O Governo Federal tem um papel: fixar metas e coordenar expectativas
O C-Move DF e o Dia da Mobilidade Elétrica de Brasília, nos dias 7 e 8 de março, foram os dois mais importantes eventos sobre eletromobilidade no Brasil neste início de ano.
Eles ajudaram a consolidar um crescente consenso sobre o papel decisivo que cabe ao Governo Federal na estratégia brasileira de descarbonização da economia.
Um fio condutor uniu os vários painelistas que se revezaram em dois dias de debates, num centro de convenções a poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes.
Todos foram unânimes em dizer que o atual governo, se quiser reconquistar a histórica liderança brasileira na agenda climática mundial, terá de recuperar o tempo perdido e acertar o passo com a eletromobilidade.
Isso só será possível por meio de um ativo conjunto de políticas públicas que estabeleçam metas nacionais e regionais de transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis nas frotas de transporte público, particular e de carga.
E também por iniciativas que reforcem a infraestrutura de apoio à eletromobilidade, como redes públicas de eletropostos nas principais estradas do país e mudanças na legislação tributária que facilitem a venda do serviço de recarga de veículos elétricos.
Nos últimos anos, as ações para impulsionar o transporte sustentável no Brasil partiram principalmente de prefeitos, governadores e das próprias empresas.
Com raras exceções, o Governo federal, como instância coordenadora da transição energética, tem sido o grande ausente desse debate.
Essa ausência tem repercussão direta, por exemplo, na capacidade das empresas brasileiras de competir com as chinesas no mercado latino-americano de ônibus elétricos. Ou nas perspectivas da indústria nacional de automóveis de recuperar mercados de exportação na Europa e Estados Unidos.
Ou mesmo na competência do país de produzir componentes de médio e alto valor no mercado mundial, como semicondutores, baterias elétricas e painéis solares.
Esse é o consenso que se forma: a reindustrialização brasileira passa necessariamente pela eletromobilidade e pela inovação tecnológica inerente aos processos de descarbonização dos transportes.
E a reindustrialização passa necessariamente pelo fortalecimento das indústrias instaladas no Brasil e das tecnologias desenvolvidas por brasileiros.
Não para protegê-las da concorrência externa, mas para desafiá-las a apresentar produtos melhores, mais econômicos e sustentáveis ao mercado brasileiro e latino-americano.
Nesse processo, o Governo Federal tem uma posição central. Seu papel não é apenas impor metas, mas coordenar as expectativas de empresas, investidores e consumidores, e alinhar as várias ações subnacionais a uma estratégia coerente de transição energética.
O Brasil já tem uma Política Nacional de Biocombustíveis e uma Política Nacional de Mobilidade Urbana. Mas não tem um Plano Nacional de Eletromobilidade.
Já sabemos qual é o rumo das grandes economias do planeta nesse tema: a China (com o 14º Plano Quinquenal), a Europa (Green Deal) e os Estados Unidos (Plano Biden).
E do Brasil? Não sabemos.
Continuaremos a ser uma economia exportadora de commodities e produtos primários? A ser consumidores passivos de tecnologias estrangeiras? Vamos nos contentar em ser um eterno país de renda média, incapaz de crescer, gerar prosperidade, acabar com a miséria?
São esses desafios que temos de apresentar ao novo governo e ao novo Congresso.
Estamos na encruzilhada. Ainda não sabemos como vamos nos inserir na grande transição econômica de nosso tempo – o fim da era do petróleo e o início da era das energias renováveis.
Qual é o rumo?
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.