, com um número crescente de pontos de recarga disponíveis em vias públicas, estacionamentos e residências. Essas medidas têm impulsionado a adoção dos carros elétricos, resultando em um aumento significativo no número de veículos elétricos nas estradas.
Por outro lado, no Brasil, o avanço tem sido mais lento. Apesar de haver um interesse crescente por veículos elétricos no país, a infraestrutura de recarga ainda é limitada e muitas cidades brasileiras enfrentam desafios em termos de planejamento urbano e disponibilidade de pontos de recarga públicos. Além disso, a falta de incentivos fiscais e subsídios significativos torna os veículos elétricos mais caros e menos acessíveis para a maioria dos consumidores brasileiros.
Planejamento Urbano em Genebra: O Caso dos Bairros Planejados
Em Genebra, na Suíça, as políticas públicas de planejamento urbano têm sido bem-sucedidas na criação de bairros planejados que incorporam uma abordagem holística e sustentável do desenvolvimento urbano. Esses bairros são concebidos de forma integrada, considerando diferentes aspectos urbanos, como mobilidade, habitação, espaços verdes e serviços públicos.
Durante a visita a Genebra, conheci o bairro de Plan-les-Outes, projetado com uma abordagem inovadora e sustentável, enfatizando a qualidade de vida dos moradores e a preservação do meio ambiente. O planejamento urbano em Plan-les-Ouates buscou criar uma comunidade coesa, com infraestrutura completa e serviços integrados. O bairro foi projetado levando em consideração a conectividade e a acessibilidade, com uma rede de transporte público eficiente, ciclovias e calçadas bem projetadas para promover a mobilidade sustentável.
Plan-les-Ouates é um bairro que busca maximizar o uso eficiente do espaço, preservar áreas verdes e oferecer uma combinação equilibrada de espaços residenciais, comerciais e industriais. O destaque desse bairro está na sua ênfase na sustentabilidade ambiental, com medidas de eficiência energética, uso de energias renováveis e criação de espaços verdes. Além disso, o bairro conta com uma infraestrutura completa, incluindo escolas, creches, centros comunitários, áreas esportivas e espaços culturais, visando atender às necessidades dos moradores e promover a coesão social. Plan-les-Ouates é um exemplo notável de planejamento urbano bem-sucedido, que proporciona um ambiente urbano equilibrado, sustentável e com alta qualidade de vida.
Essa abordagem de planejamento urbano em Genebra demonstra a importância de uma visão integrada e de longo prazo na construção de cidades inteligentes. Ao considerar cuidadosamente os aspectos de mobilidade, infraestrutura, serviços e meio ambiente, as políticas públicas podem contribuir para o desenvolvimento de cidades mais equilibradas e sustentáveis.
Um futuro urbano sustentável e integrado
A viagem pela Europa, explorando cidades como Roma e Genebra, proporcionou valiosas lições sobre políticas públicas relacionadas à mobilidade e planejamento urbano nas cidades. Os exemplos observados ressaltam a importância de abordagens integradas e sustentáveis para o desenvolvimento urbano.
Embora Roma ainda enfrente desafios na regulação dos patinetes elétricos, destacando a necessidade de conscientização e educação dos usuários, o país já avançou na adoção de políticas mais sustentáveis de mobilidade. A tendência europeia também pode ser observada na adoção de carros elétricos.
Genebra exemplifica a importância do planejamento urbano sustentável na criação de bairros planejados que oferecem qualidade de vida, preservação ambiental e integração de serviços essenciais, destacando a relevância da conectividade, acessibilidade, sustentabilidade ambiental e inclusão de instalações e serviços públicos para promover comunidades coesas e equilibradas.
Em resumo, as observações realizadas nas cidades europeias destacam a necessidade de políticas públicas eficazes e abrangentes para enfrentar os desafios da mobilidade e planejamento urbano nas cidades. Essas políticas devem considerar aspectos como regulação, fiscalização, educação, incentivos e infraestrutura adequada. Ao adotar políticas integradas e sustentáveis, as cidades podem avançar em direção a um futuro urbano mais eficiente, inclusivo e amigável ao meio ambiente.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
É formada em Relações Internacionais na Belas Artes, possui MBA pelo Insper e atua há mais de 10 anos em projetos de inovação. Desde 2020 desenvolve projetos de digitalização nas cidades e participa de webinars e eventos envolvendo tecnologia e gestão sem papel. Atualmente, é Diretora de Marketing e Novos Negócios da Sonner, uma empresa que há 25 anos desenvolve soluções tecnológicas para governos.