Segundo relatório da JP. Morgan, mercado de tecnologia continuará enfrentando desafios em 2023
O ano de 2022 foi difícil para o Vale do Silício. Após viver um crescimento sólido por mais de uma década e uma aceleração extra promovida pela pandemia, as big techs enfrentaram um ano de crise. Segundo o índice Nasdaq, as grandes empresas do setor de tecnologia perderam um valor de mercado combinado de cerca de US$ 7,4 trilhões, devido às oscilações macroeconômicas, problemas globais na cadeia de suprimentos e queda nas receitas.
A empresa que teve o melhor desempenho no ano foi a Apple, com uma queda de apenas 18% nas ações. Meta, Amazon e Alphabet tiveram desempenhos muito piores, com a Meta caindo 64%, Amazon 45% e a Alphabet 34%.
Tanta instabilidade foi traduzida em demissões em massa. Dezenas de milhares de funcionários foram demitidos de empregos antes considerados seguros e bem remunerados. A Crunchbase estima que, desde o começo de 2022, cerca de 88 mil trabalhadores da indústria de tecnologia foram desligados.
A lista de cortes inclui as maiores empresas de tecnologia do mundo:
- Intel: 24 mil funcionários
- Meta: 11 mil funcionários
- Amazon: 10 mil funcionários
- HP: + de 6 mil funcionários (até 2025)
- Twitter: + de 3.750 funcionários
- Snap: 1.300 funcionários
- Coinbase: + de 1.100 funcionários
- Shopify: + de 1000 funcionários
- Microsoft: cerca de 1000 funcionários
- Lyft: 760 funcionários
- Netflix: 450 funcionários
- Apple: + de 100 funcionários.
Unicórnios
Os unicórnios não escaparam da crise. Segundo dados da CB Insights, as fintechs foram as startups mais atingidas – justamente o setor que ‘bombou’ em 2021. Naquele ano, o investimento em startups de tecnologia chegou a US$ 621 bilhões em todo o mundo. O número de unicórnios (empresas avaliadas em U$$ 1 bilhão ou mais) nascidos naquele ano também foi um recorde: 537.
Em 2022, à medida que o financiamento de risco foi diminuindo, menos seres míticos surgiram. O segundo trimestre do ano viu o nascimento de apenas 87 novos unicórnios, segundo a CB Insights.
A volatilidade nos mercados públicos, alimentada por um ambiente macro instável, também forçou as avaliações a se contraírem, fazendo algumas startups perderem quase metade do seu valor, como apontou um relatório do Pitchbook.
“Os valuations no nível unicórnio praticamente sumiram, em face do cenário econômico turbulento, inflação e juros em alta. No último trimestre, a média de rodadas ficou em comedidos US$ 71 milhões, uma queda de 29% em relação ao ainda aquecido primeiro trimestre de 22”, diz o documento.
A onda de demissões também atingiu os unicórnios. No Brasil, cerca de 3,9 mil profissionais foram demitidos de startups com esse status, segundo um levantamento do Estadão. Atualmente, o país conta 24 unicórnios.
O que esperar do mercado de tecnologia em 2023
De acordo com o relatório ‘The Future of Big Tech’, realizado pelo JP Morgan, 2023 ainda será um ano difícil para o mercado de tecnologia. “No geral, as big tech continuarão enfrentando muitos problemas, incluindo pressões da macroeconomia, aumento da concorrência, dificuldades na cadeia de suprimentos e estruturas de custos inchadas”, diz o documento.
No entanto, há um aspecto positivo nas projeções: as empresas agora estão repensando suas estratégias de negócios e isso pode abrir caminho para uma era mais sustentável para o setor.
“Em 2023, as principais oportunidades para as big techs incluem o dimensionamento correto das estruturas de custo por meio da redução do número de funcionários e de uma maior disciplina operacional. Deve haver um foco maior nos lucros e no fluxo de caixa, o que pode levar a um ganho de participação de mercado durante este período difícil”, explica Doug Anmuth, chefe da equipe de Internet do JP. Morgan nos EUA.
A análise do JP. Morgan também lista alguns movimentos que poderemos ver nas big techs em 2023. A Amazon, por exemplo, deve focar numa maior oferta de serviços, além da consolidação de seu serviço de computação em nuvem, a AWS, hoje líder do mercado global.
A Alphabet, dona do Google, deve diversificar seus fluxos de receita desenvolvendo negócios não publicitários, como o Google Cloud. Já a Meta, de Mark Zuckerberg, deve permanecer focada em seu novo mecanismo de descoberta de IA, ferramentas de anúncios e negócios e em sua transição para o metaverso.
“As expectativas tornaram-se mais razoáveis, e as empresas devem superar algumas das pressões sentidas em 2022″, conclui Anmuth.
Fonte: Época Negócios