Para Felipe Maruyama, COO da Cietec, São Paulo deveria se tornar uma grande plataforma de inovação aberta, com espaços dedicados à experimentação de novos produtos e serviços
“São Paulo deve se transformar em uma grande plataforma para a inovação.” É dessa maneira que Felipe Maruyama, COO do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, incubadora de empresas localizada na USP), imagina o futuro da cidade. “É preciso criar espaços onde novas tecnologias sejam testadas e implementadas rapidamente pelo setor público, para o benefício de toda a população.”
Maruyama será o coordenador das palestras e painéis da arena Cidades Inteligentes, parte do Festival Cidade do Futuro. Para ele, a meta de construir uma São Paulo melhor passa necessariamente pela discussão sobre smart cities, que usam a transformação digital para “gerar valor para as pessoas”.
Engana-se, diz Maruyama, quem acredita que essas cidades são definidas por prédios conectados, carros sem motoristas e equipamentos de ponta. “A tecnologia é apenas um meio para alcançar o objetivo real, que é solucionar os problemas concretos da cidade, oferecendo serviços com eficiência, reduzindo desigualdades, aumentando a resiliência e melhorando a qualidade das pessoas de forma transversal”, diz o COO.
Embora a capital paulista, que hoje completa 469 anos, enfrente problemas gravíssimos de pobreza, fome e violência, Maruyama acredita que dá para visualizar um futuro melhor a partir de algumas medidas tomadas no passado recente. “São Paulo, com seus mais de 12 milhões de habitantes, é uma cidade com muitas desigualdades. Mas, apesar de todos os desafios, tem avançado em algumas dimensões”, diz.
Ele cita como exemplos o programa WiFi Livre, que disponibiliza sinal de internet nas principais praças da cidade, o uso da tecnologia para otimizar a entrega da merenda escolar nas instituições municipais e a redução do tempo de abertura de uma empresa. “Nos últimos quatro anos, foi feito um esforço para que um conjunto de processos que até então eram bastante analógicos se tornassem digitais”, afirma.
Na opinião de Maruyama, outro passo importante na direção certa foi a criação das ciclofaixas, a partir de 2013. “Uma cidade inteligente faz com que a população se aproprie dos espaços públicos. As ciclofaixas alcançaram esse objetivo.”
Espaços para experimentação
Será preciso muito mais, porém, para acelerar o processo de transformação de São Paulo em uma cidade do futuro. O próximo passo, diz Muruyama, deveria ser a criação de espaços para gerar inovação. “Veja bem, as pessoas têm uma relação muito próxima com a cidade onde vivem e trabalham. E isso dá a São Paulo a oportunidade gigantesca de se tornar uma plataforma de testes”, afirma.
Um ponto de partida para tornar isso realidade foi a criação de um Sandbox Regulatório no estado de São Paulo, em outubro do ano passado. A nova regra permite a criação de ambientes onde as empresas podem testar novos produtos e serviços, sem as limitações impostas pelas regulamentações vigentes. “Isso elimina a burocracia e faz com que a cidade se torne um espaço de desenvolvimento tecnológico, onde empresas e poder público podem trabalhar juntos.”
Ele cita como exemplo o caso do Hospital das Clínicas, que está testando soluções 5G para a transformação digital de seus processos. “Essa solução poderia ser testada e adotada em toda a saúde pública, melhorando o atendimento da população. Com o sandbox, novas tecnologias baseadas em 5G podem chegar ao público muito rapidamente.”
Outra medida importante é fazer com que o processo de decisão de políticas públicas seja realizado com base em dados. “Precisamos coletar dados com qualidade e daí transformá-los em data sets que possam ser utilizados de forma aberta, para que todos tenham uma visão uníssona sobre essa malha de dados que a cidade gera. Para mim, a Cidade do Futuro é uma cidade baseada em bons dados.”
E quanto tempo vai demorar para que São Paulo chegue lá? “Eu acredito que vamos dar saltos qualitativos cada vez maiores. Mas, até implantarmos todas as soluções para uma cidade mais inteligente e mais humana, pode levar até duas décadas. Não é algo que se resolve rapidamente.”
Fonte: Época Negócios