Na França e na Itália, já existem cidades que possuem projetos piloto de sistemas munidos com esse tipo de tecnologia
Quem vive nos grandes centros urbanos conhece as vantagens e desvantagens da metrópole, que vão do acesso fácil a todos os tipos de serviço, mas passam, muitas vezes, pelas longas horas de deslocamento para trafegar pela cidade. E se pudéssemos viver em cidades que possuem uma mobilidade inteligente e sustentável, onde os modais de transporte funcionam de forma integrada, com agilidade e segurança nas viagens das pessoas?
Quando falamos em digitalização na mobilidade urbana, discutimos como aproveitar os dados para gerar resultados melhores para a cidade. Trata-se de como saber usar a tecnologia em favor da população – por exemplo, conseguir mapear com maior precisão o deslocamento das pessoas e, com isso, adaptar o sistema de transporte às demandas e necessidades em cada região.
Estamos falando sobre o uso da inteligência artificial para garantir mais segurança e fluidez aos usuários dos modais. Os dados de manutenção são utilizados de forma que possamos ser mais preditivos e menos corretivos diante de uma falha. Ou seja, tornando possível a previsão de situações que podem ocasionar problemas no sistema e, com essa informação, adotar medidas para melhorar o fluxo das pessoas.
Ciência de dados
Outro exemplo de digitalização de sistemas que ajudam as autoridades da cidade a obter maior fluidez e capacidade de seus diferentes serviços de transporte é saber o que está acontecendo em uma estação, observar o movimento de passageiros, identificar algum incidente passível de ocorrer e encontrar uma solução no menor tempo possível. Podemos também conseguir, em tempo real, a quantidade de passageiros que passam a catraca e adaptar o hardware do intervalo de trens para atender a essa demanda.
Existem sistemas que funcionam como um orquestrador dos modais das cidades; eles conseguem analisar, em tempo real, a situação atual de determinada área/região, com o objetivo de organizar o espaço para minimizar o caos, no caso da ocorrência de um problema.
Por exemplo, em uma eventual pane em uma das linhas de metrô, o sistema recomendaria a utilização de outros trajetos, poderia sugerir aumentar a quantidade de trens, avisaria os operadores de ônibus para reforçar a frota e comunicaria os aplicativos de táxis e transporte por aplicativos que ali é uma região que está necessitando de suporte extra.
Todas essas informações poderiam ser acessadas por meio de um aplicativo, no qual o usuário saberia o que está acontecendo e como proceder nesse tipo de ocorrência.
Uma ferramenta de solução de mobilidade mais sustentável e inteligente é o Mastria, desenvolvido pela Alstom com o Instituto de Pesquisa Tecnológica (IRT) SystemX (localizado em Palaiseau, em Essonne, na França).
Redes neurais artificiais
Trata-se de um orquestrador de tráfego multimodal que foi inserido em 2019 nos metrôs do Panamá para ajudar na saturação de usuários do serviço. Em apenas três meses, e graças a técnicas de aprendizagem profunda (redes neurais artificiais que permitem algoritmos de autoaprendizagem), antecipa em até 30 minutos o seu aparecimento e permite que sejam tomadas medidas para reduzir o tempo de espera nas estações em 12%.
No período de crise sanitária, devido à pandemia de covid-19, a tecnologia também facilitou limitar a taxa de ocupação dos trens aos 40% recomendados pelos órgãos de saúde.
Na Europa, algumas cidades na França, Itália e Espanha possuem projetos-piloto desse sistema munido com esse tipo de tecnologia, que foi especialmente adaptado à realidade de cada localidade. São regiões que investem e estão atendas à gestão da informação.
Tecnologias já existem e podem ser adaptadas para a realidade de cada cidade. No entanto, para que seja possível operar no Brasil, é necessário que haja uma gestão de dados integrada, com investimentos em infraestrutura para compartilhamento de dados e informação.
É importante a compreensão de que não se trata de uma solução rápida de resultados imediatos: trata-se de um projeto com implementação gradual, respeitando cada fase de execução e implementação, mas que a longo prazo resultaria em uma cidade mais moderna e, principalmente, segura para a sua população.”